Livro Um
"Não é que seja proibido... é porque é real."
Até onde você iria por algo que sente de verdade?
Teria coragem de arriscar tudo - o que tem e o que ainda nem viveu - por um sentimento que nunca planejou?
Helena nunca imaginou mudar de país...
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Eu estava esperando a Ângela voltar do banheiro quando meu celular começou a tocar em cima da mesa.
Peguei ele e vi que era a Beatriz.
- Alô.
- Tem tempo para ouvir minhas lamentações? - ela perguntou, e percebi que sua voz estava chorosa.
Eu estava em uma lanchonete, e segundo a Ângela, essa era a melhor da cidade. Ela tinha aparecido lá em casa e me convidado para almoçar fora. Eu aceitei na hora porque não estava com paciência para fazer o almoço.
O fato deu não saber cozinhar também ajudou na decisão.
- Claro. - exclamei.
Ela suspirou.
- Eu acabei de chegar em casa. Passei a noite toda fora porque nenhuma série estava me prendendo. - contou. - Acredita que conheci um barman chamado Charles e contei minha vida toda para ele?
- Eu também fiz isso. - revelei, lembrando da noite que reencontrei o Bruno.
- E depois transei com ele atrás do balcão da boate. - completou.
- Ok, isso eu não fiz.
Ela soltou uma risada fraca.
- Preciso começar a me acostumar com a ideia que o Peter não vai voltar. - disse, baixo. - É horrível porque fico como idiota esperando.
Eu senti meu coração apertar no peito querendo abraçar ela.
- Você não é idiota, Beatriz. Ele que é. - exclamei.
- Acredita que vi ele esses dias na rua e o imbecil praticamente me ignorou? - contou. - Eu só não tirei satisfação porque não queria armar um barraco.
- Se um dia ele aparecer querendo voltar você tem que bater a porta na cara dele com força. Você merece alguém muito melhor. - falei, e vi que a Ângela estava voltando para perto da mesa.
- Mereço... - murmurou, não totalmente confiante. - Tenho que ir, minha mãe quer que eu ajude ela no salão.
Beatriz e salão de beleza não combinavam porque nesse estado, ela podia acabar deixando alguém careca. Mas, fiquei quieta porque eu sabia que ela estava tentando se distrair indo ajudar a mãe.
- Qualquer coisa eu estou aqui.
Ela encerrou a ligação e eu coloquei o celular de volta na mesa.
- Já fez os pedidos? - Ângela perguntou, sentando ao meu lado. - Eu estou morrendo de fome.
É, eu também estava.
- Estou esperando a garçonete se aproximar. - contei, ainda pensando na Beatriz.
Eu só queria que ela encontrasse alguém que reconhecesse a garota maravilhosa que ela era. Assim como ela desejou por anos que eu fosse feliz.
- Você me disse mais cedo que estava com problemas. - ela lembrou, e cruzou os braços em cima da mesa.
- Não é exatamente um problema... - exclamei, ficando sem graça.
- O que é então? - perguntou, curiosa.
Eu olhei em volta para garantir que os outros clientes não estavam prestando a atenção na nossa conversa. Ângela tinha uma coisa que fazia eu confiar nela sem nem mesmo a gente se conhecer por muito tempo.
- Já sentiu que estava fazendo uma coisa em excesso? - falei, e ela franziu o cenho.
- Por que? Você está fazendo algo em excesso que está te incomodando? - quis entender.
- Não me incomoda. Na verdade, eu gosto muito. É só que... - tentei explicar. - Eu não gosto de pensar que é só isso que fazemos.
Ela pareceu mais confusa.
- Do que exatamente você está falando, Helena? - perguntou.
- De sexo. - respondi, finalmente.
Ela riu.
- Está reclamando de transar muito? Eu estou na seca há tanto tempo que se um cara aparecer na minha frente eu me jogo em cima dele. - confessou, se divertindo.
- Espera... eu não estou reclamando. - contei. - É só que a gente não faz mais nada. Para você ter uma ideia, ontem, o Bruno estava me falando sobre a previsão do tempo e minutos depois estávamos transando no chão da sala.
Só a lembrança me fazia sentir um frio na barriga.
- Você está começando a me deixar com inveja. - disse.
- É sério.
- Helena, você está reclamando de barriga cheia. Olha o homem que você tem em casa, eu até entendo porque não consegue ficar com as mãos longe dele. - exclamou.
- Já disse que não estou reclamando. - afirmei. - A gente mal sai de casa. Um dia jantamos fora e foi uma tortura não arrastar ele para o banheiro comigo.
Ela suspirou e seus olhos brilharam.
- Saudade de ter esse tipo de tesão em alguém. - disse. - Tenta jogar baralho. Já é fazer uma coisa diferente.
Nesse momento a garçonete se aproximou deixando a Ângela feliz.
Jogar baralho.
Era uma boa ideia.
Esse era o tipo de conselho que a Beatriz daria. Antes de ficar me zuando, é claro.
Ângela e ela com certeza iriam se dar bem se um dia se conhecessem.
Depois de fazer nossos pedidos, a comida chegou em poucos minutos e realmente, era muito boa. Quando Ângela se despediu, eu chamei um táxi, mas não dei meu endereço. Pedi para o motorista me levar até uma loja.