Quebra

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Lydia Martin

O celular despencou dos meus dedos.

Eu arfei. Uma. Duas. Três vezes.

Os gritos ainda estavam soando, agonizantes, rondando a mesa em que estávamos. Silêncio, exceto pelos gemidos e apelos que vinham dele enquanto uma lâmina atravessava seu peito. Meu corpo pareceu afundar na cadeira como se eu estivesse mergulhando em ácido.

Levantei, arrastando o assento e ganhando espaço na sala. Cobri meus ouvidos com as mãos trêmulas, apertei meus olhos e implorei para que quando os abrisse, nada daquilo estivesse realmente acontecendo.

Alguém faça parar... alguém faça parar!

Eu estava doendo por todos os lados. Doendo, com medo, a culpa queimando em minha garganta que trancava os soluços do choro que eu reprimia. Passos ansiosos me alcançaram, mas eu não me mexi. Eu não queria fazer nada além de me convencer que estava vendo coisas, que estava enlouquecendo. E se eu realmente estivesse?

– Lydia. – Chamou Mitch, baixinho, tocando-me nos braços.

Eu balancei a cabeça de forma incoerente, sem saber o que fazer, os gritos cortando minhas veias em culpa e mais culpa. Eu era culpada.

– Olhe para mim, linda, por favor.

A entonação que vibrava muito além de sua boca alcançou – mesmo sem eu saber como – meu coração. Um tsunami aterrador de afeto me atingiu, quase sendo demais para que eu suportasse me manter em pé. Eu ainda estava embolada em meu cárcere quando meus pés viraram para ele. Os sons sôfregos criaram raízes em meus pensamentos, soando em um maldito looping infinito enquanto eu era torturada por dor.

Os olhos de Theo... seu sorriso... como eu pude... como?!

Aquele foi o exato momento em que eu descobri que o mataria. Eu verdadeiramente o mataria. Minha alma já estava perdida de qualquer forma.

Eu nunca a verei de novo, mamãe.

De cabeça baixa, com as mãos nas orelhas, não olhei para Mitch. O medo de que ele enxergasse minha alma distorcida ou minha sentença fodida de ter a vida de meu amigo em minhas mãos poderia me destruir resumida apenas em uma possibilidade. Deus... estava doendo. Meu corpo inteiro estava sangrando ao contrário. O que eu me tornei?

– Desligue essa merda. – Rugiu Mitch, olhando para trás.

Meus olhos levantaram por impulso.

Sophie, Allison e Irene estavam em volta do celular, encarando a gravação que havia quebrado minhas entranhas segundos atrás. Nenhuma delas olhou para nós, mas alguém acatou seu pedido/ordem. Os sons pararam de entoar pela sala, mas isso não importava por que eles ainda estavam em cada ponto de meu corpo, doendo e doendo. Lágrimas ardidas caíram de meus olhos.

– Lydia...

– Vão matá-lo.

Foi tudo que eu consegui dizer em meio a um sussurro.

Mais sangue em minhas mãos, mais cicatrizes em minhas memórias, mais culpa em meu passado... Theo destruiu minha vida. Porra, ele fez isso.

Eu balancei minha cabeça, apertando minhas mãos trêmulas em punho e drenando o tsunami de lágrimas nos olhos. Pressionei minha mandíbula, meu queixo ameaçando tremer enquanto eu me concentrava em ficar em pé.

Mãos macias subiram ao meu rosto. Mitch me acariciou, fazendo-me olhá-lo. Agonia. Medo. Carinho. Parecia que nada que vinha dele podia me alcançar.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora