Pavor

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Terceira Pessoa

Mitch encarava a rua movimentada da grande Nova Iorque sentado ao lado de fora da pequena padaria, consumido pelos pensamentos traiçoeiros. Desde que havia visto o suposto Josh Dunn entrando no apartamento de Lydia, a madrugada da noite anterior, sua cabeça estava sendo açoitada por atordoantes pensamentos.

Ainda que a frustração profissional o consumisse, Rapp sabia que boa parte de seus tormentos estavam envoltos a sensação desgastante que corroía o estômago. Assim que Lydia recebeu o loiro com um beijo ardente antes de fechar a porta, Mitch precisou se desconectar do quanto a cabeça fervia até contatar a CIA para que ficassem à espreita com ele.

Acionou a escuta que estava conectada no apartamento da Martin uma única vez para descobrir se conversavam alguma coisa, mas ouvir sussurros abafados em meio a baixos gemidos se afastando pela sala foi o suficiente para que desligasse, incapaz de violar a privacidade de Lydia assim como toda a CIA.

Desde que soube da existência de Lydia quando começaram a investigá-la, Mitch nunca cogitou nenhum envolvimento com a ruiva. Mesmo depois que descobriu que precisaria protegê-la e adquirir sua confiança para que a missão fosse bem sucedida. Entretanto, depois de tantos dias negando para si mesmo que não poderia a querer – e nem deveria –, era como se seus sentidos estivessem começando a se apagarem com os alertas inúteis.

Ao ver Sophie se aproximando, relaxou na cadeira. Ele engoliu seco ao ver a subchefe sentar de frente para ele, retirando os óculos escuros e os guardando na bolsa que trazia ao ombro. O rosto sério, após um suspiro cansado, bateu nos olhos vulneráveis de Mitch, embora o corpo do agente permanecesse arqueado e atento.

– Achei que tinha sido clara sobre como você deveria agir, Rapp.

Rapp debochou com um sopro áspero que escapou da boca enquanto os olhos desviavam. A mulher batucou alguns dedos no colo, ansiosa e avaliadora.

– Você queria que eu fizesse o que? – Raiva encandeceu seus olhos castanhos, e Mitch apertou as mãos em punho. – A agarrasse? Roubasse um beijo? Comprasse um anel e me ajoelhasse na frente dela?

Sophie pigarreou, ainda em silêncio.

– Mesmo com toda a nossa tecnologia eu ainda não posso ler mentes.

White não se abateu diante do sarcasmo e o rosto rígido do agente, desviando os olhos para a rua em silêncio. Conteve o impulso momentâneo de mandá-lo se calar, se convencendo de que ele estava uma pilha de nervos por conta do cansaço.

– Só precisava fingir que estava atraído por ela e...

– Ainda estou fingindo. – Mitch respondeu duro, a cortando, e uma de suas sobrancelhas subiu com rancor. – Se não estivesse, teria contado a verdade muito antes.

Sophie se aproximou ao unir as mãos em frente ao tronco, na mesa.

– Vocês estão me mandando atraí-la sem o menor escrúpulo enquanto a investigamos. Não pode me culpar se ela não sabe da verdade e quer dormir com quem se aproxima dela.

Mitch passou uma língua aflita pela boca, suspirando nervoso. Odiou que precisasse saber que Lydia estava se envolvendo com alguém quando no dia do encontro ao restaurante japonês – arquitetado pela CIA – Rapp acreditou que estivessem se aproximando como precisava.

Sabia que não o pediriam para dormir com ela, entretanto, saber que Lydia se aventurava com Josh – um suposto criminoso – gerou uma perturbação imatura e raivosa em seus neurônios. Rapp apertou os punhos e conteve a vontade de esmurrar a tela do computador naquela noite.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora