Parasita

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Terceira Pessoa

O sol nem ameaçava surgir no horizonte quando Mitch acordou Lydia ao acariciá-la na mão. Murmurou baixinho o nome dela, o toque macio se forçando um pouco mais, mas ela continuou envolta ao sono pesado que a consumia. Rapp a chamou com mais força e suas mãos livraram o rosto tranquilo de alguns fios ruivos e bagunçados, e só então Lydia despertou.

Ele a entregou um sobretudo marrom, com botões grandes na frente, e orientou que ela o vestisse para cobrir o pijama sujo de sangue. Martin sequer conseguiu pensar em fazer perguntas.

Mitch disse que precisavam partir e que infelizmente, não havia tempo para nada além disso. Ela assentiu aflita e eles abandonaram o hotel, se direcionando para o aeroporto de Nova Iorque. Rapp entregou a Lydia a identidade falsa que conseguiu na boate na noite anterior, para o caso de segurança se fossem barrados por pessoas que não eram da CIA. Entretanto, chegaram até o avião despercebidos em meio a tantos passageiros. Rapp soube que não eram seguidos.

Mitch se preocupou com ela o tempo inteiro e esteve à mercê de todas suas vontades, mas Lydia não pediu nada além uma garrafa d'água. Poucos minutos no ar e ela já tinha adormecido ao lado de Rapp. Eles desceram em Virgínia e pegaram um táxi, seguindo para a unidade principal da CIA.

Dessa vez, Lydia não conseguiu dormir. Seus olhos captaram cada quilômetro que atravessaram dentro da cidade escura, ainda banhada pela madrugada, até chegarem na enorme Central de Inteligência da América. Mitch não se esforçou para dar explicações a ela, cansado de precisar omitir até frangalhos de verdades quando tudo o que queria era despejar toda a história que fervia na cabeça.

Mas, para a sorte dele, Lydia não tornou a fazer perguntas. Ele a ajudou a abandonar o táxi e seguir pelo enorme gramado bem cuidado, adentrando o prédio imenso. Tudo era branco e azulado, repleto de vidros, elevadores, piso escuro com emblemas por todos os lados. As pessoas bem vestidas e sérias perambulavam pelos corredores e departamentos do lugar envolvidas em seus próprios mundos, sem repará-los.

Caminharam até o elevador e assim que as portas se fecharam, Mitch relaxou visivelmente. Uma voz microfonada e masculina soou por todo o prédio, pedindo:

– Agente Mitch Rapp, encaminhe-se ao décimo segundo andar.

Mitch guiou Lydia – confusa e desatenta – com uma mão nas costas, como se certificasse de que ela estava inteira e de aquele toque pudesse encorajá-la a seguir em frente. Assim que saíram do elevador, caminharam por um corredor e ao cruzarem uma porta, uma voz quase sem fôlego os alcançou em um gemido:

– Mitch!

Rapp puxou Lydia pela mão, que ainda confusa – e sem assimilar o nome desconhecido –, encarou a mulher negra parada em frente a uma enorme mesa de vidro. Ao lado dela, uma morena de pele pálida, que tinha o rosto contido em emoção, encarou o agente ao lado dela.

Só então Lydia percebeu os homens que caminhavam em direção a ela, de ternos e posturas arqueadas, com os rostos sérios demais. Mitch foi rápido em erguer uma mão, atraindo a atenção dos quatro agentes que pararam ao olhá-lo.

– Ela está limpa. – Informou. – Levem-na para um banho e a deem roupas, Sophie quer que o protocolo seja seguido.

Os homens encararam Mitch com descrença enquanto atrás dele, Lydia se encolhia, agarrada a camisa preta do vizinho. Teve medo, receio, e toda a sua volta pareceu se destorcer em giros alucinógenos. Os homens viraram-se para Irene que com uma nuvem no rosto, assentiu e disse:

– Façam como o agente Rapp deseja.

Mitch não se atentou na diretora, virando-se para Lydia. Ele a segurou pelos ombros, encarando os olhos acuados em cima dele.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora