Eu estava esperando a Ângela voltar do banheiro quando meu celular começou a tocar em cima da mesa.
Peguei ele e vi que era a Beatriz.
- Alô.
- Tem tempo para ouvir minhas lamentações? - ela perguntou, e percebi que sua voz estava chorosa.
Eu estava em uma lanchonete, e segundo a Ângela, essa era a melhor da cidade. Ela tinha aparecido lá em casa e me convidado para almoçar fora. Eu aceitei na hora porque não estava com paciência para fazer o almoço.
O fato deu não saber cozinhar também ajudou na decisão.
- Claro. - exclamei.
Ela suspirou.
- Eu acabei de chegar em casa. Passei a noite toda fora porque nenhuma série estava me prendendo. - contou. - Acredita que conheci um barman chamado Charles e contei minha vida toda para ele?
- Eu também fiz isso. - revelei, lembrando da noite que reencontrei o Bruno.
- E depois transei com ele atrás do balcão da boate. - completou.
- Ok, isso eu não fiz.
Ela soltou uma risada fraca.
- Preciso começar a me acostumar com a ideia que o Peter não vai voltar. - disse, baixo. - É horrível porque fico como idiota esperando.
Eu senti meu coração apertar no peito querendo abraçar ela.
- Você não é idiota, Beatriz. Ele que é. - exclamei.
- Acredita que vi ele esses dias na rua e o imbecil praticamente me ignorou? - contou. - Eu só não tirei satisfação porque não queria armar um barraco.
- Se um dia ele aparecer querendo voltar você tem que bater a porta na cara dele com força. Você merece alguém muito melhor. - falei, e vi que a Ângela estava voltando para perto da mesa.
- Mereço... - murmurou, não totalmente confiante. - Tenho que ir, minha mãe quer que eu ajude ela no salão.
Beatriz e salão de beleza não combinavam porque nesse estado, ela podia acabar deixando alguém careca. Mas, fiquei quieta porque eu sabia que ela estava tentando se distrair indo ajudar a mãe.
- Qualquer coisa eu estou aqui.
Ela encerrou a ligação e eu coloquei o celular de volta na mesa.
- Já fez os pedidos? - Ângela perguntou, sentando ao meu lado. - Eu estou morrendo de fome.
É, eu também estava.
- Estou esperando a garçonete se aproximar. - contei, ainda pensando na Beatriz.
Eu só queria que ela encontrasse alguém que reconhecesse a garota maravilhosa que ela era. Assim como ela desejou por anos que eu fosse feliz.
- Você me disse mais cedo que estava com problemas. - ela lembrou, e cruzou os braços em cima da mesa.
- Não é exatamente um problema... - exclamei, ficando sem graça.
- O que é então? - perguntou, curiosa.
Eu olhei em volta para garantir que os outros clientes não estavam prestando a atenção na nossa conversa. Ângela tinha uma coisa que fazia eu confiar nela sem nem mesmo a gente se conhecer por muito tempo.
- Já sentiu que estava fazendo uma coisa em excesso? - falei, e ela franziu o cenho.
- Por que? Você está fazendo algo em excesso que está te incomodando? - quis entender.
- Não me incomoda. Na verdade, eu gosto muito. É só que... - tentei explicar. - Eu não gosto de pensar que é só isso que fazemos.
Ela pareceu mais confusa.
- Do que exatamente você está falando, Helena? - perguntou.
- De sexo. - respondi, finalmente.
Ela riu.
- Está reclamando de transar muito? Eu estou na seca há tanto tempo que se um cara aparecer na minha frente eu me jogo em cima dele. - confessou, se divertindo.
- Espera... eu não estou reclamando. - contei. - É só que a gente não faz mais nada. Para você ter uma ideia, ontem, o Bruno estava me falando sobre a previsão do tempo e minutos depois estávamos transando no chão da sala.
Só a lembrança me fazia sentir um frio na barriga.
- Você está começando a me deixar com inveja. - disse.
- É sério.
- Helena, você está reclamando de barriga cheia. Olha o homem que você tem em casa, eu até entendo porque não consegue ficar com as mãos longe dele. - exclamou.
- Já disse que não estou reclamando. - afirmei. - A gente mal sai de casa. Um dia jantamos fora e foi uma tortura não arrastar ele para o banheiro comigo.
Ela suspirou e seus olhos brilharam.
- Saudade de ter esse tipo de tesão em alguém. - disse. - Tenta jogar baralho. Já é fazer uma coisa diferente.
Nesse momento a garçonete se aproximou deixando a Ângela feliz.
Jogar baralho.
Era uma boa ideia.
Esse era o tipo de conselho que a Beatriz daria. Antes de ficar me zuando, é claro.
Ângela e ela com certeza iriam se dar bem se um dia se conhecessem.
Depois de fazer nossos pedidos, a comida chegou em poucos minutos e realmente, era muito boa. Quando Ângela se despediu, eu chamei um táxi, mas não dei meu endereço. Pedi para o motorista me levar até uma loja.
E lá eu comprei um baralho.
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Ele é o Filho Do Meu Padrasto // Concluído
Teen Fiction(CONCLUÍDA) Livro Um "Não é que seja proibido... é porque é real" Até onde você iria pelas coisas que sente em seu coração? Teria coragem de arriscar tudo que tem, ou que vai ter, por algo que nem planejou sentir? Helena nunca imaginei mudar de país...