Coincidências

09

- Mariana -

Eram umas 16h30 quando acordamos. Iríamos pra festa as 20h, mas antes faríamos um esquenta no chalé com os meninos. Não só com eles, porque estaria todos os monitores, mas eu me fecharia naquele mundinho dos quatro apenas.

João desde cedo vinha me provocando. E olha que eu só conversei com ele uma noite, imagina depois que ficarmos. Eu me amarro no jeito dele, brincalhão, safado do jeito que eu gosto. Vive como se não devesse nada a ninguém, e realmente não deve. Ficar na companhia dele e dos amigos era bom demais.

Eu sentia que mesmo que tivesse gente bonita e diferente aqui, o pessoal estava em outra vibe que eu, aliás eram mais novos. Então me adaptei mais ao pessoal do Davi e dos monitores. Me fechei nesses grupinhos e creio que as meninas também.

Quando voltássemos pra SP, logo a Malu iria embora, então queria aproveitar ao máximo com ela aqui, mesmo que eu fosse me transferir pro rj uns meses depois junto com Karine.

- Vamos nos arrumar logo senão não vai dar tempo de irmos nos meninos - Alertei as meninas que ainda não tinham levantado sequer da cama.

- Afff - Malu resmungou.

- Eu não vou com vocês não, vou me arrumar com Laura e Júlia no quarto delas - Karine avisou.

- Ah, é? Tá de amizadezinha nova ela Malu - eu disse provocativa. Eu não sabia esconder ciúme, principalmente das minhas amigas.

- Ela não vai lá pela Laura, o motivo dela se chamar Victor - Malu enfim levantou da cama e saiu correndo se jogando em cima de Karine.

- Ai sua imensa, sai de cima de mim!

- Ui ui, a patricinha de casinho com o moreno tatuado, a típica história da dama e o vagabundo - Brinquei arrancando uma gargalhada das duas.

- Você é tão idiota Mariana - Karine jogou um travesseiro em mim.

- Tá ta, agora vai se arrumar Maria Luiza - eu disse séria e ela saiu se levantando em sinal de rendição.

- Ok, mas conhecendo Maria do jeito que a gente conhece, você acha mesmo que ela dispensaria mais algumas horas de descanso só pra ir num esquenta sendo que vai ter uma festa depois? - Neguei.

- Pedro - Sussurrei.

- Vão se foder!

Karine aproveitou pra ir logo pro quarto das garotas. Eu não vou mentir, eu estava puta, queria que ela aproveitasse com a gente.

Colocamos um funk pra tocar no celular e começamos a nos arrumar, como iríamos direto de lá pra festa já estávamos colocando a roupa da festa mesmo. Coloquei um sutiã de renda, e um blaze que deixava tudo a amostra. Estava uma deusa.

- Uma boa menina rebola assim quica quica assim senta assim - Malu começou a imitar Luiza Sonza e eu entrei na dança.

- Não me interessa o que pensam de mim.

Continuamos a dançar até que bateram na porta e eram as únicas meninas da monitoria que eu gostava. Clara e Jordana. Foram buscar a gente pra ir pro chalé, disseram que os meninos estavam muito ocupados fazendo as misturebas loucas deles com bebida. Vai saber. No caminho fomos trocando varias ideias.

Descobrimos que Clara era ex namorada de Pedro de muitos anos atrás e Jordana de Magalhães, naquele meio ali tinham muito mais coisas que a gente não sabia. Contaram também que a história de Pedro com a mina formanda não foi tão curta assim, teve até caso de polícia e os caralho. Mas não entendi nada e também não fazia muita questão de entender. Cada um com seus problemas.

Chegamos no chalé e todos os meninos estavam jogados em um "círculo". Uns nos sofás, outros em poltronas e João e Magalhães no chão. Cumprimentamos todos e sentamos no chão. Tinha uma cachaça que eu não fazia ideia, nunca tinha bebido aquilo na vida, e provavelmente teria uma primeira vez ali mesmo.

- Vamos jogar pa pin pow - Sugeriu Clara.

Todos concordaram e então começamos. Até que estávamos bem animados, os únicos que permaneciam na deles era Malu e Pedro, bem do jeitão deles mesmo. Malu as vezes dava umas descontraídas, mas Pedro sempre no foco.

- Ah, cala a boca mano, você errou sim, bebe - Pedro se pronunciou pela primeira vez em todo o jogo. Afinal, só bebia quando solicitado e nada mais.

O menino bebeu e voltamos ao jogo. Depois que todo mundo começou a errar direto paramos de jogar. A cachaça era braba, então dificultava de ficar virando toda hora. Todos meio que se dispersaram, foram dançar, beijar na boca, transar, sei lá o que foram fazer.

O chalé era grande, além de uma salinha, tinha dois quarto no andar de baixo e um no de cima. Além de uma mini cozinha também. Parecia pequeno do lado de fora, mas tinha um espaço bem bom.

Só sobraram João, Pedro, Clara, Jordana, eu e Maria Luiza. Eu e João dávamos umas olhados um pro outro varias vezes e eu até sentia vergonha quando meu olhar se encontrava ao dele, mas logo depois eu ria sozinha. Não sabia disfarçar.

- Querem continuar jogando? - Jordana quebrou o silêncio.

- Nem quero, senão nem consigo chegar na festa - eu disse.

- Melhor não beber mesmo porque quando você fica bêbada você se transforma e até o momento você tá linda, não estraga - Acho que a intenção de Malu era elogiar, mas saiu mais pra um esculacho mesmo.

- Pensei que não tivesse como ela parar de ficar linda - João falou. Eu só me envergonhei e Pedro e Maria riram.

- Brega - Pedro pigarreou.

- Ah, para! Foi fofo vai - João brincou.

- Foi mesmo - Clara disse se aproximando do Pedro fazendo um carinho nele.

- Pedro -

Clara forçava a barra legal pra cima de mim. Já se passaram uns quatro anos que terminamos e ela não cansava de me perseguir. Nem foi um namoro muito longo, durou sei lá, nove meses (?). Eu era mais novo e nem sabia o que eu estava fazendo direito. Não sentia mais nada por ela e nem o mínimo tesão. Mesmo que eu não fosse ficar ou dar em cima de Malu, eu queria que Jordana e Clara saíssem dali, era legal a companhia das outras e quando ficava nós quatro sozinhos ficava mais engraçado ainda.

- Acho que vou me arrumar, mais tarde vejo vocês meninas - Clara disse levantando. Provavelmente deve ter percebido que eu não fiz questão nenhuma daquele carinho dela.

- Eu vou também - disse Jordana.

Começamos a conversar sobre diversas coisas e era notável que João e Mariana queriam sair dali pra enfim matarem aquela vontade que estava explícita. Eu não queria que eles fossem porque eu sei que daria merda ficar sozinho com Malu, e a mínima merda que fosse eu já me importava se acontecesse.

Depois de muita enrolação, meu medo se concretizou e os dois foram pro quarto. Me acomodei na sofá virando pro teto e só fiquei o encarando.

Era impressionante como a viagem não estava sendo a mesma desde que aconteceu aquilo com Leticia, eu não estava mais tão animado e disposto a tudo. E quando eu tenho que privar minhas vontades, eu fico puto.

Não mentiria pra mim mesmo dizendo que eu não tinha me interessado por Malu, porque não é a verdade. Eu me interessei, mas não estava disposto a passar por tudo aquilo de novo, não queria que ela se apegasse, não podia trair a confiança dos meus chefes e muito menos me envolver sentimentalmente com alguém novamente, principalmente porque ela
parecia ser uma pessoa fechada igual a mim, e eu acredito que dois iguais não dão certo.

- Me conta como foi sua história com a menina. - Ela quebrou o silêncio. E sinceramente, preferia que não tivesse quebrado com essa pergunta.