Capítulo 40: Nosso Trato

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- Helena, abre a porta

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- Helena, abre a porta. - ouvi uma voz feminina ordenar me fazendo cobrir o rosto com a coberta.

Eu não ia atender e não importa quem fosse.

- Helena, eu sei que está aí. - a voz estava irritada.

Abri os olhos quando a pessoa que estava lá fora começou a bater com força na porta.

Parecia estar socando a madeira.

Fiz uma careta quando minha cabeça começou a latejar, mas o que estava me incomodando mesmo era o gosto horrível que eu estava sentindo na boca.

Me virei para o outro lado da cama e fiquei surpresa quando vi o Bruno deitado do meu lado.

- Mas o que...

Eu não estava lembrando de muita coisa.

Não lembrava como tinha chegado até em casa, muito menos como cheguei até meu quarto.

- Abre a porta, Helena. - a pessoa lá fora falou novamente e eu reconheci a voz.

Era a minha mãe.

Sentei na cama assustada quando me dei conta da merda que estava prestes a acontecer.

Bruno, estava deitado ao meu lado e a minha mãe estava lá fora me chamando.

- Já vou... - gritei e isso fez o Bruno abrir os olhos. - O que você está fazendo aqui? - perguntei sussurrando.

Eu tinha que confessar que era bom ter ele ali, mas a minha mãe não iria achar o mesmo.

- Você me agarrou ontem quando eu te trouxe até seu quarto. - respondeu, se espreguiçando. - Tentei sair e você ameaçou gritar.

Minha mãe bateu novamente na porta e eu resolvi deixar essa conversa com o Bruno para depois.

- Fica quieto porque minha mãe está na porta. - alertei e ele sentou na cama.

Passei a mão no meu cabelo tentando ficar mais apresentável.

Olhei em direção ao loiro e quis bater nele quando vi um sorriso em seus lábios.

Abri só um pouco a porta e vi minha mãe me olhando com desconfiança.

- Mãe. - falei sorrindo. - Tudo bem?

- O que você estava fazendo, Helena? - perguntou com o cenho franzido.

- Eu estava dormindo. - respondi e revirei os olhos como se fosse óbvio. - O que mais eu estaria fazendo?

Ela me olhou por alguns segundos antes de mudar de assunto.

- Te chamei porque preciso te entregar algo. - enfiou a mão no seu bolso e tirou uma chave de lá. - Aqui.

Peguei a chave me sentindo perdida.

- Pra que isso? - questionei.

- Seu carro, Helena. - respondeu. - Você se esqueceu do nosso trato?

Trato?

Encarei a chave tentando forçar meu cérebro a colaborar com alguma lembrança.

- Ah... - exclamei quando a lembrança veio. - Mãe, eu não acho que seja o momento certo para esse tipo de presente. - falei baixinho com medo do Bruno ouvir.

- Não está feliz? - perguntou notando meu desconforto. - Qualquer pessoa normal ficaria, ainda mais se essa pessoa ganhasse um carro na sua idade. Eu sei que a gente combinou que você só ganharia ele quando ficasse mais velha, mas achei melhor te entregar ele hoje já que você vai embora amanhã.

Engoli em seco não sabendo ao certo o que responder.

Ganhar aquele carro não estava certo.

- Você se aproximou do Bruno como eu pedi, e eu estou te dando esse carro como você pediu. - disse ainda sem entender minha hesitação. - Eu preciso ir, tenho muitas coisas para resolver em relação a sua viagem.

- Mãe, é sério.

- Eu realmente espero que você já tenha arrumado sua mala, Helena. Amanhã o dia será corrido. - completou.

Fechei a porta quando ela se afastou parecendo atrasada.

A chave na minha mão estava pesada, isso me fazia sentir algo estranho no peito.

Eu não queria aquele presente.

- Achei interessante sua conversa com a sua mãe. - Bruno exclamou me fazendo olhá-lo. - Vou achar ainda mais interessante se você me contar a história toda.

Merda...

Ele ouviu a conversa.

Guardei a chave no meu bolso e sorri tentando amenizar o clima.

- Você vai achar graça quando eu contar. - falei desejando que ele realmente acabasse rindo.

Mas eu sabia que isso não aconteceria.

- Então me conta a parte engraçada. - disse, seu tom de voz estava sério.

Isso me fez parar de sorrir.

Respirei fundo tentando ficar calma.

- Bruno, eu juro que até tinha esquecido dessa idiotice.

- Então você não se aproximou de mim para conseguir um carro? - perguntou.

- Eu nem lembrava desse tal "trato" com a minha mãe. Isso foi quando eu cheguei.

E era verdade, se a minha mãe não tivesse aparecido na minha porta com essa chave, eu nunca teria lembrado.

- Claro. - ele exclamou com um sorriso irônico nos lábios.

O loiro levantou e pegou seu celular que estava em cima da mesinha do abajur. Ele guardou o aparelho no bolso da calça e pegou sua jaqueta que estava jogada no canto da cama.

Me aproximei dele sentindo uma urgência em tocá-lo, só que ele se afastou quando tentei tocar seu braço.

- Não faz isso... - pedi ficando desesperada.

- Eu vou sair antes que mais alguém apareça. - avisou ignorando minhas palavras.

- Bruno... - exclamei enquanto ele caminhava até a porta.

Por que a minha mãe não esqueceu dessa merda?

- Ontem a noite você exagerou, espero que fique bem. - falou sem se virar.

Não desistindo, eu corri até ele e segurei seu braço puxando seu corpo em direção ao meu.

Ele não me tocou de volta, mas também não me afastou como dá última vez, e eu levei como um bom sinal.

- Olha... - coloquei minhas mãos em cada lado do seu rosto e encarei seus olhos azuis. - Eu fui uma idiota em aceitar esse trato com a minha mãe, e eu me arrependo de ter feito isso. Na época eu só queria ir embora daqui, eu odiava cada segundo dentro dessa casa. Mas isso mudou. Você me fez gostar daqui, me fez desejar ficar aqui. Eu continuo querendo você, não a merda de um carro. Por favor, acredite.

Ele franziu o cenho e ficou me olhando como se tivesse avaliando minhas palavras.

Acredita, Bruno.

No final, ele se afastou e saiu sem dizer mais nada.

Fiquei encarando a porta ainda esperando que ele voltasse.

Sentei na cama sentindo minhas pernas fracas. Minha garganta estava seca e meus olhos ardiam.

Chorar era o de menos.

Eu queria que ele voltasse, que me prometesse que ficaríamos juntos. Que ele acreditasse nas minhas palavras.

Mas isso também não aconteceu.

Ele é o Filho Do Meu Padrasto // ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora