Luz no fim do túnel

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Lydia Martin

Cento e cinquenta e um dias e Virgínia ainda tinha aquele mesmo tom cinzento e marrom que eu havia conhecido quando estive aqui a última vez. As árvores carentes de folhas verdes na paisagem faziam-me pensar o quão duro aquele inverno vinha sendo.

Eu olhava distraída para a fora da janela do carro, absorvida no silêncio e em cada emoção que drenava meu corpo. Os últimos meses tinham sido insanos, bizarramente insanos. Mal podia acreditar que estava voltando para a CIA e ainda por cima tendo Irene – um corpo atrofiado de sentimentos – como minha chefe.

Meus meses na Resguarda passaram mais rápido do que eu podia imaginar. A rotina insana de treinos, as novas histórias de vida que conheci por lá, toda a ausência do mundo que existia fora daquela floresta escura e aquelas salas de treinamento me fizeram esquecer tudo que agora despencava em minha cabeça.

Eu estava sozinha agora, em meu mundo pessoal, em meus problemas, dentro de minha cabeça. Katherine e mamãe não poderiam mais me lançar uma palavra acolhedora, ou acariciar meus cabelos – tão vermelhos quanto os delas –, ou me ligarem de noite perguntando como andavam meus estudos.

Precisaria me virar agora, mais do que nunca precisei. Essa realidade definhou em meus pensamentos nos primeiros dias de treinamento e parte dela ainda devorava meu coração que eu acreditava já não poder ser curado, mas eu havia aprendido a aceitar.

Cada lágrima que derrubei nos últimos meses era mais completa de uma verdade crua. Sentia-me sozinha, vazia, quebrada e as queria comigo, ainda as fantasiava em nossos almoços de domingo quando eu era adolescente como se elas ainda pudessem voltar para mim. Mas eu não podia impedir que minha dor, minha saudade, e qualquer outro sentimento me parasse.

Katherine e mamãe eram como uma ferida incurável, mas coberta. E eu não a cutucava, não mexia nela, eu me esforçava para fingir que ela sequer existia. Enquanto me esforçava para evitar lágrimas e holocausto, cada dia que me levantava da cama sentia-me mais distante de todo o sofrimento.

Remediar tinha se tornado o melhor remédio. Apesar de que eu sabia que no fundo, minhas emoções explosivas e aflitas estavam começando a se tornarem melancólicas e permanentes. Eu estava superando. Acreditava que nunca pudesse se tornar fácil esquecê-las ou aceitar o que tinha acontecido, mas eu finalmente começava a ver uma luz no fim do túnel. Uma pequena luz para meu espírito moído e solitário.

Algo se remexeu em meu íntimo, agitando meu sangue, e meus olhos drenaram lágrimas rasas e repletas de saudade. Não me esforcei para limpá-las. Suguei minha atenção da paisagem, pescando a pasta preta que ganhei de Hurley da bolsa. Tirei uma mecha de cabelo dos olhos, contente por finalmente tê-los grandes outra vez.

Encarei o couro preto por um instante, sentindo a textura contra meus dedos, e fui invadida por uma onda de vapor quando li, no topo da pasta, as letras contra um fundo branco, dedicando: "Agente Martin".

Minha pasta. Não pude evitar sorrir, pensando em tudo que Hurley fez por mim nos últimos meses, como foi meu bote salva vidas em momentos de tanta frustração e exaustão, o quão grande – apesar de gélido em momentos ideais – o coração de Stan podia ser. Lancei um olhar para Taylor, vendo-o focado no trânsito.

– Estamos muito longe, Jones? – Perguntei a ele.

Taylor se remexeu no banco, aquele poderoso colo musculoso se arqueando sutilmente. Olhou-me pelo retrovisor, dizendo:

– Pouco mais de meia hora, Agente Martin.

Verifiquei o relógio de pulso, calculando que ainda tinha alguns minutos livres para poder chegar a tempo e fazer minha credencial oficial com Irene. Borboletas medrosas se acolheram em meu estômago. Eu definitivamente não sabia o que esperar daquele encontro.

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