Lampejo de horror

83 8 1
                                    

Mitch Rapp

Voltei até o carro estacionado com uma cerveja, um copo de café e algumas balas de troco. O vento frio soprou na rua coberta por folhas secas enquanto eu entrava na Mercedes preta. Passeei meus olhos mais uma vez através do para-brisa enquanto pousava no banco de couro.

Aquela região de Virgínia era residencial demais para o meu gosto. Estávamos nos arredores da cidade, parados em um bairro com casas bonitas em cor bege e gramados bem cuidados. Infelizmente, a rua era mais quieta e tediosa do que eu podia esperar. Estávamos plantados aqui há pouco mais de uma hora e até agora a única movimentação que vimos – e nada suspeita – foi uma jovem empurrando um carinho de bebê.

Irene tinha nos mandado para uma missão bônus e sem grande importância depois do interrogatório com Lorenzo. Eu tinha recebido um e-mail com os dados importantes da vigia, mas estava desinteressado pra caralho, o que resultou em uma breve olhada na foto e nome de quem procurávamos com suspeita de assassinatos em série.

O FBI sempre estava à frente desses casos, mas por alguma razão a CIA aceitou a oferta do Estado e Kennedy nos empurrou essa investigação. Já lidamos com possíveis assassinos outras vezes, mas sempre raro já que o foco da agência ers outro. Eu, em particular, estava achando um porre. Sempre preferi a emoção de segurar uma arma ou me infiltrar em algum lugar.

Estendi o copo de café que Lydia pediu. Ela me deu um sorriso grato ao agarrá-lo, dando um longo gole na bebida enquanto os olhos estavam concentrados no celular – provavelmente no e-mail de Irene –.

Lydia estava mais quieta do que o normal desde que tínhamos saído da prisão emergencial da CIA. O lugar era um cafofo aterrorizante até para mim que já estava acostumado a pôr os pés lá ora ou outra, mas Martin parecia ter visto um fantasma quando saiu da cela horas atrás.

Eu sabia que ela podia lidar com Lorenzo e mesmo sem saber porque Irene tinha permitido que Lydia tentasse o interrogar, provavelmente Sophie tinha incentivado a decisão, o que me fazia orgulhoso junto com minha subchefe. Nós sabíamos que Lydia tinha um potencial bom desde que partiu, mas ela já estava superando nossas expectativas. A ruiva diante dos meus olhos era astuta pra cacete e eu gostava muito disso nela, mas eu também sabia que ela provavelmente estava assustada.

Ainda era tudo novo na prática e a maioria de nós sente isso na pele quando sai da Resguarda. E eu também não acreditei por completo que ela pudesse lidar totalmente com tudo que ainda dizia respeito a Theo. Eu a vi chorando por ele por dias à fio enquanto esteve na CIA, e não existia dúvida em mim que ela ainda carregava pedaços afiados de seu coração partido todas as vezes que precisava sequer ouvir falar dele.

Eu me preocupava com ela, mas sabia que essa posição não era minha para ser totalmente revelada. Precisava fingir que pelo menos emocionalmente ela não me afetava tanto, ainda que fosse mentira. Dei um gole em minha cerveja enquanto a espiava.

O cabelo antes solto agora estava preso no alto da cabeça em um coque macio. Seu pescoço pálido estava exposto, brilhante e liso como porcelana, formigando meus dedos e língua. Estar perto dela desde que eu tinha a masturbado era uma tarefa difícil para o meu pau.

Os últimos meses com Martin foram relativamente fáceis, quando ela ainda era uma civil indefesa que estava coagida pela CIA. Agora, todas as vezes que eu olhava em seus olhos e enxergava a agente promissora que ela tinha se tornado, algo mais feroz do que qualquer sentimento que eu dia já tive por ela arrepiava minha pele.

Eu ainda estava atraído pra cacete, por tudo dela, mas segurei bem a onda nos primeiros dias que ela chegou. Ainda que vê-la com Foster pinicasse meu couro cabeludo mesmo que eu lutasse contra o instinto ou tentasse o soprar para longe, ou simplesmente tê-la em cima de mim naquela maldita missão em Manhattan tivesse sido insano o suficiente para o meu corpo, eu ainda estava controlado.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora