Fantasmas

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Terceira Pessoa

A mulher negra e de olhos sérios se agitou na cadeira macia, correndo os dedos pela borda da mesa de vidro enquanto a cabeça rodopiava. Trouxe um dedo a boca e alisou os próprios lábios, confusa, irritada, encarando os papéis abertos.

Duas batidas na porta fizeram-na erguer os olhos pela sala bem iluminada em tom brancos e azulados, observando Allison surgir com metade do corpo na porta.

– Mandou me chamar? – Ela perguntou.

Irene assentiu, indicando uma cadeira próxima da enorme mesa enquanto Argent se aproximava com passos largos. A morena se acomodou em uma cadeira preta, igualmente macia como a da chefe, e o traço de apreensão em suas sobrancelhas pareceu se intensificar quando seus olhos bateram no de Kennedy.

A diretora, sem delongas, perguntou:

– Como estamos?

Allison passou uma língua ansiosa pela boca enquanto tentava conter a frustração no rosto.

– De acordo com os relatórios de Rapp e White, um pouco atrasados. – Irene bufou despercebida, sentindo-se vulnerável. – Temos razões para acreditarmos que um membro da facção está conversando com Lydia, já estamos averiguando, mas o cara é um fantasma como todos os outros. Um mercenário com identidade falsa.

A chefe da Argent tornou a se concentrar na pasta escura, os dedos pacientes passeando pelos espaços em branco que deveriam estar ocupados com identificações.

Embora a cabeça fervilhasse de receio e preocupação, Kennedy se atentou nas fotos que podia ver. Os poucos rostos estampados caberiam em seus dedos se contasse, em comparação a todo o vasto de folhas em branco que se seguia.

– Você o viu? – Irene perguntou para a Argent.

Allison negou, jogando o cabelo grande e ondulado por cima do ombro, apoiando os antebraços na mesa. Irene arrastou a pasta até ela, e os olhos castanhos da agente se concentraram as folhas de imediato.

– Sophie acredita ter visto, mas não temos provas.

A chefe se levantou, o rosto uma nuvem repleta de ira e decepção, caminhando e tomando espaço pela sala enorme enquanto Argent folheava a pasta nas mãos.

– Todos são fantasmas. São mais espertos do que pensamos. – Admitiu, e o tom frio da voz da diretora lampejou ódio.

Allison se manteve em silêncio, remoendo o rancor que sentiu com a fala da diretora. Afinal, ela estava certa. Encarar todos os aqueles espaços vazios onde os rostos dos criminosos deveriam estar estampados fizeram-na desejar esmurrar uma parede com raiva.

Sentir que perdia tempo ou andava em círculos eram sensações sufocantes dentro da CIA.

Irene caminhou em direção a enorme janela que existia nos fundos da sala, na qual os vidros impecavelmente limpos e gigantescos exibiam o horizonte seco de Alexandria e todas as diversas árvores que cercavam a propriedade do governo.

Irene observou o sol que começava a se esconder atrás de um prédio ao lado, concentrando as mãos atrás do corpo enquanto pensava. Allison estava quieta, cozinhando na própria raiva quando a voz da chefe preencheu a sala:

– Você acha que Mitch está bem?

Argent encarou as costas da mulher, confusa e surpresa com a pergunta inesperada. Ao chegar ao fim da pasta, suspirou cansada e tornou a fechá-la, lançando de volta à frente da mesa da diretora.

– Mitch é teimoso, Mrs. Kennedy. Teimoso e incrivelmente habilidoso. – Irene a olhou por cima do ombro, encontrando a mulher em pé diante da mesa. O rosto de Argent se iluminou em um sorriso sutil ao recordar-se do homem. – Com todo respeito, sei que você está preocupada por que pela primeira vez em muito tempo estamos em um limbo que tem durado bastante, mas vamos dar conta. Mitch está bem, principalmente com Sophie ao lado dele.

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