Coincidências

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- Malu -

Desde que tinha acordado o clima estava tenso entre a casa inteira. Eu não estava entendendo nada, eu não lembrava do que tinha acontecido, só das minhas coisas com Pedro, fora isso nada.

Também não olhei na cara dele em nenhum momento e sinceramente nem estava mais tão disposta a falar como antes, não depois do que ouvi.

— Sacanagem ficarmos nesse clima horrível logo na véspera de ano novo — Mariana disse se jogando no sofá com seu café.

— Se você se acertar com Pedro e os moleques conversarem numa boa com Miguel e Samuel tudo vai ficar bem — Karine disse.

— Eu não vou, você ignorou o que Luan falou ontem a noite? — perguntei diretamente pra ela.

Ninguém entendeu e eu também não iria falar.

— Não ignorei, conversei e nos resolvemos. Tá achando que namoro é assim? Qualquer coisinha você simplesmente termina? — ela perguntou se levantando estressada e indo pra cozinha.

Levantei às mãos em sinal de rendição e continuei sentada na minha.

— Aí... mais uma pra você se acertar! — Sarah disse apontando com a cabeça.

— Mas me conta o que foi exatamente que aconteceu...

— Samuel foi pra cima de Sarah querendo cobrar satisfação por ela ter largado ele e voltado pra Bruno. Ele estava super bêbado — Mirella contou.

— E eu tentando esquivar da situação, não querendo discussão, Bruno viu e achou que ele estava tentando me beijar, aí já viu né... — Sarah complementou.

— Não acredito, eles se bateram? Como eu não vi isso? — falei levando a mão na boca.

— Não louca, eles nem chegaram a se falar. Fomos embora quando os meninos acalmaram Bruno, Sarah explicou pra ele quando chegamos e os meninos ninguém os viu chegar, mas fui no quarto e eles estão dormindo — Giselle terminou de contar.

— E eu? — perguntei.

— Pedro te levou pro quarto no colo, você dormiu no carro. Ele não desceu mais, aparentemente dormiu também — Mari falou e eu assenti mostrando entender.

Eu tinha real ficado bêbada. Aproveitei que as meninas já estavam comendo e fui comer também.

Karine estava na cozinha, dei um tapinha na bunda dela e a puxei pra um abraço.

— Hoje é um dia especial pra gente, sempre gostamos muito de ano novo, não vamos discutir!

— Eu sei, mas nem foi uma discussão. Só acho que você é muito severa com as coisas! — ela falou terminando de lavar a louça.

— É, talvez... — dei de ombros.

Fiquei do lado dela pra ajudá-la. Esses garotos também não serviam pra porra nenhuma, com exceção claro dos nossos masterchefs.

— Maria, vem aqui no quarto! — Pedro disse aparecendo na cozinha e saindo logo em seguida.

Larguei as coisas com ela, peguei meu pão na sanduicheira e subi.

— Fala! — eu disse mordendo meu pão e sentando na cama.

— Você não tem nada pra falar comigo ou conversar? — ele perguntou sentando na minha frente.

— Eu tinha, mas aí escutei uma parada ontem e desisti — falei firme na voz e ainda comendo meu pão.

— Fala sério Maria Luiza, você acha pior mesmo eu ter falado uma idiotice ali na hora da raiva e com álcool na mente do que você ter mentido pra mim?

— Sim, até porque eu não menti, eu só não te contei algo desnecessário. Pra quê que eu tinha que te falar que fiquei acordada até tarde bebendo com amigos?

— Ahhh claro, "amigos" mesmo — ele disse fazendo aspas com a mão e rindo sarcástico.

— A Sarah não é minha amiga não? — perguntei já começando a me estressar.

— Essa não é a questão! Se eu ainda não tivesse batido na tecla de que tô puto e percebendo que ele está te olhando você poderia até não ter falado, mas eu falei e ainda falei no carro com Bruno, que que custava ter contado?

— Não custava nada, eu sei. Mas é que eles tentaram forçar um pouco a barra com a gente e eu não queria que você ficasse puto e arrumasse confusão justamente nessa viagem — falei já aliviando meus nervos.

— Tá vendo?! Puta que pariu, eu sabia, eu mato esse moleque! — ele disse se levantando.

— Para de graça Pedro, senta aqui pra conversar direito! — falei me ajeitando na cama — Cara, eu errei sim, eu sei, mas não justifica você ter falado aquilo. Mesmo que eu tivesse mentido, foi uma mentira pra não causar um mal maior e não porque eu tinha alguma intenção com ele, já você não.

— Eu estava puto Malu, querendo arranjar qualquer coisinha pra te atiçar e vacilar também. Eu sei que fui um vacilão, ainda mais com uma mina que tá convivendo aqui com a gente. Me desculpa?! — ele disse segurando meu rosto com as duas mãos.

— Me desculpa também, prometo não omitir mais nada de você — falei jurando de dedinho com ele.

Ele sorriu e me beijou. Tinha passado quase um dia inteiro recebendo um gelo desse moleque e afirmo com toda certeza que era horrível.

— Já eu não posso te prometer que não vou tirar uma satisfação com ele — ele disse se afastando do beijo.

— Porra Pedro... olha, se você quer saber, ele nem ficou tanto em cima, foi mais pelo Samuel, eu tenho certeza. O Miguel me respeita e é um moleque legal, eu juro — falei tentando apaziguar.

— Hum, sei não hein... — ele disse me olhando desconfiado e dando um sorriso safado.

Empurrei ele pra deitar e subi em cima dele o beijando.

- Pedro -

Eu e Maria Luiza já tínhamos descarregado nossa raiva um no outro. Tanto na conversa, quanto no sexo. E eu estava feliz com isso, odiava ficar brigado com essa garota.

Bruno já tinha ido atrás da gente pra ajudar com a arrumação da casa, hoje seria festa e virada, então as meninas adoravam aquelas palhaçadinhas de enfeites que davam um trabalho do caralho.

Mas antes de qualquer coisa, eu precisava tirar um papo com Miguel pra tudo rolar tranquilamente. Não queria estresse pra essa noite.

— Coe irmão, posso falar contigo rapidinho? — perguntei quando vi ele de bobeira varrendo a área da churrasqueira.

Ele assentiu sorridente. Pau no cu.

— Hoje é um dia feliz pra todos, queremos nos divertir, te peço encarecidamente pra que não fique de muita gracinha com a Maria — falei fazendo ele franzir as sobrancelhas.

— Hã? Que viagem é essa, Pedro? Te conheço desde um tempão na faculdade, não desrespeitaria seu namoro de jeito nenhum — ele sendo um cínico do caralho.

— Uhum, sei. Sabemos que não é bem assim. Fico chateado porque tu é muito gente boa, antes disso aqui sempre nos damos bem, mas é foda te ver secando ela na minha frente — fui direto.

— Tá, desculpa então brother! Tá tudo certo entre a gente? — ele disse apertando minha mão e eu assenti.

— Aliás, eu tô com a Mirella, se passei a impressão que estou dando em cima da Malu realmente peço desculpas — ele se defendeu evidentemente com o cu na mão.

Dei um sorriso falso e virei as costas.

— Ah! — chamei — Não é respeitar só meu relacionamento, é respeitar ela também. Não é por mim que você tem que fazer isso, e sim por ela!

Ele assentiu e continuou varrendo.

No fim, eu sabia sim que ele era gente boa e um peidão do caralho, mas se eu não parecesse um filho da puta rabugento ele não iria dar bola e eu ia passar como otário.

Procurei as meninas com os enfeites pra ajudar a colocar. Tinham umas luzes malucas que elas cismavam de espalhar por aí e sobrava pra mim isso.