56

10.1K 795 401
                                    

Peguei algumas caipirinhas com Pedro, desencanei da cara emburrada e voltei a dançar com a galera.

João estava atrás de mim fazendo palhaçada com os meninos e nem sequer me olhava. Eu sabia que ele estava bolado com alguma coisa, mas nunca falaria. Afinal, não fazíamos o tipo de se meter em nada.

Karine, Laura e Sarah não paravam de rebolar o cu delas no chão, enquanto Maria Luiza estava na mesa com Guilherme, Davi e Júlia.

— Tá cansada Mariana? A noite ainda nem começou — Malu disse enquanto eu ia me aproximando.

— Cansada? Eu? — ri sarcasticamente. — Só quero beber mais.

— Victor já que você tá entrando, pega uma vodca lá dentro e um energético — Bruno pediu da churrasqueira.

— É o meu momento! — eu disse me levantando e indo até ele.

Parei ao lado dos meninos e ajudei-os a temperar o resto das carnes. Pedro, Bruno e Luan estavam mais de canto, mas não emburrados, pelo contrário, rindo pra caralho.

— Que que foi Mari? João não está falando contigo não? — Luan perguntou franzindo a sobrancelha.

— Sei lá, acho que não — eu falei abrindo o sal grosso.

— Esse moleque é maluco — Pedro disse e eu assenti.

— Fala com ele! — Bruno sugeriu e eu parei o que estava fazendo pra encarar ele.

— Será? — eu perguntei e ele assentiu com um sorrisinho de lado.

— É, vai lá. Larga essa carne aí, a gente adianta. — Luan falou e eu assenti lavando a mão.

Hesitei um pouco em chegar perto, mas me dei coragem e segui em sua direção. Diferente das outras vezes, eu estava com intenção real de conversar sério, mas não sei se ele aceitaria isso. Como Bruno disse, ele é um dos mais foda-se daqui. Eu não ficava pra trás, mas aparentemente estava ficando.

Ele me olhou friamente e se fosse por isso eu até perderia a vontade de falar alguma coisa. Respirei fundo.

— Posso falar com você? — perguntei baixo.

— Sobre? — ele disse seco.

— Sobre... sobre nós — eu gaguejei. Ele me olhou surpreso, mas me acompanhou.

Eu queria me trancar em um quarto e afundar minha cabeça no travesseiro. Eu nunca iria querer que existisse um nós, e agora me referi ao assunto sobre isso. A minha vontade era desistir e sair correndo pra rebolar a raba com as meninas.

— Fala — ele disse quando entramos na sala de televisão.

— Se você ficar me olhando assim, vai ser difícil de falar — eu falei. O olhar dele era de total desdém.

— Eu tô normal — ele deu de ombros se jogando no sofá.

— Você tá chateado comigo?

— Porque estaria?

— Pelo Bruno. — fui direta.

— A gente não tem nada.

— Não foi isso que te perguntei.

— Só tenho essa resposta pra te dar. — ele disse olhando no fundo dos meus olhos. — Se não se importar, tenho mais bebida pra beber.

Ele levantou passando direto por mim indo para a porta. Dei um risada debochada, ele parou, virou e me olhou arqueando as sobrancelhas.

— Você é inacreditável! — eu disse ainda rindo. Ele me olhou sem entender. — Tivemos uma parada incrível em Porto, decidimos não aprofundar aquilo pra não perdemos o sentimento de coisa boa. Mas você está me fazendo perder tudo isso, enxergar outro João. Você era sincero comigo, me falava as coisas pra podermos resolver e continuarmos com nossa diversão. Mas agora ta assim sendo orgulhoso. Mas tranquilo, você que sabe.

— Nem tudo gira em torno de você! Eu posso estar chateado não por causa de você, eu posso não querer te contar e também posso não querer ficar com você nesse momento ou quem sabe nunca mais. Não sou outro João, mas estou em outro momento. — ele disse duramente.

Deixei ele parado me olhando e acelerei o passo pra sair dali. Foi uma péssima ideia ter chamado ele pra conversar. Aparentemente ele enjoou e quem fez papel de idiota fui eu. Mas foda-se. Move on.

Peguei outro copo e enchi de vodca, voltei a dançar com as meninas e com um sorriso no rosto maior do que eu estava. Nenhum homem iria estragar o ano novo incrível que eu planejei de ser.

- Pedro -

Hoje de madrugada quando encontrei a galera reunida na minha casa pra vir pra cá fiquei estagnado nos meus pensamentos. Ao mesmo tempo que eu queria muito me juntar e tacar o foda-se pra o que estava acontecendo entre eu e Malu, eu também cai na real e percebi que estaríamos confinados e que talvez não fosse uma boa ideia pro meu estado mental. Não era igual Porto que estávamos todos se conhecendo, mil maravilhas e se desse alguma merda tinha pra onde ir. Era diferente. Teríamos que conviver de maneira quase que todos melhores amigos, e eu sabia que isso era praticamente impossível de acontecer, com ou sem eu aqui.

No final das contas resolvi não abandonar minha parceria com os moleques por causa de um conflito que eu tive com uma mina qualquer em uma viagem de trabalho qualquer.

João veio batendo os pés se aproximando da churrasqueira. Olhei pro Bruno e o Luan e começamos a rir. O moleque estava quase bufando.

— Qual foi João? Viu um fantasma? — perguntei rindo.

— Um fantasma ruivo, eu acho — Luan brincou virando a carne na grelha.

— Não me enche — ele disse puto olhando fixamente para as meninas dançando. Mas eu sabia que a mente dele estava bem longe dali ou exatamente em alguém dali.

— É, Mariana não é fácil mesmo, vai se acostumando... — Bruno falou pegando uma cerveja no freezer.

— Você deve saber bem mesmo — ele respondeu e saiu andando pra dentro da casa. Bruno me olhou franzindo a sobrancelha.

— O surto veio bem antes do esperado — Luan falou.

— Ih, tô fora, hein! Quero mais é curtir sem problemas de compromisso — falei. Não era mentira, minha intenção aqui era total diversão para livrar minha mente dos problemas que apareceram.

— É isso Pedroca, tamo junto! — Luan falou batendo na minha mão. Bruno continuou calado mexendo nas carnes na grelha.

— Atrapalho os mocinhos? — Laura disse se aproximando. Se não fosse minha treta com Maria Luiza em Porto, eu com certeza teria investido mais na mina por lá. Mas eu estava sem noção demais pra isso na época.

— Quando que você atrapalha Laurinha? — eu disse e ela me olhou de rabo de olho sorrindo enquanto abaixava pra pegar a vodca no chão.

— Não sei, várias vezes tive a impressão que te atrapalhei — ela falou sorrindo maliciosa.

— Vão se atrapalhar em outro lugar por favor! Aqui é lugar de comida e quem não ajuda não atrapalha. Beijos, tchau — Bruno falou expulsando a gente e nós rimos saindo.

— Vem — eu disse puxando ela pra dentro da casa.

João estava jogado no sofá bebendo whisky. Não ia demorar muito pra ele aparecer bêbado fazendo merda, não queria nem ver. Primeiro dia e ele com certeza já daria trabalho.

— Pensei que você não me queria — ela disse sentando na minha cama.

— Ué, porque? — eu perguntei rindo.

— Maria Luiza né — ela falou. Não tinha outra hora pra mina estragar o momento?

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora