Ladra

75 7 0
                                    

Terceira Pessoa

Mitch andava de um lado para o outro em passos aflitos, as mãos formigando enquanto passavam pelo cabelo penteado. Foster e outros três agentes verificavam as imagens do prédio em um trabalho silencioso, procurando por alguma informação útil. A corrente de ansiedade que subia e descia pelos músculos rígidos de Rapp tornavam seu corpo espesso diante da sala espaçosa, repleta de visores acessos.

Ele bufou, aproximou-se com urgência de Foster que tinha um fone conectado a um microfone que descia pelo maxilar, encarando com atenção a tela do computador mais próximo.

– E se a pegaram? – Allison perguntou, de braços cruzados, escorada na mesa de vidro do centro da sala azulada.

Os olhos de Mitch voltaram-se para ela com algum susto, mas ele não pode falar. Foster quem respondeu, baixinho:

– Então estamos fodidos.

Acelerando as imagens da câmera de segurança do corredor, procurava pela figura da Martin em meio às filmagens.

– Porra... – Rapp apoiou uma mão na mesa, encarando o visor junto com Donnavan, os dedos ansiosos batucando na superfície. – Ela não deve ter ido longe.

A porta enorme irrompeu, atraindo os olhares de Argent e Rapp que enxergaram o semblante rígido de Irene cruzar a sala. Atrás dela, Sophie se aproximou do grupo de técnicos em informática e espionagem, ajudando a verificar os visores sem sequer pedir por uma orientação.

Mitch inspecionou a diretora com o olhar, impaciente e indiferente diante da aura de raiva que irradiava dela.

– Como Lydia pode ter fugido de uma sede deste tamanho? – Perguntou, a voz incrédula e ríspida. A mulher arqueou as sobrancelhas que se esconderam na franja reta e escura, cobrando os agentes com o olhar acusador. – Me expliquem.

– A pegaram. – Allison disse.

– Isso não aconteceu.

Argent encarou Mitch, irritada com a certeza na voz firme do homem que não a olhou, concentrado no visor.

– Ah é? – Allison, com estresse, se desencostou da mesa. – E como você sabe? Ela está lá fora agora, longe de nossa visão. Não sabemos o que aconteceu aqui dentro.

– Lydia fugiu. – Ele desencostou da mesa e virou de frente, encarando a mulher que se resetou com sua entonação grave e rígida. Olhou para a diretora e algum brilho negro de diversão iluminou seus olhos preocupados. – Lydia escapou de sua poderosa Central de Inteligência Americana, Kennedy. – Algo dentro dele se corrompeu de satisfação. – E espero que saiba o que estava fazendo para poder calar a sua boca um pouco, Allison.

Argent semicerrou os olhos, os lábios em choque com a grosseria enrustida na resposta seca e vazia dele.

– Você é estúpido se acha que isso não significa mais do que imaginamos. – Esbravejou baixo. – O que garante que ela não passará para o lado do ex-namorado, os ajudará e foderá com as poucas informações que temos?

Mitch riu baixinho, amargo, e voltou-se para Foster de vez, ignorando a mulher que ainda acreditava cegamente na possibilidade. Os olhos castanhos do agente encararam a tela e ao repararem em um vulto no visor acelerado, disse:

– Espera. Ali. – Pediu e apontou o dedo. Foster congelou a imagem. – Aproxima.

A gravação se reduziu a uma figura que mesmo de cabeça abaixada, havia atravessado a única porta do quarto onde Lydia ficava, denunciando que só poderia ser ela. Usava um sobretudo preto, com botões finos.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora