Terceira Pessoa
Mitch gargalhou baixinho, apertando os lábios em uma linha firme na tentativa de conter o acesso de humor quando olhos estreitos de raiva caíram nele.
– Eu estou destreinado. – Murmurou o McCall, voltando a olhar para a frente. Segurou com mais firmeza o rifle nas mãos e se concentrou nos copos empilhados em frente, tentando manter os dedos estáveis.
– Uma vez você me disse que nunca enferrujaria.
– Ah, cale a boca. – Gemeu ele, revirando os olhos.
Mitch tornou a rir, cruzando os braços e observando o amigo reajustar a mira da arma em seu rosto e se preparar para um tiro. As escoriações cicatrizadas nas bochechas do McCall, seus ombros sutilmente mais arqueados e a pele um pouco mais corada fazia Rapp soltar um novo sorriso a cada minuto que seguia.
Além disso, Scott já parecia visivelmente mais com ele mesmo do passado. Seus cabelos escuros e antes em um topete cresceram surpreendente bem desde que havia sido resgatado semanas antes e, agora, Scott o mantinha raspado dos lados, a frente marcada por ondas suaves dos fios castanhos.
Ele ainda enfrentava os efeitos da dificuldade de ganhar peso, sentir-se mais disposto, porém o efeito do pó de ópio no organismo – como os agentes haviam ouvido de Theo ser eficiente – estava sendo revolucionário no estado do agente ferido mesmo em apenas dois dias.
Aquela era a primeira vez que ele desfrutava de um momento diferente do que estar em um quarto branco de hospital ou dentro de um apartamento seguro, protegido pela CIA. Scott sempre gostara de parques de diversões e, quando recebeu o convite de Mitch, não relutou em aceitá-lo. Estava em constante vigilância, preparados para acionarem a CIA a qualquer momento e também atentos a movimentações suspeitas ao redor, mas, ainda assim, se permitiram um momento de distração.
Antes que pudesse atirar, o copo que Scott estava prestes a supostamente acertar pipocou no ar com um rodopio. Ele franziu o cenho com desgosto e olhou para o lado, mas seus traços de estresse evaporaram quando ao abaixar a cabeça, encontrou um garoto que só alcançava – no máximo – sua cintura. Ele segurava uma pistola de pressão ao invés de um rifle.
A cabeça loira com cabelos bagunçados e infantis voltou-se para ele.
– Uma criança, McCall.
O agente bufou, olhando para Mitch com um semblante tedioso. Ignorou o sorriso vitorioso no rosto do amigo e se concentrou outra vez no garotinho, atingido pela energia contida na voz que vibrou.
– Você viu meu tiro?!
McCall pode jurar que as pupilas do garoto estavam brilhando e se expandindo tanto que iriam dominassem suas íris. Ele sorriu, assentindo.
– Eu vi sim, foi um tiro e tanto.
– Meu pai quem me ensinou!
– Parabéns, ele fez um bom trabalho. – O agente sorriu, aumentando o sorriso do garoto. – Você é novo para gostar de armas, tome cuidado com elas, tudo bem?
– Deixe o menino, papai McCall.
Mitch se aproximou com um sorriso caloroso, atraindo a atenção dos dois. O garotinho riu com os dentes pequenos e brancos enquanto Scott bufava.
– Não dê bola a esse bundão, volte a atirar comigo. – Cochichou Scott, inclinando-se em direção ao garoto.
– Pare de falar mal de mim. – Rapp exigiu com um murmúrio, escorando o braço na bancada de tiro.
Scott olhou para ele com um sorriso provocador, mas tornou-se sério para responder.
– Só estou conversando com ele. – Justificou, dando de ombros.
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Crow's Flight
Mystery / ThrillerApós o término do namoro, Lydia Martin segue uma rotina monótona e apesar de todas as tentativas, não consegue esquecer o ex. Suas maiores preocupações eram reatar com Henry e recuperar as notas da faculdade, até que sua vida é desestruturada com a...