Como dói.

Nunca imaginei que minha busca por conhecimento, um bom emprego e uma vida confortável poderia me causar tanta dor.

Nao era o certo ter casa própria, carro, contas pagas, mandar o cachorro para o pet shop, uma viagem ao ano, geladeira cheia e churrasco aos domingos?

Eu sei que deveria ter sido honesta, mas isso é um saco. Nunca gostei de perder.

Quando diziam que o amor doía, achava que nunca acontecerá comigo. Nao entre eu e Felipe.

Bem que dizem, saudades dói e como dói.

Andei vendo uns videos pela internet a fora. Coração partido mata, sabia?

Cheguei a ver vídeos que serviriam de inspiração, um otimo "eu superei". Videos de caras brancos que apos terem o coração desvastados, se encontraram ate mesmo no hospital tomando medicamentos e depois, conforme o passar do tempo melhorou indo  para a academia.

Há mulheres assim também.

Eu acho chique.

É bom poder cair pra se levantar porque quando se está meio caido, também esta meio levantado. Coisas pela metade nunca foi bom, morno nao é bom, mais ou menos nao é bom. Ou é bom ou ruim.

Quem nao chegou no fundo do poço sobe como? E quem nao sabe que está lá porque nao teve tempo para pensar? E se nao tem tempo para pensar, como arquitetar um bom plano para sair?

Tudo o que posso fazer é beber e trabalhar. E nao vejo isso como uma boa forma de sair da merda, beber nem é bom. Trabalhar tampouco.

Portanto, assumo. Senti inveja do carinha que tomou remedio na veia por causa de um coração partido.

Eu queria, juro pra você.

Eu poderia muito bem dar uma overdose se usasse muita droga nessa festa, poderia ter um coma alcóolico ou simplesmente poderia morrer afogada nessa banheira.

Quando dizem que nao queremos nos matar, é verdade. Porque quando dizem que se nos afogarmos, vamos tentar nos salvar tambem é verdade.

Logo você quer viver. Nao a vida de agora, mas quer permanecer vivo.

Quando a falta de ar nos pulmões começou a incomodar demais e se tornar insustentável me acorvadei. Um amor ou a falta dele nao pode me destruir assim. Pode?

Eu emergi novamente. Buscando o ar desesperadamente.

Sofrer por amor é um privilégio na qual nós pobres tambem não temos. Fugir da miséria nos ocupa muito o tempo.

Ainda buscando o ar, tentando sobreviver e tendo a certeza disso, pois sou pobre, mulher e preta. Se tem uma coisa na qual sabemos fazer é sobreviver e hoje será mais um dia de sobrevivência na qual fingirei ser vivência.

Assim é melhor.

Tomo o ultimo gole da bebida. O meu último gole, a garrafa ainda permaneça meiada. Mas ja estou muito bêbada. Saio da banheira, meu banho ja foi longo demais.

Visto uma roupa minha, coisa qualquer e volto para festa. Me sentindo mais fresca e mais livre. Cantarolo a música Fazer Falta que esta passando e logo começo a dançar novamente.

- Experimenta isso aqui. - Thai me oferece bala, mas não to muito na vibe e nunca gostei dessa onda de droga.

- Não, obrigada.

- Qual é? Vai puxar pra tras? - pergunta indignado.

- Pior que vou.

Ele dá um sorrisinho sacana. - Bom que sobra mais pra mim gata. Vem dança comigo e Nando. Quero dançar com ele, me ajuda!

Me EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora