Capítulo 43

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Decisões erradas

Anne:

Acordei animada, pulando para fora da cama e ao invés do normal, preparei café para Gilbert. O acordei lhe dando um susto, o que resultou em uma sessão de beijos de desculpas. 

Hoje era meu dia de folga na academia, então tinha horas livres para curtir e aproveitar do jeito que quisesse. 

Gil saiu para trabalhar, dando suas aulas, demonstrando o profissional exemplar que era. Todas as crianças o amavam e confesso que às vezes ficava com ciúmes das mães, essas que descaradamente davam em cima dele. Ele simplesmente ria e fingia não ver, ignorando, o que me fazia rir também. 

Vê-lo cuidando dos aluninhos iniciantes deixava meu coração aquecendo e sorrisos surgiam em meus lábios, sem parar. Não conseguia evitar pensar nele cuidando de nosso bebê, ensinando-o a patinar, vendo uma criancinha deslizando no gelo rindo e sendo feliz. 

Com o passar das semanas via e observava minha barriga crescendo e a alisava de frente para o espelho. Com mil planos e um monte de pensamentos novos e bobos. Pensamentos de mãe. 

Os ultrassons eram recorrentes, mas ainda não era possível descobrir qual era o sexo. Isso era uma das coisas que mais me deixava ansiosa, é claro, o amor não se limita ao sexo, mas saber o que nos aguarda será um alívio e tanto. Não tenho nenhuma preferência, mas Gil insiste muito que será uma menina e por isso estou quase entrando na sua onda. 

Pode parecer um pouco estranho, mas sentia uma conexão forte com esse que carregava em meu ventre. Era bom, diferente, mas divinamente bom. Ter um lado mãe, um lado cuidadoso, aflorando, iluminava meus dias. 

Por culpa do tédio de ficar a tarde inteira sozinha em casa, já que além de ter Gil fora de casa também não havia feito amigos na nova cidade, tive uma ideia maluca. 

Decidi que faria uma surpresa para Blythe, indo até a academia sem avisar para ninguém. Preparo minha antiga mochila de treinos e coloco ali dentro meu conjunto de patins. 

Ando até o ginásio e entro pela porta da frente com um sorriso animado fluindo entre os lábios. 

─ Anne? O que está fazendo aqui? ─ Gil pergunta no exato minuto em que me vê descendo as escadas para me aproximar do rink. 

─ Vim patinar. ─ afirmo e olho para ele, alegre. ─ Sinto muito a falta disso tudo. E é claro, também vim te ver, não fique enciumado. 

─ Fico contente em te ter aqui hoje. Quer ser minha aluna? ─ indaga com ironia. 

─ Será um prazer. Veremos o que pode me ensinar, de preferência ensine algo que eu ainda não saiba. ─ puxo os patins da bolsa e os calço, firmando bem os cadarços, como sempre. 

─ Olha só, está se achando a sabe tudo. ─ zomba e eu o olho com "aquele" olhar. ─ Não que não seja, né. ─ ele tenta consertar seu erro. 

─ Acho que o peso da barriga ainda não irá me atrapalhar, tudo certo, professor Blythe. 

Gil segura minha mão e me puxa para dentro do rink com delicadeza. Inspiro fundo e sinto um sentimento de liberdade tomando conta de mim, era maravilhoso estar ali depois de tantas semanas longe. 

Me solto dos braços de Gilbert e deslizo por toda a extensão da pista, sozinha, apenas sentindo a brisa gelada correndo por meu rosto. Com os cabelos esvoaçantes, continuei a patinar e sabia que meu namorado me observava de longe. Ele provavelmente tinha em seu semblante aquela perfeita e típica cara de apaixonado, que era como costumava me admirar em praticamente todos os momentos do dia. 

Sempre pegava-o me olhando de soslaio e isso o fazia sorrir feito um bobo. Toda vez que acordava ao seu lado, com sua respiração batendo em meu pescoço e seu calor colado ao meu, era simplesmente como se fosse a primeira vez. Olhava para ele e pensava o quanto era lindo e o quanto era meu. Eu o fazia ser meu. Nós pertenciamos um ao outro. 

Evitei saltar, é claro, mas não me contive quanto a dar alguns rodopios aleatórios girando pelo gelo. Conversei com os alunos de Gil e eles ganharam minha atenção por um longo tempo. A menina, Liz, fez com que eu respondesse um questionário sobre minha vida e falava sem parar de como eu era linda e de como ela gostaria de ter cabelos coloridos como os meus. Aquilo me fez sentir uma alegria surreal, ela era pura e uma criança admirável. 

Antes de irmos embora, voltei para o rink e patinei por mais alguns minutos. Dessa vez com Gilbert sendo meu parceiro, exatamente como éramos a tão pouco tempo atrás. Encenamos alguns passos simples e o mais importante de tudo, rimos e tivemos um delicioso momento de casal. Ah, como eu amava esse bobo. Amava Gilbert Blythe, amava a relação que havíamos construído e ainda continuávamos a construir. 

Ao entrar no carro foi quando percebi o erro que tinha cometido. Percebi minhas decisões erradas. Senti um forte aperto, que mais pareceu como uma pontada de dor em meu baixo ventre. Olhei para baixo e meu coração parou de bater, minha garganta ficou embargada e minha pressão baixou. Havia sangue no banco do carro, uma pequena quantidade, mas estava ali. 

Segurei o ácido voltando por meu esôfago e e engoli em seco, me virando para Gilbert e dizendo uma sequência dolorosa de palavras. 

─ Gil, eu estou sangrando. Precisamos ir para o hospital. Agora. 

Ele ligou o carro e dirigiu o mais rápido que pode, tentando não entrar no colapso qual eu já me encontrava. Respirava com dificuldade e parecia que desmaiaria a qualquer instante, controlei meus batimentos e fechei os olhos. Não podia perder esse bebê, não podia perder nosso bebê. Ele era minha vida agora, a coisa mais importante do mundo.

Blythe abre a porta do carro para mim e chama algumas enfermeiras para me ajudarem a descer do veículo. Não sentia dor nenhuma, mas o simples ato de me levantar me causou calafrios em pensar que naquele momento poderia ter perdido tudo.

─ Vai ficar tudo bem. ─ Gil sussurra baixinho em meu ouvido, enquanto era levada para um dos quartos especiais de emergência.

Ele podia ter certeza em sua fala, mas eu não. Queria poder garantir que ficaria mesmo tudo bem, mas deixei a agitação negativa me levar. Oh, meu bebê.

Hihihi

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Hihihi

Segunda espero vocês!!

𝐇𝐀𝐓𝐄 & 𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 ─ SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora