Capítulo 48

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Retoques finais

Anne:

Setembro. Faltam no máximo duas semanas para a data prevista para o parto. Três. Estou com 38 semanas e cada vez mais tenho medo de entrar em trabalho de parto a qualquer momento. Não vejo mais meus pés enquanto ando e preciso ir ao banheiro de 15 em 15 minutos por culpa da bebê apertando minha bexiga. Fico estressada, nervosa e ansiosa. Fiz mil planos e li dezenas de livros sobre cuidados com crianças, estou tentando me preparar de todas as formas possíveis. 

Obriguei Gilbert a comprar uma daquelas bolas de pilates e é nela onde passo a maior parte da tarde, treinando exercícios de respiração e de ajuda para a dilatação. 

Meu noivo, puxa, como é estranho se referir a ele assim, ficava a maior parte do tempo ao meu lado. Até mesmo quando eu estava em um dos dias super irritados e onde seria capaz de jogá-lo pela sacada do apartamento. 

Ele me pediu em casamento durante o casamento de Ruby. Foi surpreendente, chocante. Não esperava que ele fosse fazer algo. Sabia que um dia casaríamos, porém pensei que demoraria para termos essa atitude para esse grande passo. Estava feliz com o noivado, mais do que feliz. Não sei quanto tempo esperei para poder oficializar tudo de uma vez e agora, isso seria possível, porque eu seria a esposa de Gilbert. Seria dele e apenas dele para sempre, ou até onde durar o amor, sentimento que eu duvide que um dia acabe entre nós. 

Mais uma vez, quase não tive forças pra levantar da cama. Meu corpo inteiro doía e até respirar se tornava uma tortura. Contudo, por outro lado, me sentia enérgica e com vontade de organizar o que ainda restava fora de ordem. 

Precisávamos terminar a pintura do quartinho e montar o berço, ambos trabalhos para o papai. Eu precisava guardar alguns últimos itens na bolsa maternidade e agora lutava para realizar isso. Fiz uma lista do que seria necessário levar e estava tendo um ótimo sucesso em riscar cada um deles até agora. Camisola, fraldas para a bebê e para mim (um horror), apetrechos de higiene pessoal, documentos, roupas extras tanto para mim quanto para a neném… e por assim vai. 

Com a mala pronta e devidamente organizada, me senti mais leve e sentei na cama para dar uma boa respirada. Sem surpresa nenhuma, acabei adormecendo. Pois achei uma posição confortável e agradável, difícil de sair depois. Fui acordada por Gil sussurrando ao pé de meu ouvido e retribuí seu sorriso. 

─ Vou terminar de arrumar o quartinho dela hoje. ─ fala, acariciando minha barriga que mais parecia uma melancia. ─ Quer observar? 

─ Será um prazer te ver lutar na montagem do berço, quero só ver. ─ dou risada e tomo impulso no colchão, me levantando. 

─ O que te faz pensar que passarei trabalho? ─ indaga, dando de ombros. 

─ Apenas te conheço bem o suficiente. ─ debochei com razão. 

─ Veremos, veremos. 

Segui para o quarto ao lado do nosso, onde a maioria das coisas de Elisa já estavam postas e prontas para sua chegada. O guarda roupas estava lotado de roupinhas, uma mais fofa do que a outra. Sapatinhos, laços de cabelo, ursinhos de pelúcia… Ver aquilo tudo estando ali era meio surreal. Caraca, era real. A hora de segurar minha filha em meus braços e vê-la pela primeira vez estava mais perto do que nunca. Imaginava como ela seria, se seria tempestuosa como eu ou calma como o pai. Se seria ruiva ou se teria os cachinhos de Gi. Se teria olhos azuis vibrantes ou olhos verdes como esmeraldas. Se seria comportada ou se nos daria muito trabalho. 

Mas não importava. Ela seria perfeita de todas as formas, de qualquer forma que viesse ao mundo. E mesmo que fosse a criança mais bagunçeira de todas, ainda seria minha e de Gilbert. Nossa para amar, cuidar, ensinar e proteger. Iríamos dar a ela o máximo de carinho possível e não deixaríamos que nada faltasse em sua vida. Ela seria feliz acima de tudo, isso era o mais importante. Possivelmente seria uma patinadora e arrasaria no gelo, trazendo muito orgulho para nós. Seria linda, seria ela mesma, seria a Elisa. 

Elisa. Promessa divina, alegria. Corajosa, criativa e determinada. Por vezes tagarela. Pessoa vencedora, sonhadora, traz consigo felicidade. Esse era o significado de seu nome, era lindo. Além de ser uma homenagem a sua avó, carregava consigo belos adjetivos. Gilbert ainda não sabia que esse era o nome da bebê, queria muito o surpreender e contar somente quando ele a pegasse nos braços seria o momento mais do que perfeito. 

Pensamos em outros nomes, concordei com vários mesmo tendo esse fixo na cabeça. E quando ele surgia perguntando se eu já havia me decidido, me fazia de boba e dizia que ainda estava pensando. 

Dei um selinho em seus lábios e sentei na cadeira de amamentação que ficava no quarto, admirando-o começar o trabalho. Ele abriu o manual de instruções da montagem e leu por alguns bons minutos, o que me fez soltar um risinho nasal. 

 ─ Está com dificuldade, amor? ─ zombei com sua cara. 

 ─ Nem um pouco, meu bem. ─ retrucou, exausto. 

Como eu avisei, ele teve que lutar contra o berço. Peças de madeira 10 pontos, Gilbert 0 pontos. Dei risada e o ajudei lendo o manual em voz alta e explicando para ele como se fazia ou como se pregava uma coisa na outra. Algumas certas horas depois, conseguimos finalizar o trabalho. O esforço valeu a pena e agora a bebê teria um lugar para dormir. Depois, para ficar ainda mais cansado, Gil pintou a última parede que restava e se deu por acabado. O quartinho estava definitivamente pronto, nada faltava ser feito. Tínhamos apenas que esperar a mocinha decidir vir, agora estava tudo nas mãos dela. 

Conhecendo bem minha sorte, sentia que ela decidiria vir em alguma hora inoportuna. A bolsa não iria estourar enquanto eu dormia ou tomava banho, tinha certeza disso. Porém me restava esperar e torcer para não dar a luz no meio da rua. Os dias com ela aqui, protegida, estavam no final. 

 ─ Anne, você não vai mesmo me dizer o nome da nossa filha? ─ Gilbert indagou, se deitando ao meu lado na cama. 

 ─ Como assim? 

 ─ Eu sei que você já tem algum escolhido. Diga, por favor. ─ praticamente implorou com um biquinho nos lábios. 

 ─ Não direi. ─ digo rindo e observando sua feição de desespero. 

 ─ E por que não? 

 ─ Porque é uma surpresa e por isso quero que descubra somente quando ela nascer. ─ explico e faço um cafuné em sua cabeça. 

 ─ Você é uma chata. ─ fala, colocando uma mecha de meu cabelo para trás de minha orelha. 

 ─ Eu sei. Você diz isso há anos, Gil. ─ isso era verdade. ─ Mas se não me amasse não teria me engravidado e nem me pedido em casamento. ─ beijei o cantinho de sua boca e aprofundei o beijo em instantes. 

Ah, a vida era boa. Como há muito tempo não era. Era bom, mais do que bom. 






𝐇𝐀𝐓𝐄 & 𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 ─ SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora