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Já tinha chegado no Rio de Janeiro, mas decidi dormir na casa dos meus tios já que era de madrugada e eu não conhecia muito bem a Barra da Tijuca.

— Bom dia luluzinha. Comprei pão, vem comer! — Solange me chamou da cozinha e eu sorri me espreguiçando.

— Bom dia tia, acho que não vou comer nada não, estou ansiosa pra ir pra casa — eu disse sentando na mesa da cozinha e ela me olhou com cara feia.

— Você não sai daqui sem comer, para com essa sua ansiedade Maria Luiza, você sabe que isso te causa problemas. — ela disse séria e eu bufei obedecendo. Não era porque eu tinha que obedecer, mas é porque eu sabia que ela estava certa.

Passei uma manteiga no pão e coloquei na sanduicheira.

— Meu tio já foi trabalhar? — perguntei pegando leite na geladeira.

— Sim, levou Eduarda no shopping também — ela disse comendo uma torrada.

— Ah sim.

Voltei a comer meu pão pensativa. Eu ainda estava intrigada com a foto que Mariana tinha achado na noite passada, até mandei mensagem pro Bruno pra perguntar, mas quando ele viajava era um inferno falar com ele.

Por incrível que pareça nunca entramos nesse mérito, ele não era muito de falar da vida dele aqui no RJ, e eu também nunca perguntei muito. Nunca me interessei por nada mesmo.

— Tia, qual o nome do menino que mora com o Bruno?

— Acho que é Paulo — ela disse tentando lembrar e eu por um momento senti um alívio dentro de mim.

Apesar de gostar muito do João, morar com ele significava morar perto de Pedro, já que eles mesmo diziam que eram amigos fora do trabalho.

— Quer que eu te leve até lá ou quer começar sua vida independente logo? — ela falou sorrindo. Ela sabia o quanto aquilo era um sonho pra mim.

— Não precisa, eu pego um uber! — eu falei e ela assentiu.

Terminei de comer, lavei minha louça e fui direto tomar um banho. Eu curtia a história de ficar uma semana sozinha na casa, era como se eu fosse conhecê-la pra depois se tornar mais fácil morar com dois homens.

Eu passaria essa semana montando meus móveis, vendo coisa da faculdade e principalmente, procurando um emprego. Não podia viver as custas do meu pai pra sempre.

Vesti um short e uma regata simples e já engatei no chinelo. Aqui era um calor desgraçado. Pedi meu uber e me despedi da minha tia.

Eu já tinha vindo umas duas vezes aqui na barra, mas não lembrava como algumas partes eram tão bonitas, só que não tinha muito comércio pelas ruas e sim shoppings. Vi diversas placas indicando praia e até pude me animar.

— Você não é daqui não? — o motorista perguntou me tirando a atenção nas ruas.

— Não, sou de SP — eu falei.

— Hm, deu pra perceber com esse seu olhar deslumbrante, a zona norte não é tão bonita assim não! — ele disse rindo e eu retribui.

— Aqui fica perto da praia? — eu perguntei e ele assentiu.

Logo senti a animação vibrar dentro de mim. Desci do carro, paguei a corrida e peguei as duas malas que eu tinha trazido fora do caminhão da mudança.

Me identifiquei na portaria e me deixaram entrar. Bruno tinha me certificado que já me reconheceriam como moradora. Fiquei um pouco perdida no tamanho do condomínio, mas logo achei meu bloco.

Era como se minha ansiedade ficasse cada vez mais gigante dentro de mim. Era estranho já que já estava acontecendo, mas eu queria entrar o quanto antes no apartamento. Sai do elevador e fui em direção à porta.

O apê era lindo por dentro. Enorme, enorme. A sala era grande e ligada com a cozinha. O chão porcelanato, a varanda toda de vidro e aberta. Tinha uma mesa de madeira muito conceito e algumas plantas penduradas na parede. Muito aconchegante. Não esperava nem um pouco por isso, ainda mais de um lugar que só morava homem, no mínimo eu esperava cuecas espalhadas, camisinhas jogadas, garrafa vazias.

A parte de baixo era só isso e um corredor que pelo que explorei tinha um banheiro e dois quartos que só tinham camas e nada mais.

Subi as escadas com dificuldade pelo peso das malas, mas enfim consegui. Tinham três portas e uma outra de vidro que dava pra uma área externa. Bruno tinha me dito que o meu quarto era o que a maçaneta era dourada, então nem ousei entrar no quarto de ninguém e fui direto pro meu.

Era grande, mas não muito. Minha cama de casal já estava posta, tinha um móvel planejado em todo o quarto, como armário e uma escrivaninha. E ele estava todo decorado, com minhas coisas, roupas no cabide, produtos na suíte. Que diabos era isso?

Coloquei minhas malas em cima da cama e comecei a guardar o resto das minhas coisas que estavam comigo. Vida nova e eu queria ser ativa. Me certifiquei que minha tv não tinha quebrado na mudança, porque foi a única coisa além da cama que meu pai não trocou e óbvio, meus itens como roupa, produtos e etc.

Quando terminei, fui direto olhar a área externa e quando acabasse minha tour iria me certificar de ligar para as meninas e mostrar esse lugar. Do lado de fora tinha uma piscina, uma churrasqueira e uma mesa. Maravilhoso!!!

Meu telefone tocou.

— Oi, mari — Já chegou? — Sim, isso aqui é incrível, enorme, tem piscina, vários quartos, cozinha enorme e é lindo.
— Mentira Malu? Que sonho! — Em breve teremos tudo isso juntas — Sim, mas e aí, já entrou no quarto do amigo dele pra ver quem é?
— Se você quer saber se é o João, não, não é, minha tia disse que o nome do menino é Paulo. — Você sabe que sua tia é meio esclerosada.
— Para de falar isso Mariana! — É verdade ue... vai, entra logo! — Ai, não sei. Maior invasão de privacidade. — Maria Luiza Medeiros, entra logo!

Resmunguei e fui em direção da porta sem desligar a ligação. Entrei primeiro no quarto do meu primo que reconheci porque tinha o mesmo papel de parede do outro apartamento que ele morava sozinho. Entrei no outro e era bem maior do que o meu. Era parecido com o meu quarto, só que ao invés da parede branca, era todo cinza e tinham algumas pichações na parede.

— Eu não estou acreditando nisso! — eu falei olhando pro porta-retrato na minha mão.

— Que porra é essa?

— Quem foi que falou isso, Malu? Me responde! — Mariana disse ansiosa do outro lado da linha, mas eu não conseguia voltar a reagir.

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora