Impotência

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Mitch Rapp

Eu avancei para a porta, o ódio devorando minhas entranhas enquanto me esforçava para respirar e as lágrimas em meu rosto ainda secavam. Arrombei a madeira com meu pé e ergui o fuzil para o cômodo. Era uma sala privada, também aos pedaços, mas estava vazia.

Vi outra porta que dava para o corredor daquele andar e segui até ela. Sem vestígios de Foster.

Minha cabeça estava zunindo como se abelhas perfurassem meu crânio, e meu coração não batia mais. De alguma forma, eu sabia que ele não batia mais. Eu estava fodido. Meus músculos doíam, a camada de luto e rancor e vingança queimava em minhas mãos sedentas por sangue... eu não conseguia pensar em nada além disso.

Precisava ignorar que deixei minha própria mãe definhando para trás enquanto não sabia se estava somente sendo egoísta em não conseguir lidar com a bala em seu peito, se estava sendo controlado pela criança alojada aos berros em minha consciência ou se só desejava desesperadamente poder bater em alguém. Eu nunca poderia definir o que me movia.

Concentrei todas as minhas energias em ir atrás do filho da puta que fizera isso comigo, com Lydia, com minha mãe...

Foster fodeu com todos nós e eu serei assombrado enquanto não o fizer pagar por isso. Quando sai para o corredor escuro e destruído daquele andar – depois de usar a porta original do quarto – examinei o local, mas ambas as direções estavam vazias, exceto por mim.

Eu retrocedi, refazendo o caminho do corredor que antes eu e Lydia passamos. Vasculhei dois novos quartos, meu dedo implorando para ceder e cuspir algumas balas da arma.

No quarto seguinte, abri a porta ao chute como fiz com todas as anteriores. Eu queria que Foster soubesse que eu estava chegando, eu queria ser sua promessa de morte como ele fora para Irene há poucos minutos. Encontrei marcas de sapato na poeira do chão.

Pressionei meus dentes com tanta força que minha mandíbula doeu, mas não estava disposto a afrouxá-la. A tensão em meu queixo era como uma alavanca em momentos de adrenalina.

No cômodo, observei mais uma janela escura e destruída. A única luz ali dentro vinha de lá, mas a lua estava fraca demais aquela noite. Eu examinei cada canto, me assegurando de seguir meus olhos junto com a mira do fuzil.

Devagar, avancei para dentro. Alguns cacos sutilmente estralaram abaixo dos meus pés. Eles poderiam me denunciar, porém, eu não me importava tanto. Na verdade, alguma coisa nessa expectativa de morte estava formigando em minhas orelhas com ansiedade.

Tudo o que eu escutava era morte, e eu tentava me convencer o tempo todo de que não era só a de Irene. Não podia ser. Senti meus lábios se contorcerem em um sorriso cru e amargo. No canto do quarto, enxerguei um guarda roupa velho e detonado por cupins, mas que ainda poderia esconder um corpo humano e agachado. Tentei captar novas pegadas no chão, mas a mira da arma exigia muito mais de minha atenção pois meus olhos precisavam estar nela.

– Nós vamos brincar de gato e rato, então? – Minha voz reverberou pelo cômodo, divertida e com uma pitada de cobrança.

Sim, porra, estou me divertindo com a expectativa de matá-lo.

– Por mim tudo bem. – Passo por passo, respiração por respiração, caminhei para o guarda roupa aos pedaços. A expectativa sanguinária era como uma bomba prestes a ser detonada em minhas veias. – Você lembra de quem costumava ganhar esse tipo de exercício na Resguarda, não é?

Sem me importar com os estalos de madeira e cacos no chão, quando faltavam somente dois passos para eu alcançar atrás do móvel, me apressei e mirei atrás do guarda roupa, mas Foster não estava lá. Olhei ao redor, a frustração banhando meu corpo com água fria.

Crow's FlightOnde histórias criam vida. Descubra agora