Morte

80 8 10
                                    

Terceira Pessoa

Veias saltaram na extensão da garganta do homem. Ele respirou fundo, fechou os olhos por um instante. Passou uma mão pelo cabelo cinza, as pupilas pequenas concentradas em Carter sentado na cadeira.

O silêncio se instalou nas paredes. Carter cozinhou na própria dúvida, o medo borbulhando na boca do estômago enquanto se concentrava em respirar. Ele quase podia ver os segundos deslizarem através de seus olhos apavorados, forçando-o engolir, os músculos enrijecidos de medo.

O olhar no rosto do homem, tão despreocupado mas ao mesmo tempo tão incisivo poderia prolongar-se em horas, em anos, talvez. Seu escrutínio estava adormecendo a pele de Carter que já não sentia nada além de medo.

A postura firme e potente era ainda maior em sua frente quando estava sentado, vendo-o imóvel e imperturbado com as mãos soltas ao lado do corpo, os braços expostos estralando em veias com raiva suprimida. Só existia uma ocasião em que Theo Raeken usava camisas, sem cobrir os braços.

Morte.

Carter engoliu outra vez, lançando um olhar aflito para os dois capangas que estavam na porta, do lado de fora, mas os homens rígidos estavam distantes de sua inquietação. De costas, vigiavam o corredor como o instruído por Raeken.

O hematoma roxo e escuro em uma das bochechas de Carter latejou, embora a atenção de seu corpo estivesse no pavor que sobrecarregava o ar da sala. Mais cinco minutos o atravessaram. Lentos, dolorosos, carregados do peso de suposições sangrentas. Carter piscou os olhos verdes, encarando o peito empedrado de Theo. Em algum momento, Raeken olhou para trás.

Seu pescoço rolou de uma maneira tão preguiçosa que o fez parecer mecanicamente macio.

– Fechem a porta. – Disse ele.

Um dos homens obedeceu sem sequer olhá-lo. Uma nova onda de silêncio irrompeu para dentro das paredes de escuras.

Carter se arrepiou mesmo quando ele tentou manter-se firme e encarar Raeken que ao voltar-se para ele, ainda tinha o rosto empedrado. Seus olhos azuis piscaram quando ele respirou fundo mais uma vez, parecendo organizar os pensamentos.

– Qual foi, exatamente, o problema em nossos negócios, Carter?

A voz macia e decepcionada, leve apesar das cargas de veneno, preencheu o espaço.

Theo encarou-o, paciente, desfrutando de cada nuvem de pavor que ameaçava passar pelo rosto do homem. O viu engolir e abaixar os olhos, apertando as mãos nas próprias coxas em um ato nervoso.

– Eu não fiz isso. – Defendeu-se, a voz quebrável fazendo Raeken agarrar um suspiro cansado.

– Peço que poupe nosso tempo. – Pediu ele. – Você ganhava bem, Carter, estou tentando saber onde errei com você.

O homem apertou a mandíbula, olhando-o por baixo dos cílios. Incerteza e receio banhavam-no de dentro para fora, claro como se mil raios de sol o iluminassem na sala escura.

– Chefe... – O tom pedinte fez Theo bufar, segurando todas as garras que o arranhavam por dentro. Ele travou os dentes, fulminando Carter nos olhos. – Patrick soltou as algemas de Scott, eu mesmo vi! Ele me acertou e eu cai desmaiado!

– Mentira. – Sussurrou Theo, entredentes. Seus olhos queimaram com um aviso repentino.

– Eu não estaria aqui se tivesse ajudado, eu sabia que você me mataria!

As narinas de Raeken se dilataram. Ele rangeu e rodeou a cadeira, pousando uma mão fria no ombro de Carter. O homem segurou a respiração, o medo catalisado indo e voltando na tempestade de pensamentos que o engolia.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora