Centelha

42 4 0
                                    

Lydia Martin

Uma chama.

Todas as vezes que eu pensava em nós dois, eu me lembrava de uma chama. Ela era pequena, estreita, mas se olhasse diretamente para ela, conseguia ser tão forte que poderia cegar olhos humanos.

A definição da chama era intensa. Nós dois éramos intensos.

Enquanto eu olhava para ele, eu senti as labaredas da chama contra meus dedos, ameaçando queimar a esmeralda em minha mão. Algo também estava queimando e devastando dentro de mim, por todos os lados, me tornando uma poça estúpida de lágrimas.

Ainda estávamos em silêncio, minha sugestão dolorida rondando pelo ar, parecendo ser absorvida por Mitch. Se nós realmente fôssemos uma fonte de calor, aquele era o momento em que a água estava nos atingindo e apagando tudo.

E eu já sabia, há muito tempo, que nós não podíamos existir apagados.

Existiam mil e um estilhaços em minha garganta quando eu a engoli, tentando respirar, meus dedos suando contra a faca em minha mão. Seus olhos estavam me matando a cada novo piscar.

Deus... eu estou ficando louca.

– Lydia. – Testou ele, erguendo as mãos na altura da cintura em um sinal silencioso de "fique calma".

Até aquele gesto pareceu apunhalar meu estômago. Aqueles dedos... eles estavam em cima de mim mais cedo, dentro de mim, no meu coração... Ele esteve por todos os lados, direções, por cada milímetro de minha alma, e agora cada pedaço desse estava se desintegrando em pó.

Eu travei minha mandíbula, apertando a maldita esmeralda. E se essa merda nem fosse o protótipo?

Mitch experimentou um passo lento em minha direção, o semblante quase assustado, mas meu corpo deslizou para o modo instintivo. Ele havia acabado de me dizer que meus impulsos eram de sobrevivência, mas o que me fez arredar dois novos passos, contornando a cama e a colocando entre nós, foi a tentativa de salvar meu coração.

Ele estava de baixo de minhas unhas, chorando, se debatendo, com tanto medo que precisava de mais oxigênio do que eu. Eu provavelmente estava sem respirar desde aquela conversa começou.

Mais dor escureceu nos olhos dele. Uma pontada de culpa me atravessou, mas ela foi subterrada por tantos outros sentimentos que eu não conseguia separá-los e defini-los. Ele ainda estava com as mãos erguidas quando outra vez, sua voz chamou por mim.

– Lydia.

– Eu só te fiz uma pergunta.

Ele franziu o cenho, seus olhos estreitaram e correram meu corpo enquanto ele pensava. Pensava em quê? Formular uma mentira?

Eu não era estúpida. Porra, eu era a merda de uma agente da CIA!

Por que ele queria tirar o protótipo da minha mão? Por que parecia tão importante entregar essa merda para Irene quando nós dois sabíamos que a vida de Foster estava naquele exato momento entre meus dedos.

Eu não podia ser responsável por mais sangue. Eu odiava que esse pensamento fosse egoísta e impulsivo, mas isso era tudo que eu tinha me tornado depois de tanta dor nos últimos tempos. Eu era essa merda agora, e tinha provado isso minutos antes quando pedi para que ele me fodesse simplesmente porquê precisava esquecer que alguém estava gritando e sangrando por minha culpa como um dia mamãe e Katherine fizeram.

O abismo conturbado em minha cabeça subiu lágrimas em meus olhos, mas eu as forcei para dentro outra vez. Segurei a faca com força, mesmo quando não sabia se poderia usá-la contra ele. Eu não me imaginava machucando-o, nem se precisasse, e eu sabia que isso era estúpido e ingênuo e pessoal.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora