Inquebrável

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Terceira Pessoa

A corporação parecia mais silenciosa conforme a noite chegava, como se formigas estivessem cansadas de perambular para lá e para cá e sumissem para se resguardarem. Lydia caminhava pelo corredor já familiar, afim de respirar, indo ao único lugar em toda a sede que havia a feito se sentir um pouco relaxada desde que havia chegado.

Atravessou até o meio do corredor dessa vez, podendo observar livremente ambas as salas de treino. Saber que os enormes vidros só mostravam o lado de dentro dos cômodos a confortou, porque sentir-se invisível ali era algo que a fazia sentir-se segura.

Ela procurou por Foster, Mitch ou Sophie nas duas salas de treinos, mas não encontrou ninguém. Um dos tatames estava vazio, com sacos de areias congelados no ar e bonecos simuladores solitários. Do outro lado, um grupo de quatro homens se exercitavam, praticando as atividades.

Decepcionada, Lydia voltou-se para sair dali, mas os pés travaram quando Mitch surgiu na curva do corredor, distraído com o celular na mão. Martin se afogou em palavras urgentes que encheram a boca antes mesmo de ser reparada, suas bochechas coraram e ela paralisou.

O homem ergueu os olhos, e as sobrancelhas bem desenhadas se uniram ao analisá-la discretamente dos pés à cabeça. Rapp trazia uma pequena toalha branca no ombro, em cima da camisa lisa cinza. Martin, nervosa, sorriu.

– Lydia? – Ele se aproximou. –O que faz aqui?

Ela franziu a testa, os lábios abriram enquanto engolia ar e os olhos nervosos encaravam o vidro branco-azulado. Deu de ombros, buscando por algo nos pés enquanto as bochechas ardiam.

– Estava entediada e... – Voltou a sorrir, mesmo em meio a pele vermelha. – Gostei de alguns homens suados que vi aqui outro dia.

Mitch riu, os ombros levemente balançando enquanto uma veia saltava do pescoço pálido. Lydia abaixou os olhos, tímida, mas seus lábios ainda estavam curvados em travessura e ousadia.

– Gostou de ver os treinos? – Ele decifrou, lançando a questão. Martin o encarou em dúvida e surpresa, fazendo-o perguntas em silêncio. – Eu também achava o máximo antes de começar a apanhar.

Ele riu baixinho de si mesmo, mas o rosto dela permaneceu sério e seus olhos verdes, brilharam de descrença.

– Foster é tão ruim que apanhou de você?

Mitch arqueou as sobrancelhas, surpreso por ela conhecê-lo e ainda mais pelo tom de deboche que sobrecarregou a voz bem humorada dela. Ele caminhou para a porta, respondendo:

– Foster só é bom com computadores, Martin. E mulheres. – Rapp riu. – O cara não sabe fazer muito mais coisa além disso.

Lydia debochou com um sopro de ar, odiando que achasse ter sentido calor no rosto. Ela encarou mais uma vez a sala, sequer reparando que Mitch parou na porta para esperá-la.

– Vem, posso te mostrar mais de perto. – Insinuou com a cabeça.

Ela encarou o homem, mordeu o lábio inferior e uniu as mãos em frente ao corpo, agitada com a possibilidade de vê-lo treinar e saber um pouco mais sobre o assunto. Rapp esperou em silêncio, contendo um sorriso grande quando ela caminhou até ele em passos receosos.

– Feche a porta quando entrar. – Orientou ao adentrar o espaço.

Lydia obedeceu. Mitch caminhou com familiaridade, lançando a toalha que trazia no ombro ao tatame. Ele se aproximou de uma estante e puxou bandagem gel preta, colocando nas mãos. Martin, enquanto isso, percorreu os olhos por todas as curvas da sala.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora