Queda livre

104 8 7
                                    

Lydia Martin

Estudei seu rosto nos poucos instantes em que consegui ficar ilesa de não engolir cada músculo em minha visão. Cada músculo tonificado de uma maneira diferente... Meu corpo me traiu antes mesmo de eu tentar erguer uma barreira, contraindo meus hormônios impulsivos.

Eu ainda não sabia qual era o real motivo que tinha me levado até ali. Estava sobrecarregada por várias razões e quase ter sido morta em meu primeiro dia de CIA não foi necessariamente motivador, mas algo em mim queria estar perto dele de novo. Algo em mim precisava desesperadamente voltar até ele depois de ter visto tanto afeto mais cedo. A sensação da faca em minha garganta ainda era viva e física, mas não tanto quanto o olhar desesperador que Mitch me lançou assim que me viu refém de Rio.

Ele tentou, eu pude ver que tentou, mas ele estava atordoado de tão preocupado e aquela certeza me carregou direto para todos os meses em que fiquei afastada dele, pensando que sequer lembrava que eu existia na Resguarda enquanto rolava na cama com Allison. Não sabia se existia alguma chance de estar enganada, alguma possibilidade de ele ter pensado em mim nesse tempo e mesmo sem termos conversado desde que eu tinha voltado, o desespero magnético daquele olhar quando eu estava prestes a morrer mexeu até minha última célula em esperança.

Eu queria vê-lo, queria estar perto dele, e não podia mais esconder isso de mim mesma. Quis abraçá-lo no momento em que se aproximou de mim depois de Rio ter caído, mas meu choque e alívio me pararam.

Enquanto tomava banho meus pensamentos viajaram nele e eu não podia mais conter a coceira insuportável em minha pele. Estava se tornando quase primitiva a necessidade de me aproximar. Já estava perdido dentro de mim toda a frustração de nossa relação nos últimos dias e a única coisa que me mantinha ali de pé, em frente a ele, era aquela vontade avassaladora que estava me domando.

Talvez eu estivesse errada, talvez ele não quisesse me ver, talvez estivesse apaixonado por Allison..., mas eu não sabia o que sentia por ele, de qualquer forma. Só tinha cansado de negar que a lasca de sentimento estava ali, aquecendo meu peito e corpo o tempo inteiro.

Meus olhos correram pelo espetáculo tonificado que era seu tronco. Ele estava com uma calça de moletom preta, caída em seu colo e exibindo o "V" desenhado que seguia em direção as pernas. O tronco pálido e musculoso era marcado por curvas e mais curvas, cada uma me parecendo mais firme do que a outra. Eu queria tocá-lo... queria muito.

Observei a tatuagem de revólver em sua costela e as chamas pretas em baixo do muque de um de seus braços, e de repente meu corpo me traiu outra vez com um lampejo fervente de desejo. Eu me atraía por suas tatuagens.

Ah, essa ideia foi péssima. Engoli um pequeno bolo de ar e rezei para que meu rosto não tivesse derretido de luxúria, arranhando a garganta e enfiando as mãos nos bolsos traseiros da minha calça jeans. Mitch também me pareceu aéreo, o que foi um alívio inexplicável. Não queria parecer uma adolescente estúpida sozinha.

Ele caminhou até mim com a mão apoiada no pescoço e conforme se aproximou eu reparei que o cabelo estava úmido e o tronco tinha gotículas de água. A onda de sabonete e um perfume viril bateu em meu nariz, tornando nossa distância quase nula, como se complementasse o espaço vazio entre nós.

Sua aproximação acelerou meu pulso mesmo sem motivo aparente. Ele estudou meu rosto por um instante, sua expressão indecifrável.

– Oi. – Disse ele. – Foster já foi?

Eu jurei poder sentir as pernas fracas quando ele mirou meu colo.

– Sim. – Respondi, tentando manter-me parada. Ele estava me dando nos nervos, toda aquela pele nua estava. Senti minhas bochechas arderem. – Disse algo sobre não deixar uma garota esperando.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora