Mira fria

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Terceira Pessoa

A enorme suíte em tons dourados era repleta de pontos de luzes amarelos. As paredes altas e beges só não eram tão destacadas quanto as janelas do chão ao teto que brilhavam contra as luzes de Manhattan do lado de fora. Os olhos verdes correram com desgostos pela enorme cama king size, posicionada em frente a um amplo conjunto de espelho em bordas douradas.

A agente arrancou os saltos dos pés, quase gemendo de alívio ao pisar descalça no piso. Observou Rio caminhar pela suíte enquanto mexia nas mangas da camisa. Ela o viu pousar um relógio de ouro em uma cômoda escura e brilhosa, olhando pela janela por mais um momento.

Vendo-o distraído, ela levou uma mão a orelha e cochichou:

– A suíte do final do corredor.

Ajeitou o cabelo ruivo para afastar suspeitas e engoliu por um momento. Aproximou-se, parando ao lado de uma poltrona de couro semelhante ao do andar de baixo. O cheiro de álcool e nicotina atravessou suas narinas. Formigou no silêncio do cômodo, esperando por uma iniciativa dele.

Ele deu uma respirada cansada.

– Como você se chama? – Perguntou Rio.

– April.

– April. – Brincou com o nome, malicioso.

A olhou por cima do ombro, estudou as curvas do corpo no vestido vermelho sem pressa, cravando adrenalina em cada músculo de Lydia.

Ela lançou o cabelo ruivo e grande para as costas enquanto sustentava os vivos olhos castanhos. Exibiu o decote cheio sem receio, dando passos para perto da cama. Rio aprovou a ousadia, mas existia uma energia distante nele, o que a deixou em alerta.

– Você faz de tudo?

– Você pagará sete mil por essa noite, acha que não faço? – Provocou ela.

Martin sentou na cama macia e cruzou as pernas, pousando uma mão no alto da coxa. Ela ajeitou o tecido, puxando-o um pouco mais para baixo.

Rio a encarou sem a menor timidez, atravessando cada camada de roupa que podia cobri-la. Lydia sentiu-se idiota por achá-lo bonito.

– Me diga, April... – Começou ele, arranhando a garganta. Ela apertou os dentes com o momento de distração dele. – Quem é seu cafetão?

Lydia piscou.

Lutou contra o repentino acesso de desespero que afundou na boca do estômago. Drenou as emoções que eclodiam e mascarou o próprio rosto, arqueando o queixo com um suspirar cansado. Rio ainda estava olhando para ela.

A cabeça de Lydia foi de um até um milhão em apenas dez segundos de silêncio.

– O mesmo de todas as outras, David.

– Existem outros.

– Por quê você está questionando? – Ela levantou uma sobrancelha, embora sua voz ainda fosse macia. Ignorou a ameaça latente nos olhos dele. – Você sabe que as meninas de David ficam naquele lado da boate.

Rio ficou quieto, sustentando os olhos verdes nos seus. Martin se convenceu de que iria calar a inquietação dele com aquela questão. Ele voltou para a frente e afrouxou um botão da camisa, perto do pescoço.

– Estou curioso. – Disse ele. – Você é bonita para uma puta, April.

– É por isso que sou boa no emprego.

Rio assentiu vagaroso e olhou pela janela. Martin aproveitou para estudar o corpo magro e ao mesmo tempo esguio, procurando por um ponto fraco em evidência. Um instante de silêncio aterrador domou o cômodo.

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