Irradiou

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Terceira Pessoa

Mitch girava na cadeira macia em frente ao notebook, encarando a porta fechada do apartamento de Lydia enquanto bufava e os olhos ora ou outra desviavam para o teto, achando a coloração branca muito mais interessante do que o próprio trabalho. Entediado, ele pescou o celular – dele próprio – que tinha ao lado do computador, a procura de algo que pudesse distraí-lo.

Quando os olhos bateram no horário brilhando na tela de bloqueio, ele xingou baixinho:

– Merda...

Ele esfregou os olhos quase com raiva, diminuiu a claridade do telefone tentando se adaptar no apartamento escuro. Tentado a caminhar para o sofá e dormir, se levantou, fuçando nas mensagens que havia recebido de Allison. Bocejou enquanto apreciava os músculos das pernas sendo esticados.

Seus olhos curiosos percorreram a mensagem da mulher.

"Enviei alguns dados da investigação sobre a Espanha para seu e-mail, caso ainda o interesse. Se cuide, Rapp."

O homem apertou o telefone contra a mão, a raiva nas veias esquentando as orelhas. Desejou lançar o aparelho contra a parede, mas se conteve ao jogá-lo no sofá e caminhar de volta para a cadeira, sentando com uma nova frustração martelando as têmporas.

Tentar esquecer que havia sido estúpido, como ele mesmo intitulava, ao investigar a morte da ex-noiva estava começando a se tornar um fardo assombroso para Mitch. Assim que constatou que não valeria a pena cutucar suas férias do passado, esforçou-se para deletar o caso dos arquivos da CIA, do seu histórico como agente, mas Irene o impediu.

A diretora alegou que manter a investigação seria melhor, considerando que terroristas sempre foram assuntos de interesse do Governo Americano. Incapaz de contra argumentar com a chefe, Rapp passou o caso para Allison. Embora isso pudesse tê-lo ajudado, saber que ainda futricavam naquele dia caótico na praia da Espanha ainda fazia seu estômago embrulhar.

Além disso, precisava se concentrar em proteger Lydia e controlar os instintos que percorriam nas veias quando estava com ela, afinal, ele sabia que sua vizinha andara despertando seus hormônios.

Embora reconhecesse que esse não fosse seu maior problema. Para ele, precisar fingir o tempo inteiro começava a se tornar uma necessidade torturante.

"Estude-a, assim como Amber fez. Lydia é uma mulher tranquila, tire proveito disso." As palavras de Irene lhe acenderam os pensamentos, fazendo-o passar uma mão pelo cabelo bem cortado entre um suspiro aflito.

Ele se questionava se no fundo, Irene não mantinha algum peso na própria consciência por precisar ser tão fria e calculista de uma maneira que ele nunca foi.

Enquanto encarava a porta do apartamento imóvel, verificou o celular da CIA, certificando-se de que a Martin não recebia nenhuma mensagem em seu aparelho hackeado. Além disso, conferiu a escuta, satisfeito pelo silêncio confortante no apartamento.

Ainda com o celular do trabalho, entrou no Instagram e procurou pelas atualizações de Lydia, vendo que seu último stories era uma foto de duas horas antes. Suas pernas pálidas estavam escondidas por uma coberta listrada que a cobria, e ao fundo, sua televisão exibia um filme do que pareceu ação para Mitch graças a exibição de armas.

Ele clicou em respondê-la, e sem conseguir negar para si mesmo que estava nervoso, digitou:

"O quê aconteceu com seu clichê barato em um cruzeiro trágico em alto mar?"

Entediado, tornou a girar na cadeira, torcendo para que as horas passassem rápido.

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