Felipe obteve todo o autocontrole e resolveu ir embora antes do clima esquentar ainda, usando o pretexto de não querer ter que me ouvir depois dizendo que ele me trata como se eu fosse uma mera amante, enquanto sou muito mais.

Não sei se isso é bom ou ruim, mas ele tinha o ponto dele. Uma determinação tão grande que deixou o celular para trás, mas garantiu que voltaria pela manhã.

E eu no mais puro fogo, terminei minha noite com meus brinquedinhos. Objetos não te deixam na mão e se o fazem, você compra outra. Sem burocracia.

Por mais que eu tenha usado algo aqui e ali, não me senti satisfeita. Nem perto disso. Essas coisas já não tem mais graça.

Mentirosa é a mulher que diz que brinquedos eróticos é melhor ou substitui um homem. Balela pura! Não substitui e não é melhor. Se satisfazer sozinha é excelente, mas sexo a dois é divino.

Viro para um lado e resolvo ir dormir frustrada.

Acordo com o som alto da campainha. Em um sábado, no qual finalmente estou de folga, me vejo acordando as 8h.

Levanto da cama, sentindo uma pontada rotineira no pé, devido a queda na escada. Vou até a cozinha atender o interfone.

- Quem é? - pergunto ranzinza.

- Abre o portão. - Felipe ordena como se a casa fosse dele. Apenas aperto o botão para abrir, em seguida vou para o banheiro fazer minhas necessidades e depois tomo um banho.

Escovo os dentes, passo desodorante, creme de pele e perfume. Visto meu roupão, também de seda, e saio do banheiro indo para cozinha.

Paro na porta para ver Felipe fazer café e por a mesa. Gostaria de ver essa cena por todas as manhãs, durante todo o resto da minha vida. Que a mesma seja longa.

- Bom dia! - cumprimento me sentando á mesa e colocando uma uva na boca. - O que faz na minha casa tão cedo e quem te deu permissão para abrir a geladeira?

- Vim tomar café da manhã, uai. - respondi simplesmente. Me dá um beijo no rosto e coloca a garrafa de café em minha frente. - Quer café?

- Não. Somente água mesmo.

Ele me entrega um copo d'água, senta-se ao meu lado e come um pedaço do bolo que ele mesmo trouxe. Eu pego uma tigela, pico morango, mamão e kiwi dentro dela, depois jogo iogurte natural e farinha de aveia.

- Poderia me falar melhor que história é essa de hospital?

Dou um longo suspiro.

- Minha pressão subiu, passei mal depois que vi Sofia na sua cama. - respondo tentando controlar a raiva que insisti em aparecer. - Pensa, como me senti? Todas as minhas paranoias, no final das contas eram verdeiras e você mentiu para mim. Fiquei arrasada.

Felipe encarou o chão, ficando pensativo por um tempo enquanto deixava o café de lado. Ninguem disse que seria fácil não é!?

- E como eu me sinto, Malu? Eu gosto da Sofia.

- Eu tenho medo da Sofia. - engulo minha raiva, frustração e tristeza. - E eu não vou aceita-la só porque você gosta dela e me é inadmissível você gostar dessa garota, vir aqui e dizer isso na minha cara, na minha casa enquanto estou grávida de você. De um bebê que eu quase perdi, porque sua querida é uma louca, desvairada. Que por ciúmes ou inveja resolveu me fazer mal, Felipe! Como você não entendi?

- Eu entendo, Malu. Eu só estava querendo colocar os pingos nos i's. Você nunca me escuta, só me ataca. Uma hora cansa.

- Felipe... - o alerto. Minha paciência ja estava chegando no fim. - Eu não preciso mais de estresse nessa gravidez, por favor. Quer ficar com Sofia? Fica. Mas bem longe de mim.

Ele fecha a cara. O olhar quebrado, claramente ofendido. Felipe trava o maxilar, morde os labios como faz quando está enraivecido.

- Porra de mulher difícil. - xinga baixinho, olhando no fundo dos meus olhos. - Quando foi que eu disse ou demonstrei querer ficar com Sofia? Aceitei conversar com ela, aceitei que ela fosse lá em casa, talvez tenha errado em aceita-la no meu quarto. Mas eu queria resolver minha vida, pedi para que ela não me procurasse mais, que não poderíamos ter nada mais. Pedi desculpas, pois agi errado com ela. - Felipe se levanta da cadeira angustiado. Passa a mão pelos cabelos e dá um longo suspiro. - Se Sofia age por interesse em ter mais seguidores ou não, não me importo. Se ela tem outro, não me importo! Mas eu precisava dessa conversa, de entender porque ela te empurrou, entender o que provoquei e faze-la entender que não vamos voltar, até porque ela já está com outra pessoa. Disse também que não vou me meter nesse processo como ela quer, não vou te influenciar em nada e então ela também pediu desculpas, conversamos e nos entendemos. Agora, não guardarei rancor dela.

- Deveria.

- Maria Luisa, você nao é nenhuma santa e esta longe disso! Você trava suas guerra, assuma as consequências dela. Você que fala tanto sobre não ter responsabilidade sobre expectativas alheias, deveria esperar também que ninguém é obrigado a atender as suas e nem a lidar com suas confusões.

Olho para Felipe sentindo uma raiva descomunal. De repente me sinto mal de novo. Como ele ousa me usar contra mim?

- É diferente.

- Diferente como? - ele quis saber, um tanto indignado e curioso.

- Eu poderia ter perdido o bebê e me machucado mais.

- Você não sabia que estava grávida, ninguém sabia.

- Isso não anula nada. É o seu bebê! Poderíamos ter perdido por causa daquela louca e você ainda gosta dela.

Ele me olhou indignado, como se eu tivesse falando o maior absurdo.

- Não aja como se quisesse muito esse bebe. Você passa mais tempo dizendo que eu não sou o pai dessa criança do que o contrário. Aliás, diz quando convém. Quis fazer uma surpresa para te agradar, te alegrar nessa gravidez e o que você fez? Foi embora da merda do chá revelação. Tento te acompanhar durante esse processo da gravidez, exames e tudo, o que você faz? Se empenha em me afastar. Mas que porra. O que você quer de mim? Estou tentando me acertar com você, mas você não deixa.

Senti meu peito apertar. Era como se Felipe tivesse me batido com palavras. Ele estava certo, ele tinha um ponto. Mas eu também tenho.

Com os olhos marejados, respondo.

- Eu não sei. - me sentindo ainda mais sensível, resolvo ir correndo para meu quarto afim de chorar.

Eu não sei o quero. Simplesmente me sinto perdida e a culpa me consome por não estar tão feliz e empolgada com essa gravidez.

Mas eu deveria estar, não deveria?

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