Sussurro

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Mitch Rapp

Faziam cinco dias inteiros que Lydia estava lá fora, sumida de minha vista e qualquer conexão possível com a CIA. Nossos agentes espalhados nos cinco destinos possíveis no qual Foster havia indicado a procuravam avidamente, mas Martin já estava prestes a ser dada como morta, o que fazia meu coração arder em brasa.

Eu não conseguia imaginá-la congelada no chão, desovada em alguma floresta, ou picotada no porta-malas de algum carro. Qualquer uma das possibilidades me assombrava como o inferno para um pecador. Eu não dormia uma noite inteira desde que ela desapareceu, não conseguia descansar com a ideia de imaginá-la lá fora, desprotegida e exposta para o filho da puta do ex-namorado.

Queria tanto que estivesse aqui, que tivesse conversado comigo antes de simplesmente ter ido embora... Eu teria a ajudado. Teria movido o céu e a terra só para que ficasse à vontade e protegida. Apesar de surpreso com a pilha de nervos que Sophie andava nos últimos dias por conta do desaparecimento de Lydia, eu a compreendia.

Eu também me importava com ela. Meu instinto profissional estava esmagado com o fracasso e no fundo, em meu peito, receio queimava, cavando fundo em meus pensamentos. Eu me preocupava com ela. Para caralho.

Desde que havia sido designado para a missão, desde que botei meus olhos nela pela primeira vez, precisando estudá-la para que confiasse em Bruce, eu sabia que estava correndo risco. Não poderia me envolver mais do que o necessário, precisava estar focado no que era meu dever. Mas Lydia era perigosamente fascinante. Não só como mulher, mas pessoa. E isso é a porra do meu problema, sempre foi.

No dia em que Josh disparou contra o apartamento, eu a senti tremer contra meu corpo enquanto estávamos no chão. Toda a sua pele arrepiou com agonia e medo. Eu não conseguia imaginar como ela se sentiria ao confrontar de novo esses sentimentos longe de mim ou de qualquer um dessa unidade.

Encarei a papelada, despencando na cadeira macia enquanto bufava. Minhas pernas não suportavam mais a ideia de estarem esticadas na sala azulada e fria. Já tinha visto e revisto a curta rota que Foster tinha disponibilizado para nós milhares de vezes, cogitando para onde ela poderia ter ido depois de Potomac, mas eu não tinha essa reposta.

Lydia era surpreendentemente imprevisível e esperta para caralho. Em meus três anos como agente, nunca alguém – uma vítima protegida pela unidade – conseguiu sumir de nossa vista por tanto tempo. Eu só torcia para que isso significasse que ela estava sumida, e não morta em algum canto.

Pedi permissão para Irene para procurá-la pessoalmente, para que me mandasse em qualquer grupo de agentes que estavam inspecionando as direções, mas minha diretora negou. Eu não deveria estar surpreso. Como se não bastasse nossas desavenças bizarras e maternais, ela estava ainda mais gélida comigo desde que me acusou de "gostar" de Lydia no dia em que despejou a morte da mãe e da irmã como se não fosse nada.

Porra, como aquelas palavras vazias de emoção e carinho me apunhalaram... Só não foram piores do que o momento em que eu tentei tocá-la e ela me olhou no fundo dos olhos, com lágrimas prestes a despencarem pelo rosto dolorido, e correu para a porta.

Ah, Lydia...

Me remexi na cadeira, desconfortável dentro de meu próprio corpo, e pesquei meu celular procurando por alguma mensagem. Estava distraído quando Foster abriu a porta de minha sala sem cerimônias e entrou ansioso, jogando uma nova pasta em cima da mesa de vidro.

Merda, eu não aguento mais ver papéis... Estou exausto.

– Consegui uma coisa, e quero a sua ajuda. Nada de Sophie ou Allison agora.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora