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A minha vontade era pegar a primeira coisa que aparecesse na minha frente e tacar na parede. A verdade era que eu não me arrependia de nada que eu tivesse dito, eu realmente estava cansado dessa desculpa esfarrapada vindo de todos sobre como Maria Luiza era fodida emocionalmente e como tenho que ter paciência, pode ter sido difícil no começo, mas dez meses depois persistir na mesma argumentação é foda.

— Que que houve? Escutei vozes gritando daqui da sala. — João disse ao sair do quarto bocejando.

— Que que você acha? Eu e Maria Luiza, só podia ser né — falei.

— Teoricamente, podia ter sido com qualquer um, você só sabe brigar mesmo! — ele falou rindo entrando na cozinha.

— Vai se foder, Drummondd! — falei me jogando no sofá.

— Tô brincando irmão, relaxa aí — ele falou levantando a mão em sinal de rendição.

— Vai tomar café no restaurante ou por aqui? — perguntei tentando mudar de assunto.

— Vou tomar um banho e a gente come lá como nos velhos tempos. Ano passado você me chamou pra dar um pulo na praia pra falar que ficou com Malu, e agora? Vai falar que vai terminar o namoro? — ele brincou rindo.

flashback on
- Que se foda - Dei de ombros e ele voltou a comer. - Vou dar um mergulho depois daqui, quer ir? Quero falar uma parada contigo - João só assentiu franzindo a sobrancelha e eu preferi nem falar sobre o que era antes que estivéssemos realmente sozinhos. Ele é um dos meus melhores amigos e eu queria falar sobre o que aconteceu ontem pra dar uma clareada.

- Beijei Malu ontem - Disse ao sair do mar.

- Boa muleque - Ele bateu nas minhas costas.

- Não, é sério. Tu sabe que meu emprego tá em jogo aqui, sabe que essa é uma oportunidade de ouro pra minha experiência.

- E você sabe que esse não é só o motivo - Franzi a sobrancelha - Aquela desgraçada da Letícia te deixou traumatizado e você tem que esquecer isso. Fora que as meninas são só um pente e rala, tu sabe que nunca mais vamos ver elas - Ele disse ao sentar na areia. Ele estava certo, mas ainda sim não estava disposto a trocar meu emprego por uma buceta. - Sem querer ser cuzão, até porque eu gosto pra caralho daquelas malucas, mas é a realidade.

- Temos que ir - Ele assentiu.

João tentou puxar outros assuntos enquanto voltávamos pro chalé, mas eu realmente não estava afim de conversar. Só queria pensar, porque por incrível que pareça até pra mim eu estava sentindo vontade de agarrar aquela desgraçada de novo com total noção de que não posso. Iria cair pra cima da Clara, pra enfim esquecer essa merda toda e seguir com minha vida.
flashback off

Taquei uma almofada nele e fui colocar meu uniforme, éramos obrigados a andar caracterizados pelo hotel pra não ter confusão.

O pessoal foi acordando, mas não esperamos ninguém, nem mesmo as meninas. Já tinha uma galera tomando café da manhã, eu admirava muito quem acordava pra isso, porque na vez que foi a minha viagem, eu só acordava na hora das festas.

— Lembra na nossa viagem? — ele perguntou nostálgico.

— Leu minha mente! — eu ri colocando o pão no prato.

— Eu odeio esse papo de lembranças, acho muito emocionado, mas parando pra pensar... é uma loucura pensar que a gente se conheceu aqui!

— Uhum, você morava em Minas ainda — falei lembrando.

— Se não fosse você me chamando pra morar com vocês, eu estaria maluco na minha casa.

— Livramento! — eu ri.

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora