𝐇𝐀𝐓𝐄 & 𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 ─ SHIRBERT

Capítulo 2

Uma mudança de vida

Gilbert:

Aquele não seria mais um dia comum. Eu, juntamente de meu pai, estávamos indo embora de Toronto. E então, tudo em nossa vida mudaria.

Mais do que já mudou nos últimos tempos.

Minha mãe ficou doente há seis meses e morreu há dois. Foi tão repentino e agressivo. Eu não estava preparado para tudo aquilo, ninguém estava.

Passei a maior parte das semanas dentro do hospital junto dela, observando a correria dos médicos e sua piora cada vez maior.

Meu pai passava as noites, enquanto eu ia descansar em casa. Ia para a escola, mesmo quase sem vontade e tentava fingir que tudo ficaria bem.

E quanto ao resto de minha vida? Bom, minha namorada tinha terminado nosso namoro, me deixando sozinho na hora em que eu mais precisava.

E a patinação, ah a patinação! Aquele esporte significava literalmente minha vida.
Porém, eu preferi o deixar de lado. Focando em aproveitar os últimos momentos ao lado de minha mãe.

E agora, estava terminando de guardar meus pertences em caixas. Empacotando tudo para a mudança de amanhã, dando adeus para minhas antigas memórias.

Deito em minha velha cama e durmo minha última noite no quarto em que cresci, onde na parede ainda tinha minhas medidas, feitas por minha mãe durante minha infância.

─ Gilbert! Venha tomar café. ─ meu pai me chama da cozinha.

Me levanto sem animação e faço o que ele pede. Depois levo as caixas restantes até o carro e me garanto que protegi muito bem os itens mais importantes: meus patins e minha câmera fotográfica.

Dou um último olhar nostálgico para a casa e entro no carro, deixando tudo para trás.

Meu pai decidiu, completamente derrepente que queria voltar para a cidade onde cresceu, uma pequena cidade no interior, chamada Anvolea.

No início demorei a aceitar essa ideia, mas só quero que sejamos felizes novamente, então talvez aquilo fosse necessário.

Não me importei em deixar minha escola, nem minha academia de patinação. Meus amigos eram quase inexistentes e os poucos que tinha, tinham me magoado imensamente por coisas que fizeram comigo.

Uma mudança de vida provavelmente não seria tão horrível assim.

Iríamos morar junto de meu padrinho Sebastian, um amigo de infância de meu pai. Eu gostava muito dele, e estava ansioso para vê-lo depois de tanto tempo longe.

E meu maior medo era ficar longe da patinação, mas por sorte, em Anvolea existia uma academia. Mesmo pequena, seria mais do que o suficiente para mim.

Enquanto a longa viagem começava, deixava-me perder em pensamentos.

Você nunca sabe o valor de um momento até ele se tornar uma memória.
Era assim que me sentia em relação à primeira vez que patinei na vida.