Troco olhares com Felipe. Mesmo a distância ele consegue, com apenas um olhar, provocar reações em meu corpo.

Bebirico minha cerveja desviando o olhar. Foco agora em mamãe, está encantadora no vestido bege, sem decote, com mangas delicadas. O caimento do tecido de cetim vai até os joelhos. Os cabelos estavam presos em um coque, com alguns fios saindo para fora. Nas orelhas um brinco dourado de argola pequeno brilha.

Ela sorria. Mamãe está brilhando. Entusiasmada. Sempre foi muito romântica. Sempre sonhou com amores. Sempre deu a cara a tapa.

Mamãe sempre foi uma mulher corajosa.

- Eu fico me perguntando o porque de você e Felipe nunca se resolverem! - Raul comenta parando em meu lado. A lata de cerveja na mão, já havia bebido alguns golinhos para a surpresa de todos.

- Felipe não quer.

- Lógico que ele quer.

- Então tem medo.

- Você dá medo, Maria Luisa! Mulheres como você pode deixar o outro inseguro. Você é completamente independente, a sensação que se tem é que você está sempre pronta para ir embora.

- E estou. - confirmo. - Não há nada que me prenda. Felipe que se resolva com ele mesmo! Eu não vou parar minha vida nem pela Agnes. Ou caminha junto ou fica pra trás.

- Tá vendo?

- Felipe tem capacidade de caminhar comigo. Resta saber se ele quer! Eu tô esperando, Raul. Mas não tenho condições de parar minha vida inteira por ele, você entendi?

- Entendo. Vem cá. - Raul então me abraça. Um momento raro, pois meu irmão mais velho não é disso. Ele não é assim todo carinhoso, são poucos os momentos em que podemos desfrutar disso.

Aliás, todos na minha família são assim. Não somos muito de abraços, somos briguentos, vira e mexe ficamos emburrados um com o outros. Raul sempre foi o primeiro a apontar todos os nossos defeitos. Mas somos unidos. Eu sei que se um dia eu precisar de abrigo, Raul e Thales me acolherao. Eu tenho bons irmãos.

- É meu amigo, mas Felipe é meio mane. - Raul confessa rindo. - Nem acredito que mamãe vai casar.

- Eu também não! - respondo sorrindo em direção a ela. - Ela sempre quis isso.

- Aposto que vai fazer uma festa de casamento enorme. - Raul brinca. - Olha o Haroldo, mal sabe que vai ficar falido. - Raul brinca. Eu olho pro homem parrudo. Deve ter um bom emprego, tem de ter um bom salário para manter mamãe e suas extravagâncias.

Na verdade ele nem precisará manter, apenas acompanhar tudo o que uma mulher preta pode fazer com o dinheiro dela. Mamãe é assim, desde que as contas estejam todas pagas, ela não se preocupa quanto custa um vestido se ela pode comprar. E acredite, uma cabeleireira ganha bem e mamãe trabalha impecavelmente.

Apesar de ter suas concorrentes, o salão dela está indo de vento e polpa. Trabalhei numa boa estratégia de vendas e divulgação para ela. A ensinei como usar as redes sociais ao favor dela, inteligente como sempre foi, aprendeu direitinho.

É de aquecer o coração ver meu povo preto, minha família crescendo financeiramente. Ficando estável. Lógico que não vamos enriquecer, mas eu tenho certeza de que Eloa jamais saberá qual a sensação de ter os armários vazios e a barriga roncar de fome. Nunca se sentirá um peso para os pais por ter noção do que a falta de dinheiro faz ainda nova.

Na idade dela eu já sabia.

Observo Agnes no colo do pai dela. Tomo um ar aliviada ao saber que ela também não saberá o que não é ter um pão para comer de manhã. Não saberá como é acordar sabendo que tem almoço e janta, só. Não, ela não vai saber nada disso.

Me EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora