Alvo

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Terceira Pessoa

Lydia acreditou estar vendo uma miragem, mas as mãos fortes em seus braços a garantiam de que Mitch não era fruto da imaginação. Seus olhos verdes brilharam, encheram-se de emoção e alguma segurança quando ele tornou a olhá-la, afobado, preocupado e aliviado. Senti-la viva e inteira contra seu corpo era o que Rapp mais almejava desde que Lydia havia partido.

Ele quis falar, dizer tantas coisas, mas estava tão consumido por raiva e frustração que não conseguiu irromper o silêncio. Analisou tudo que podia dela, observando se estava bem, se as lágrimas vivas nos olhos verdes não eram de dor. Tocou-a no pescoço enquanto outra mão pousou no rosto da mulher que arfou, ainda inundada por alívio, sussurrando:

– Mitch...

O nome dançou nos ouvidos dele por longos segundos.

– Lydia... – Sussurrou contra o escuro, seus dedos leves a sentindo com preocupação. Levou uma mão ao ouvido, dizendo: – Estou com ela, ao lado da Náutica. Vigiem de dentro.

Ele tornou a inspecionar a entrada do beco, se atentando ao que podia ver pelas luzes fracas do estacionamento. A ruiva engolia com voracidade cada pergunta em sua boca, concentrada em apreciar as mãos quentes em seu corpo, a segurança crua que Rapp a transmitiu com poucas palavras.

Quando Mitch voltou a olhá-la, seu coração derreteu como brasa faiscante e toda a concentração foi varrida pela chuva de sentimentos. Puxou-a para si, enterrando o rosto na curva do pescoço da mulher, inalando fundo, se transformando em uma massa de saudade e alívio. Lydia suspirou com o cheiro do agente, surpresa com a proximidade repentina, mas sem conseguir negar a si própria a corrente de satisfação que inundou as veias.

O apertou contra seu corpo pequeno, sentindo os corpos quentes se fundindo, a respiração do homem batendo em sua pele e agitando-lhe o peito. Passou as mãos no pescoço dele, e de repente seu mundo se resumiu em paz e braços mornos.

– Você me deixou preocupado. – Sussurrou ele, e Lydia derreteu contra a parede áspera.

Ela suspirou com lágrimas de culpa e adrenalina subindo nos olhos, lamentando quando Mitch afastou-se dela e manteve as mãos na cintura coberta pelo sobretudo preto.

– Desculpe. – Pediu baixinho.

Eles se encararam, e algo no corpo de Lydia a traiu com chibatadas de afeto e algum desejo. Corou abaixando o rosto, intimidada pela doçura dos olhos castanhos e a maneira atraente que Mitch parecia rígido perto de seu tronco.

Rapp se afastou um pouco dela, pousando uma mão na parede enquanto inspecionava a entrada do beco. Lutou contra a maneira que a pele queimou ao lado da mulher, ignorando a euforia genuína no peito por vê-la bem, e pensando se o rubor nas bochechas dela era de desejo ou negação. Martin ofegou baixinho com o braço do homem ao lado do rosto, sentindo-se ainda mais consumida pela energia do agente no espaço entre os dois.

– Eu só queria sair. – Sussurrou tardiamente, fugindo dos olhos castanhos em seu rosto. Negou com a cabeça de leve, e sua voz se corrompeu em lamento: – Nunca quis te preocupar, Mitch.

O agente passou uma mão confusa pelo topete do cabelo curto, suspirando. Não queria pensar no quão ingênua ela poderia ter sido achando que não mexeria com ele ao sumir de CIA. Mas, no fundo, sentiu-se orgulhoso. Saber que disfarçava bem como gostava da presença da mulher significava que Irene poderia estar apenas o provocando por hábito todas as vezes que insinuava algo do gênero.

– Esqueça. – Cochichou baixinho. – Não é hora de falar disso.

Os olhos da mulher lampejaram com mágoa repentina.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora