Névoa

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Terceira Pessoa

Martin apoiou as mãos na mesa de vidro de sua sala e respirou fundo, tentando conter o nervosismo irracional que disparava cargas elétricas nas veias. Correu os olhos pelo relatório pela milésima vez, atenta nas informações que já conhecia, escaneando a pequena foto do homem que tinha arrancado seu sono por dias enquanto esteve na Resguarda.

Seus sentimentos rasos e ao mesmo tempo com raízes espessas no peito estavam lampejando com desgosto, irradiando o bolo de desconforto que ela tornou a engolir mais uma vez naquela manhã enquanto espalmava as mãos suadas e mordia a boca e pensava.

Os poucos minutos que tinha correram até duas batidas na porta soarem, mas Lydia não fez esforço para se mover. Seu corpo relaxou e endureceu ao mesmo tempo, os músculos reféns do congelamento prazeroso que só um homem conseguia disparar através dela.

Desde que haviam voltado da missão em Manhattan, Martin esforçava-se para manter a cabeça concentrada e longe de tudo que pudesse a conectar a Mitch, principalmente porque estar perto dele já a afetava o suficiente. Mas, Lydia soube que estava em uma batalha perdida no momento em que o viu novamente depois de tê-lo deixado no quarto com Allison.

Toda a compostura leve e o olhar seguro faziam seus nervos se retorcerem de novas vontades sempre que conversavam – ainda que pouco – ou quando simplesmente ele a olhava com discrição. Mitch não tinha o menor problema em tratá-la como se nada tivesse acontecido, tranquilo e centrado como ela era acostumada a percebê-lo. Nos três dias que seguiram sem nenhuma menção ao assunto, ela se questionou se ele se sentia como ela, se ele também estava afetado pela energia entre os dois.

Sem coragem para questioná-lo, ela não tocou no assunto e afastou a preocupação que julgava desnecessária, concentrando-se no trabalho. Esforçou-se para agir como ele, sem pensar no pequeno envolvimento, mesmo que fosse quase impossível. O toque fantasma de Mitch era fixo na pele da mulher, sempre recordando-a da sensação de tê-lo mais perto, do cheiro que vinha dele, da forma poderosa que seus olhos brilhavam quando ele sentia desejo.

– Pronta?

Rapp se aproveitou do mero momento em que Lydia ainda estava de costas, focada nos papéis para escorar no batente da porta e olhá-la sem pudor. Correu os olhos por toda as costas cobertas pela jaqueta de couro fino, caindo na cintura estreita, escaneando a bunda apertada nos jeans escuros até os tornozelos com as botas de cano curto. O cabelo ruivo estava solto com duas mechas atrás da cabeça, e o detalhe nos fios ondulados não passou despercebido.

Ele lambeu a boca fina, contendo um suspiro ao relaxar contra o batente. Pensou mais uma vez em como era vê-la por baixo de toda aquela roupa, como a pele da mulher era macia e quente, o quão Martin – apesar de tímida – era rendida em momentos íntimos. Suas mãos arderam com vontade de tocá-la de novo, os sons vívidos reverberando nos ouvidos e se concentrando no quadril.

Lydia respirou fundo e se desencostou da mesa depois de um instante, olhando-o por cima do ombro sem grande interesse.

– Estou. – Murmurou ela.

A agente fechou a pasta e reservou o celular de cima da mesa no bolso, voltando para ele sem hesitação. Se aproximou em passos relaxados, e absorveu com a boca repentinamente molhada a intensidade crua que brilhava nos olhos castanhos em direção a ela. Mitch abriu a porta e Lydia passou ao lançá-lo um mero sorriso, esperando enquanto ele fechava-a.

Poucos segundos ao lado dele foram o suficiente para despencarem uma nova carga de ansiedade no corpo, acelerando seu pulso. A mulher lambeu a boca grossa, caminhando quando Rapp a indicou o corredor com o braço. Segurando todo o nervosismo que parecia querer corrompê-la, a agente jogou o cabelo por cima do ombro e conteve um respirar pesado, organizando os pensamentos agitados.

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