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Malu -

Nem prestei atenção direito nas aulas de hoje, porque eu estava ansiosa pra encontrar com meus pais e almoçar com eles. Tínhamos escolhido praia pra ir hoje com a galera toda, mas como amanheceu chovendo, cada um decidiu seus planos e resolvemos se reunir mais pro final da tarde.

— Oi, vai fazer o que? — Pedro perguntou ao me encontrar no corredor.

— Almoçar com meus pais e meus tios e você? — perguntei.

— Pedro, festa final de semana lá em casa. Te vejo lá? — uma menina passou entregando um convite na mão dele. Eu ri da situação, ele parecia odiar ser "desejado" assim, pelo menos no momento.

— Não vou fazer nada, ia te chamar pra almoçar, mas como tem planos, deixa pro final de semana — ele falou me puxando pra um selinho e virando as costas.

— Pedro — chamei e ele se virou — quer ir?

— O que? Almoçar com vocês? — ele parecia surpreso.

— É, se você se sentir a vontade, é claro! — falei nervosa.

— Por mim tudo bem — ele falou.

Avisei aos meus pais que não precisava mais me buscar que já tinha arrumado uma carona, muito boa por sinal.

Fomos o caminho todo cantando músicas antigas de Sandy e Junior, eu me divertia com esse garoto e me surpreendia cada vez mais de como era fácil gostar dele, e era por isso que eu resistia cada vez mais.

— Trouxe o namoradinho? — Bruno falou baixo no meu ouvido.

— Não enche! — sussurrei.

— Ui, Malu trazendo um menino pra almoçar com a família? Cenas inéditas! — Eduarda implicou.

— Sério? Assim vou me sentir privilegiado — Pedro disse olhando pra mim e dando um sorrisinho de lado.

Pra não variar, optamos por ir no Outback. Meus pais, minha vó e meus tios já estavam analisando o cardápio e pelo visto completamente indecisos.

Pedimos a costela e uma porção daquela batata incrível que eles faziam. Minha mãe também não resistiu e pediu as cebolas, que ela jurava ser a melhor que ela tinha comido na vida, eu já discordava. Ao contrário do que tinha acontecido ontem, Pedro foi bem mais simpático e receptivo com eles, até meu pai que é difícil de puxar conversa estava caindo no papo. Esse era o problema desse garoto.

Fiquei por alguns segundos observando aquela cena toda, e até que pela primeira vez não me senti incomodada de ver alguém tão próximo do meu mundinho, não o vi como ameaça.

Com essa minha mudança eu já tinha dado grandes passos, deixado os meninos entrarem na minha vida, até chamar de amigo eu consegui, porque eles me cativaram, mas a maneira como eu estava superando com o Pedro... isso sim era cenas jamais vistas.

— Mas porque você não contou pro seu amigo que você vai se mudar, querida? — minha mãe perguntou me puxando do meu transe.

— Ah... achei desnecessário. Ainda não comecei a ver o caminhão de mudança e nem nada do tipo, eu ia falar depois. Não vai mudar em nada mesmo, as meninas moram a dois quarterões da gente.

— Bom, eu gostaria que ela tivesse me contado, mas nada demais também — ele falou me abraçando de lado.

Depois de comermos minha avó decidiu que queria passar em algumas lojas pra olhar o shopping, só Deus sabia o quanto essa velhinha gostava de caminhar. Os homens, sem paciência alguma, foram em loja de time pra ver camisa, meu pai como um flamenguista doente aproveitou pra passar na loja preferida dele.

— Filha, a casa que você vai já está toda mobiliada? — minha vó perguntou e eu assenti. — Então vou te dar uma roupa de cama bem confortável que eu sei que cê adora, é só uma lembrancinha, mas já estou vendo com sua mãe o seu carro pro ano que vem.

— Que? Como assim vó? — perguntei completamente surpresa e ansiosa.

— É, e eu vou te dar sua carteira de motorista! — minha mãe falou me puxando pra um abraço.

— E pra mim vó, nada? — Eduarda perguntou enciumada.

— Que isso Eduarda! — tia Solange repreendeu — Mãe, deixa essa mal educada sem nada mesmo. Só pensa em presente.

— Ahh, ela sabe que dou tudo pra ela, inclusive quem vai pagar sua viagem pra nova iorque, hein? — minha vó perguntou fazendo ela sorrir.

— Você vai pra NEW YORK? — perguntei fazendo cosquinha nela.

— Claro meu bem, eu sou chique! — ela disse jogando o cabelo fazendo a gente rir.

Continuamos andando pelo shopping e entrando em trocentas lojas. Acabou que minha vó comprou uma roupa de cama pra mim e pra Duda, ainda comprou um travesseiro maravilhoso pra mim. Essa mulher era demais!

Paramos pra comprar um sorvete e bater um papo só de mulher enquanto esperávamos os machos voltarem dos seus afazeres inúteis.

— Malu, o Pedro é um gato, porque você não fica com ele? — minha mãe perguntou.

— Eu fico com ele ás vezes, mãe, mas você sabe como sou, não sirvo pra namorar, tô longe de querer também! — falei.

— Poxa, eu gostei tanto dele — minha vó disse comendo seu sorvete.

— Eu acho que você deveria sim dar uma chance pra ele. Uma vez ele foi me buscar na escola pra fazer um favor pro Bruno, na época que eu estava meio doente e não queria voltar de busão, e as meninas não paravam de me perturbar pra conseguir o número dele, se eu fosse você investia — Duda contou me fazendo rir.

— Bruno é foda, confiei que ele ia te buscar e ele faz isso! — tia Sol reclamou.

Rimos.

— Em falar neles... — falei.

Não acreditei quando vi meu pai e Pedro vestindo a mesma camisa do flamengo vindo na minha direção. Todas nós nos entreolhamos. Meu pai nunca acolheu um garoto assim, e se foi ele que deu essa camisa pra ele, eu não sabia mais o que está acontecendo.

— Maria Luiza, por mim você casava com esse garoto! — meu pai falou abraçando ele de lado.

Arregalei os olhos, olhei pra Bruno que bateu de ombros se fazendo de desentendido. Meu pai foi abraçar minha mãe e eu continuei em silêncio só seguindo eles até o estacionamento.

— Ele me amou! — Pedro falou baixo.

— É, não tô acreditando nisso — falei ainda sem palavras.

— Porque? Não é bom? — ele perguntou.

— Acho que sim, sei lá — falei.

— Malu... — ele falou me puxando pra parar de andar — Não usa isso como pretexto pra se afastar, ainda mais agora que você tá mais solta e tá tudo certo. Eu não vou te magoar, estamos só curtindo — ele falou segurando meu rosto.

— Eu não vou me afastar! — falei ainda incerta, mas com consciência de que tentaria não fazer.

— Promete? — ele perguntou.

— Vamos gente? — meu tio chamou a gente. Salva pelo gongo!

CoincidênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora