Ratoeira

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Terceira Pessoa

Mitch atravessou a porta da enorme sala de Irene em passos largos, direcionando-se aflito ao grupo de agentes que se encaravam com olhares ansiosos. A diretora, impassível e emoldurada em uma paciência austera, inspirava o ar rarefeito com ira escapando como ondas da pele negra.

Ela bateu os olhos urgentes em Rapp que ignorou, acostumado com a súbita cobrança lançada em sua direção. Foster, acompanhado de outros quatro técnicos de informática, mexiam em notebooks e conversavam entre si enquanto outras equipes se concentravam em salas próximas.

Sophie e Allison conversavam entre si, mas silenciaram-se com a chegada do agente.

– De onde veio o sinal? – Perguntou, encarando Donnavan que ergueu os olhos concentrados para ele.

– Um cruzamento na rodovia 210, Oxon Hill RD.

– Um cruzamento? – Mitch buscou por respostas no rosto de Sophie, mas a mulher se contentou com o silêncio. – Como assim?

– Ela estava ali. – Ele indicou o mapa aberto na mesa, que Mitch ainda não tinha reparado, com o queixo. Em meio a todas as direções e rodovias, existia um círculo vermelho em um dos cruzamentos. – Jogou o telefone no Rio Potomac assim que desligou.

Rapp fechou os olhos com um bufar, cansado, preocupado. Deu alguns passos na sala para se distanciar, sentindo olhares pesados cravarem suas costas.

– O que você acha, Rapp? – Irene, baixinho, começou a dizer. Cada palavra calculada e monótona, rasgando os neurônios de Mitch em impaciência e estresse. – Acha que ela pode discutir o quer que queira, comigo?

O agente engoliu seco.

Sophie e Allison se entreolharam alarmadas, concentrando-se na papelada que discutiam com a tarefa que Foster tinha direcionado a elas. Mitch lambeu a boca seca, se arqueou, e seus olhos lampejaram ira ao atingirem os da diretora:

– Ela está em choque.

– Certo. – Murmurou. As mãos atrás do corpo da mulher se resetaram. – E eu estou cansada. De saco cheia dela.

Rapp torceu a mandíbula e os olhos caíram, vacilantes.

– Acho bom drenar bastante força para trazê-la de volta logo, antes que eu desista e deixe que coloquem de vez as mãos nela.

Foster respirou fundo, o estresse permeando seus dedos que digitavam com força no teclado escuro. Xingou a diretora dentro da cabeça e mesmo com os olhos gratos de Mitch por um breve segundo em seu rosto, não olhou para o amigo.

Rapp, cozinhando na própria raiva, respondeu:

– Não tenho culpa se ela é inteligente.

– Você a acha inteligente?! – Irene riu decrépita, curto. – Você sempre teve um fraco por mulheres inconsequentes, de qualquer forma. – Lançou um olhar indiferente para Allison, que corou sob a insinuação da diretora.

Mitch gemeu baixinho, mas se calou.

– Precisamos trazê-la de volta. – Sophie anunciou, olhando Irene. – Sei que ninguém vai aceitar termos de nenhuma espécie vindo dela, mas podemos fazê-la acreditar que sim, para que volte.

Foster, Allison e Rapp encararam a mulher em conjunto a diretora.

– Amanhã, quando ela contatar Mitch, ele pode dizer que você aceitou, que está disposta a ouvi-la. É só o que ela precisa saber.

– Tenho uma ideia melhor. – Rapp interrompeu, gélido. A ideia de novamente mentir para Lydia atingiu seu estômago com força. – Mandamos equipes de buscas em todas essas partes da rodovia e a encontramos. Ficamos com ela até uma segunda ordem.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora