Mistura

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Terceira Pessoa

Após um ano e seis meses de investigação, o caso do Ninho do Corvo estava oficialmente encerrado para a Central de Inteligência Americana de Virgínia.

O depoimento de Foster e as prisões realizadas durante o ataque geraram a queda oficial da facção criminosa. Ao todo, Oliver Donnavan testara cerca de quinze pessoas como "cobaia" durante aquele período, desde os inícios das pesquisas em relação ao protótipo. Além disso, suas acusações de assassinato – logicamente associadas aos capangas da facção – também beiravam perto do número vinte.

Na noite da morte de Irene, Foster vazara no sistema da CIA os dados da investigação que Mitch fez em relação à maternidade. Ele divulgara todos os dados que recolhera com a ajuda de Rapp em relação aos crimes de abandono e o envolvimento de Irene com Oliver cujo o relacionamento se estendera algumas semanas até que a Caduta del Grande começasse de fato. Antes que pudesse ser capturado, Foster explanou os crimes federais que a diretora cometera.

Lydia via Donnavan há bons metros de distância, embora ainda conseguisse se sentir estranhamente perto dele, ou ele dela. Era como que Foster fosse, oficialmente, mais um de seus fantasmas. Ele esteve de costas para ela durante todo o tempo, o que a transmitiu algum tipo de conforto.

Assim que o número cento e quinze, seguido da palavra anos saltou para fora da boca do juiz naquela tarde quente de Virgínia, Lydia se levantou do banco com um suspiro. Torturou-se ao passar os últimos quarenta minutos ali, sentada ao redor de desconhecidos enquanto era consumida pelas memórias de todas as cicatrizes que Foster ajudara Theo a deixar em sua alma.

Caminhou para a saída sem olhar para trás, dando a si mesma a certeza de que agora, definitivamente, aquela seria a última vez que estaria perto de Donnavan. Deixou o edifício e, ao pedir um táxi, murmurou o endereço ao motorista antes de afundar no estofado.

Apoiou a cabeça e fechou os olhos. A fachada do tribunal logo sumira de sua vista, mas as marcas de todos os últimos dias ainda ruíam com força dentro dela. Com um suspiro, puxou o celular do bolso. Levou-o a orelha após alguns segundos tocando na tela.

– Oi, Martin. – Atendeu Hurley.

Lydia surpreendeu-se em como a voz do agente lhe pareceu habitualmente macia e tranquila, mesmo quando ela sabia que ele também deveria estar abalado. A primeira coisa que o Hurley fez ao vê-la após a morte de Irene foi confessar que conhecia o passado da diretora com Oliver, mas nunca pode revelar aquele segredo.

Ela pigarreou por um momento, lançando os olhos para fora da janela do táxi.

– Oi. Você conseguiu o que precisávamos?

Um suspiro a atingiu do outro lado da linha. Ela quase podia o ver massageando as têmporas.

– Não se preocupe. – Ele confortou. – A pista foi discreta, conversei com o diretor que provavelmente assumirá o lugar de Irene e ele me disse que já enviou uma equipe para buscar o protótipo.

Lydia não conseguiu definir o que exatamente naquela frase fez um chicote bater em sua garganta.

– E as digitais?

– Eu limpei a esmeralda com amoníaco e álcool, não vão saber quem escondeu.

– Tudo bem, obrigada.

– Disponha, Martin.

Lydia preparou-se para desligar a chamada, sentindo que o minuto de silêncio de Hurley estava prometendo uma pergunta inevitável e previsível vinda dele. Uma pergunta que, apesar de necessária, faria um bolo de nervos torcer em seu estômago.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora