𝐇𝐀𝐓𝐄 & 𝐃𝐄𝐒𝐈𝐑𝐄 ─ SHIRBERT

Prológo

Como tudo começou

Anne:

Eu me apaixonei assim que toquei o gelo.

Meu coração palpita e consigo sentir o ar gélido cruzar por minha face.
Eu posso sentir o gelo correndo por debaixo de meus pés.

Me sinto poderosa e eufórica. O rink é meu lugar. É onde sou verdadeiramente feliz.

Nada se compara a aquela sensação de liberdade que sinto assim que calço os patins nos pés e entro no gelo.

Patinação é o mais próximo que irei chegar de voar.
As vezes sinto como se os patins realmente tivessem me dado asas.

Asas para um nova vida.

Ainda me lembro perfeitamente de cada detalhe daquele terrível dia.
Meus pais iriam viajar para visitar alguns amigos na cidade vizinha, mas eu peguei uma forte gripe e tive que ficar em casa, sendo supervisionada por meus tios.

Tudo estava correndo bem... Até o entardecer do dia.
Meus pais ligaram para tia Marilla, pedindo notícias sobre mim e avisando que já estavam voltando para casa.

Minha tia passou o telefone para mim e mesmo sem saber, ouvi pela última vez a voz de minha mãe.

Ouvi seu último "eu te amo, minha menina".

Acabei caindo no sono, esperando que quando acordasse os tivesse ao meu lado.
Mas tudo aconteceu ao contrário.

Acordei sem ninguém no quarto, apenas escutando barulhos no andar de baixo.
Desci as escadas com meus pézinhos delicados de criança, e econtrei Marilla abraçada com Matthew. Chorando desesperadamente.

─ Tia? Está tudo bem? ─ pergunto com a voz trêmula e um imenso aperto surgindo no peito.

─ Oh, Anne... Minha pequenina. ─ sua expressão demonstrava o tamanho de seu abalo. ─ Sente-se aqui, preciso te contar uma coisa.

Ando com passos lentos até o sofá, com o aperto apenas me sufocando cada vez mais.

─ Tia, o que aconteceu?

─ Anne... ─ ela desaba em lágrimas novamente e em meios aos soluços retorna a falar. ─ Seus pais... Eles agoram moram junto de Deus.

─ Moram com Deus? Mas por quê? Mamãe me prometeu que chegaria logo... Eu estou com saudade! ─ começo a bater as pernas no sofá e a chorar compulsivamente.

─ Minha querida... Tudo vai ficar bem. ─ tio Matthew segura fortemente minha mão, enquanto tentava secar minhas lágrimas. Nada iria ficar bem, e ele sabia disso, mas mesmo assim aquilo me acalmou.

─ Agora eles irão cuidar de você lá de cima, dum lugar vasto e bonito... Onde não há tristeza nem dor. E Matthew e eu cuidaremos de você aqui, e não deixaremos nada de ruim acontecer a ti.

─ Prometem de verdade? ─ dou uma fungada e engulo minhas lágrimas.

─ Prometemos. ─ dizem em uníssono.