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Maratona 2/5

Fiquei um bom tempo admirando as ondas se quebrando na beira do mar e brincando com a areia enquanto refletia. Quando dei por conta que aquilo não estava me levando a nada, a não ser me fazer perceber que eu sou apenas uma trouxa, decidi voltar pra dormir.

Fechei minha garrafa, desliguei minha música, e levantei pra dobrar minha canga.

— Seu louco, que que você tá fazendo aí parado? — eu perguntei assustada ao ver Pedro em pé atrás de mim.

— Alguma coisa me disse que você estaria aqui! — ele disse com um sorriso sem graça no rosto.

Seus olhos estavam bem inchados, seu cabelo molhado e sua feição sem graça transmitia o quanto ele estava envergonhado.

— Você não tinha que estar dormindo? — perguntei terminando de dobrar a canga.

— Eu dormi uma horinha — ele falou se aproximando.

Franzi as sobrancelhas estranhando. Olhei no celular e já tinham passado uma hora e meia que eu estava ali. Quando você tá perdido em seus pensamentos, nem nota o tempo passar.

— Acabei de tomar um banho e fui procurar você. Confesso que não foi o primeiro lugar que vim, fui primeiro no jardim que você vomitou, lembra? — ele disse rindo. Apenas assenti — Tá, é o seguinte... fiz merda, muita merda. Mas não era minha intenção.

— Com certeza não — debochei ainda parada em sua frente.

— Só me escuta! — ele disse segurando meus braços.

— Eu vou dormir, não tenho tempo pra isso — falei me afastando.

— Só me deixa falar e eu não te perturbo nunca mais! — ele insistiu.

Só de escutar ele dizendo "nunca mais" meu coração já doía. Não respondi nada, apenas acompanhei ele ao sentar na areia de volta.

— Cara, a última coisa que eu queria era te magoar. Tudo desandou Ma, eu só queria fazer essa viagem ser foda pra nós dois...

Eu o interrompi. — Seu conceito de foda é muito diferente do meu. Desculpa te interromper, mas pra mim uma pessoa que tinha um propósito como esse não tem como começar já com tudo errado, você já estava vacilando desde quando fomos buscar Mari e João no aeroporto.

— A questão é que era pra ser assim, Maria Luiza. — franzi as sobrancelhas — Eu comecei a te ignorar, porque eu ia te fazer uma surpresa aqui, já tinha combinado tudo com o Jorge, ele tinha me autorizado a te pedir em namoro na festa da praia, onde nos beijamos pela primeira vez. Queria fazer algo legal pela primeira vez na vida, nunca fui de fazer coisas assim, mas eu tô completamente apaixonado por você, queria mostrar isso de uma maneira que marcasse nós dois.

Quis suspirar de alívio, quis abraçar ele, beijar, de tão surpresa que eu estava e de tão feliz também, mas nada disso ia anular o que tinha acontecido hoje.

— Isso explica porque você beijou Clara hoje... — continuei sendo irônica.

— Porra, eu estava louco. A última pessoa que eu queria beijar na vida era ela, você sabe disso. Maria, eu te amo! — ele disse olhando no fundo dos meus olhos — Eu fiquei com raiva de você depois que começou a dar confiança pro Arthur e pro Diego e aí tudo que fiz depois disso foi de raiva.

— Você o que? — perguntei tentando me manter lúcida.

— Eu fiquei com raiva de você...

— Não, antes.. Você disse que me...

— Que eu te amo! — ele disse sorrindo. Eu já estava com um sorriso de orelha a orelha no rosto, mas não conseguia dizer nada — Eu demorei um tempo pra perceber isso, mas eu te amo pra caralho garota. Desde que eu te vi no aeroporto, desde que me colocaram pra tomar conta de vocês, eu sabia que você seria encrenca, mas olha, eu não imaginava que seria das grandes.

Eu ri.

— Eu preciso pensar! — falei desmanchando o sorriso do meu rosto e fazendo ele tirar o seu também — Mas isso não quer dizer que eu esteja apavorada, não se preocupa! — eu ri tentando acalmar ele.

— Então é o que? — ele perguntou ansioso.

— Eu só quero pensar um pouco, absorver e entender. Eu sei que pra você o meu jeito é de gente maluca, e acredite, com o tempo eu estou começando a achar também — eu ri — mas eu realmente preciso disso.

Ele ficou parado me analisando com um sorriso no canto da boca. Ficamos em silêncio, até pensei em me levantar, mas aí sim eu me tornaria uma maluca.

Ele sentou mais próximo de mim, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e passou a mão pela minha nunca a segurando forte.

— Você é linda, sabia? — ele disse me olhando sério.

Eu apenas sorri e aproximei meus lábios dos dele. Começamos um beijo lento, atencioso e por mais que todos nossos beijos fossem recheados de sentimentos, esse foi ainda mais. Senti borboletas na barriga como se eu estivesse o vendo pela primeira vez depois de namorar virtualmente por meses.

Ele mordeu meu lábio inferior e começou a me dar vários selinhos.

— Vamos? — sussurrei entre os selinhos.

— Só te deixo sair daqui se você me prometer que não vai ficar estranha depois disso — ele falou sério.

— Não vou fazer isso, só quero um tempo pra absorver! — falei.

Ele assentiu. — Pode ir, vou ficar aqui um pouco!

Eu assenti entregando minha canga pra ele usar. Fui em direção do chalé querendo saltitar, mas fui me fazendo a plena.

Eu ainda nem acreditava no que tinha acabado de acontecer, queria absorver um pouco tudo pra depois não ter margem pra eu querer fugir. Eu o amava também, mesmo não tendo sido capaz de dizer isso pra ele, mas justamente por precisar do meu tempo.

Cheguei no chalé assustada com a bagunça e a quantidade de gente que tinha espalhada pelos cômodos bebendo. Me certifiquei que meu quarto estava seguro e fui dormir.

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora