Terceira Pessoa
Lydia coçou umas das sobrancelhas, perambulando os olhos pela pequena janela do quarto, encarando as árvores que via. Ansiedade corroeu as veias. O telefone na orelha tremia entre seus dedos que se esforçavam para mantê-los no ouvido. Ela respirou fundo, escutando o outro lado da linha anunciar um toque.
– Lydia?!
A ruiva foi invadida por uma onda de alívio aquecido, soprando ar.
– Kathe... – Engoliu seco, caminhando pelo quarto. Prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha, admirando o silêncio da irmã, lembrando-se de como era abraçá-la. – Como você está?
A mulher do outro lado da linha grunhiu em decepção.
– Como você está? – Questionou ansiosa. – Você sumiu por cinco dias! Estou preocupada, Lydia...
– Eu sei, eu sei... – Fechou os olhos enquanto os neurônios fritavam. – Estive... ocupada. – Martin caminhou até a cama, sentando-se.
– Com o quê?!
– Provas finais.
Katherine suspirou, comprando a mentira da ruiva que lambeu a própria boca, ansiosa.
– Certo...
– Como vocês estão? – Lydia perguntou, encarando as mãos no colo.
– Bem, estamos bem.
– Ótimo. – Lydia se confortou na pequena pausa que estendeu pelo telefone, decifrando as perguntas silenciosas que sabia que a irmã ainda desejava fazer.
Ela encarou os olhos castanhos e suas bochechas arderam em receio quando Mitch assentiu para ela, a motivando. Escorado na parede com as mãos nos bolsos da calça preta, ele parecia relaxado, o que fervia o sangue de Lydia com raiva e alguma revolta.
Martin se levantou de rompante, aproximando-se da janela do quarto com a repentina inquietude.
– Katherine... – Lydia alisou as têmporas, contendo o bolo que subiu na garganta fechada. – Caso alguém a procure, qualquer pessoa, principalmente... – Ela travou quando o nome "Theo" quase pulou da boca. – Henry, preciso que me avise. E não fale nada de mim, em hipótese alguma.
– O quê? – Martin podia enxergar a irmã se arqueando enquanto as orelhas formigavam contra o telefone. – Como assim, Lydia? Acha que ele procurará você por nós ou... E por que não posso falar de você? Está em Nova Iorque, certo?
A ruiva se alarmou com todas as perguntas, voltando-se para Mitch com urgência. Não sabia mais o que fazer e cogitou desligar o telefone, mas ele continuou com o semblante impassível e relaxado.
– Continue. – Instruiu baixinho. – Como combinamos.
Lydia negou com a cabeça, as sobrancelhas se dobrando com alguma angústia e confusão. Rapp suspirou, sussurrando:
– Relaxe. Você consegue.
– Lydia, onde você está? – Katherine tornou a perguntar, aflita.
A língua de Martin tremeu. Os olhos castanhos em seu rosto a asseguraram, dando-a tempo para pensar em uma resposta plausível. Deixou a irmã esperando por alguns instantes, encarando Mitch, sendo dominada por todos os sentimentos que ele despertava nela.
– Só confie em mim. Ao menos uma vez. – Pediu, e agradeceu por sua voz soar estável com algum fio de severidade. Katherine se calou. – Estou indo para Chicago, casa de uma amiga. – Mentiu sob os olhos de Mitch. – Se Henry perguntar por mim, me avise, e apenas diga que estou... tirando um tempo para mim e você não sabe onde.
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Crow's Flight
Mystery / ThrillerApós o término do namoro, Lydia Martin segue uma rotina monótona e apesar de todas as tentativas, não consegue esquecer o ex. Suas maiores preocupações eram reatar com Henry e recuperar as notas da faculdade, até que sua vida é desestruturada com a...