Almejo

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Terceira Pessoa

O rosto de Lorenzo girava e girava na cabeça da Lydia. A ruiva encarava a filmagem em looping no notebook, tentando captar fragmentos que ainda pudessem estar passando despercebidos de sua visão cansada. A imagem da câmera de segurança – que exibia o corredor da prisão – mostrava algumas luzes do corredor piscando e então um corte na filmagem, que tornava reintegrada com as luzes estáveis.

Invadiram o sistema da prisão, provavelmente com algum dispositivo de descodificação. Cortaram a filmagem e o mataram. Consegui rastrear uma nova carga em Nashville, deve sair em quatro dias. Irene vai nos convocar amanhã.

Martin tornou a filtrar as palavras de Foster, mas soltou um respirar fundo e enrijeceu contra a cadeira da sala quando as têmporas arderam de frustração. Relaxou a cabeça no encosto e encarou a filmagem quase com preguiça, o lampejo de estresse na boca do estômago ameaçando subir pelas veias.

Pensava sobre Lorenzo desde que tinha sido liberada do encontro emergencial dois dias atrás, quando souberam que o espanhol havia sido morto e embora já estivesse exausta, algo dentro da mulher se contorcia de frustração e desejo de solucionar a equação gigantesca em sua cabeça. Cruzou as pernas e fechou os olhos por um único momento, tentando resgatar alguma linha de estabilidade dentro das ruínas alucinadas que empoeiraram em seu corpo.

Ficou quieta e imóvel por mais alguns minutos, até batidas na porta irromperem pela sala. Os olhos verdes encararam a entrada e brilharam quando Mitch surgiu na metade do batente, seu cabelo grande agitado e suas veias pálidas saltadas por toda a extensão da pele branca.

– Ocupada? – Perguntou ele.

Lydia balançou a cabeça, negando. Ela arrastou a cadeira para mais perto, cruzando os antebraços em cima da mesa de vidro enquanto o via se aproximar. Rapp lançou uma pasta preta em cima da mesa, coçando o pescoço enquanto outra mão se enfiava no bolso frontal da calça. Apesar de relaxado, algum receio e exaustão semelhante ao rosto da agente brilhava nos olhos castanhos dele.

– Foster achou que você pudesse se interessar. São algumas autópsias que encontramos com as mortes causadas pela facção, pelo uso das substâncias.

Lydia se desconectou dele para abrir a pasta e pescar alguns papéis sem grande interesse, decidida a estudá-los com mais paciência mais tarde. Ela os lançou na mesa instantes depois e conteve um suspiro, voltando aos olhos castanhos com um sorriso.

– Obrigada, Mitch.

O agente se reduziu em um pequeno sorriso, vendo-a corar enquanto abaixava os olhos. Distraído, ele observou a tela do notebook da mulher enquanto ela engolia em seco, o súbito nervosismo subindo por suas entranhas como teias.

– Você ainda está olhando isso?

Martin mordeu a própria língua e alguma vergonha a faz apertar as mãos nos próprios antebraços. Ela se arqueou sutilmente, a cabeça pendeu um pouco para o lado e quando o cabelo ruivo deslizou pelas costas, exibindo o pescoço pálido, Mitch sentiu-se tenso pelas explosões rasas de desejo que o inundaram. O jeito que as pernas femininas pareciam firmes por baixo da mesa do vidro perturbou todas as moléculas do corpo dele.

– Não estou prestando atenção, para ser sincera. Já entendi que é uma rua morta.

A agente afastou a cadeira e se levantou, erguendo uma mão e desligando o notebook sob os olhos castanhos. Rapp percebeu que apesar de relaxada com ele, Lydia estava chateada. Ele se agitou com um suspiro e arranhou a garganta.

– Talvez ele não fosse falar, de qualquer forma.

Lydia encarou o agente de súbito, uma pitada de humor e afronta traçando seu rosto bonito enquanto o avaliava. Rapp segurou os olhos verdes de bom grado, lutando para se desconcentrar do fervor interno do corpo com tão pouco enquanto a ouvia.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora