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- Pra que cê quer saber? - Parei de olhar pro teto e a encarei.

- Ah sei lá, curiosidade. Você é tão fechado e não parece ser porque você é assim mesmo, parece que você tá evitando coisas e se fechando - Ela falava séria, chegava a ser engraçado.

- Quer ser o que? Psicóloga? - Desconversei e ela revirou os olhos. - Mas agora é sério, que que você quer?

- Não gosto de falar da minha vida pessoal.

- An, ok. Podemos manter assim então.

- Ah, mas você podia me contar - Ela insistiu. E eu realmente não queria entrar nesse assunto.

- Mas isso é minha vida pessoal - Fiz uma cara de confuso e ela bufou. - Se você me falar o porque de você também ser fechada eu talvez conte.

Ela pareceu pensar um pouco.

- Eu não acho que eu seja cem por cento fechada, só não gosto muito de ficar íntima das pessoas. - Me sentei mostrando estar mais interessado. Acho que não somos tão parecidos assim, eu ao contrário dela, sou realmente fechado pras pessoas, mas quando crio uma intimidade eu me sinto bem mais à vontade. - Quando você fica íntimo de alguém, é como se tivesse entregando uma parte sua, você tem meio que uma responsabilidade e um lugar na vida dessa pessoa e pra mim, isso é a parte complicada.

- Como assim?

- Ai, não gosto muito de falar disso.

- Não precisa falar se não quiser. - Eu realmente queria entender aquilo que parecia confuso pra mim, mas nunca forçaria ninguém a nada e também escaparia de ter que tocar naquele maldito assunto.

O pessoal estava cantando alto e dançando e começaram a querer puxar nós dois pra ficar com eles. Mas sei lá, não estava afim e pelo visto Malu também não.

Começamos a falar de assuntos aleatórios, opiniões políticas, debates sobre vida após a morte e mil coisas diferentes. Não entendia como tirávamos isso e de onde, mas ia fluindo. Era legal a companhia dela, além de linda, ela era muito simpática e divertida. Em nenhum momento tocamos em nossas vidas pessoais e isso me fazia sentir confortável, como se não fosse obrigado a nada. Até senti vontade de ficar com ela algumas vezes, mas ignorei.

Conforme fomos conversando e bebendo, percebi que ela foi se animando até que me puxou pra dançar. Começou a rebolar na minha frente e as vezes ficava dançando de palhaçada, eu só ria e observava. Magalhães e Lobão começaram a mandar passinho e me puxaram pra acompanhar eles, esses muleques eram tão engraçados, que quando eu ia mandar um, eles mandavam outro diferentão e eu caia na gargalhada, principalmente porque Malu tentava imitar eles e falhava miseravelmente.

Vi Clara se aproximando.

Ah não - Resmunguei. Lobão escutou e fez um sinal "você tá fodido". Das duas uma, ou eu colava na Malu que talvez levaria na brincadeira e talvez não, ou eu cederia pra ela parar de me encher o saco. Que que custava uns beijos ne?

- Você vai mesmo me negar um beijinho pra ficar com essa garota ai? - Apontou com a cabeça pra Malu.

- Pensei que gostasse dela. - Ela faz careta. Porque que mulher era tão falsa? - Ela é só uma amiga.

Ela murmurou um "aham" e eu só puxei ela pra sair dali.

- Malu -

Já estava dentro do ônibus sentada com Mariana e Karine estava com Victor em um outro banco. Estávamos a caminho da festa. Todos muito alcoolizados já, gritando e cantando. Os monitores ficaram sentados mais pra trás.

No chalé tinha sido legal pra caralho, depois que Pedro sumiu com Clara, eu só fiquei curtindo com umas meninas que pareciam não ter gostado muito de mim na piscina mais cedo, mas elas eram legais.

Mariana não parava de falar o quanto tinha sido bom ter ficado com João. Ainda bem que ela sabia que ele fazia o tipo de filho da puta e não ligaria se ela ficasse com alguém, no entanto faria o mesmo. Mas isso nunca foi problema pra Mari, quer dizer, não depois do Davi, porque ela virou piranhona.

Resolvemos nos juntar com Davi e companhia mesmo e depois nos juntar com os outros meninos. Hoje a festa era em uma boate a parte, então não vieram todos os monitores, porque teria uma festa no hotel. Veio Pedro, João, Clara, Lobão e mais dois moleques.

Procuramos um canto pra nos enfiarmos e logo achamos um próximo ao palco, mas nem tão perto da multidão. E era assim que gostávamos mesmo. Ficamos lá e os meninos foram comprar bebida junto à Mariana que sempre gostava de decidir as coisas.

Ia tocar Anitta hoje na boate e estávamos todos animadíssimos. Pedimos a um carinha que colocasse uma mesa pra botarmos nossos baldes, e ele atendeu nosso pedido.

— Tudo isso? — disse Karine olhando para os meninos com vários baldes na mão.

— Hoje é self-service, várias opções — Caio brincou.

Eles colocaram tudo encima da mesa. Tinha whisky, cerveja e vodka. Realmente, escolha um ou misture tudo e morra.

Avancei logo na cerveja, as meninas pegaram vodka e os meninos no whisky.

— Olha quem parou atrás da gente — disse Mari pra mim olhando de rabo de olho.

Não disfarcei pra olhar e logo notei os meninos parando com bebidas. Até estranhei porque eles estavam trabalhando, mas devia ser liberado quando estávamos fora do hotel. Que se dane.

— Sorte a sua — eu disse brindando com ela e ela sorriu safada.

— Estão fofocando? — disse Laura me abraçando por trás e nós negamos rindo.

Os meninos foram dar uma volta pela boate e eu e as meninas ficamos por ali dançando.

— Cadê Hugo, amiga? — perguntei pra Laura quando fui encher mais meu copo.

— Ele quis ficar por lá mesmo! — ela disse.

— Really? Como assim? — perguntei chocada. Normalmente quem era mais velho nessa viagem não perdia a oportunidade de vir.

— Sei lá, acho que ele tá pegando uma mina lá, vai saber! — ela deu de ombros e eu assenti.

Laura fazia o tipo de menina que realmente não ligava pra nada, não era só por aparência. Eu me identificava um pouco, só que a diferença é que eu me tornei isso, mas não sou exatamente.

— Enche meu copo aqui — Júlia pediu parando de dançar.

Obedeci seu pedido, e aproveitei pra encher o das outras meninas também.

Eu não perdia a oportunidade de olhar para os meninos logo atrás da gente, mas eu estava tentando disfarçar. A Anitta subiu no palco e o público se agitou.

— Então sai, sai, sai da minha frente, hoje eu vou dar trabalho em uma onda diferente — ela começou a cantar e minha raba começou a balançar no ritmo da música.

Cada música uma tomada de fôlego maior. Eu amava todas as músicas dela, dava um ânimo maravilhoso e tudo que eu queria era dançar até acabar.

— Vai meu bem, pensa bem, que igual a mim ninguém mais faz — cantei animada. Era uma das músicas que eu mais gostava.

— É pior pra você quando eu te ignorar, e tu tem um problema de atitude, não vou pensando que sabe tudo, que faz o mundo girar, que pare pra tu passar.

— E na hora que eu cansar... não perco, não perco meu tempo pra te escutar — Mariana completou rebolando atrás de mim.

Estávamos todas dançando e rindo muito. Os meninos voltaram e só ficavam observando a gente dançar.

— Não vou mais parar, cê vai aguentar... Vai malandra — ela cantou rebolando a bunda encima do palco. Todos gritaram

Ela era uma gostosa do caralho, ia muito nela, ô se ia... Ela continuou tocando as músicas dela, as em inglês, em espanhol. Tudo. Continuamos dançando e bebendo muito.

— Não é atoa que essa festa foi cara pra caralho, Anitta um ícone — Júlia disse.

— Não paguei seiscentos reais atoa não — disse Karine.

— Eu paguei só pra ver se ela era isso tudo mesmo — disse Victor se achando. Dei um tapa no ombro dele rindo.

— Não pagamos nada — disse Laura com Mariana dando um beijo no ombro e nós mandamos o dedo do meio.

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora