Acabo adormecendo de tanto chorar. Com pesadelos a noite inteira acabo acordando pela manhã sem ao menos conseguir respirar direito, o coração batendo tão forte que dói.

Eu não sei como funciona essa coisa de maternidade, se a mãe sente as coisas mesmo quando dizem ou se foi apenas coincidência minha mãe entrar dentro do meu quarto no exato momento em que sento na cama, após ligar o ventilador na tentativa de ter um pouco mais de ar.

Entretanto, a medida em que vou lembrando que não tenho mais Felipe o ar se torna ainda mais escasso e como se nao fosse o suficiente começo a chorar e a tremer.

- Mãe, eu não consigo respirar direito. - suplico por ajuda.

Mamãe se senta ao meu lado e me abraça. Acaricia meu cabelo enquanto me ponho a chorar desesperadamente, pois faltava uma parte de mim. Eu tenho a total consciência de que vacilei com Felipe, mas nunca imaginei que iria doer tanto saber que nao o tenho mais. Que ele nao vai mais me abraçar ou me consolar quando eu tiver triste, nao vai me fazer sorrir, rir, nao vai mais me beijar e nem me dá seu carinho.

Não vou ter mais sua simples companhia e lembrar disso dói demais.

- Vai ficar tudo bem, minha filha. Hum? Tudo bem. Agora me conte o que houve ontem? Ouvi você brigando na rua, mas depois se trancou no quarto, achei melhor não perguntar nada.

- Felipe descobriu sobre Carlos e terminou tudo comigo. - Revelo entre os soluços.

Minha mãe apenas me aninha mais e faz carinho no meu cabelo.

- Fica calma, minha filha. - ela começa a massagear meu peito, meu coração. - Vai passar, a mãe promete ok!? Você ta bem? Quer ir no médico? Não quero te dá nenhum remédio sem receita.

- Só fica comigo. - aperto mais ainda seu braço.

- Deita direito, vou deitar do seu lado. Nao vou a lugar nenhum! Coloque a cabeça no travesseiro e olhe pra mim. - faço o que ela ordena. - Mãe, te ama e eu estou dizendo que isso que você ta sentindo vai passar. Confia em mim.

Como ela havia prometido depois de um tempo passou. Ela ficou ali comigo  a todo momento, não arredou o pé pra nada e ate me fez dormir como quando eu era criança.

Ao acordar novamente percebo ja ser de tarde. Encontro um bilhete na minha penteadeira, ordens de dona Maura. Tomar banho, arrumar casa, me arrumar e trabalhar. Eu tinha que trabalhar.

Novamente respeito suas ordens mesmo me sentindo um caco.

Já com a casa organizada, eu de banho tomado e arrumada gravo um stories aparecendo nas redes sociais, respondo também as inúmeras perguntas sobre o meu sumiço. Isso me distrai um pouco, acabo sendo grata por isso.

Vendo alguns stories vejo uma foto de Caique no perfil de Bianca. Na foto, o menino está deitado e um bocado amoado, lembro de Suzana, mãe de Bianca, reclamar sobre a persistente  gripe do menino.

Me preocupo com o Caique. Resolvo ir até o salao da minha mãe ter noticias de primeira mão sobre o menino.

O salão fica perto de casa, na esquina da rua. Então em menos de cinco minutos chego na fachada rosa do estabelecimento. As paredes cinza com rosa deixava o local chamativo do lado de fora, a placa escrito Salão da Maura esta um pouco empoeirada, mas ainda assim chamativa e bonita. As portas estavam abertas, vi minha mãe conversando tranquilamente com Suzana, mãe de Bianca. 

Elas são amigas de longa data, antes mesmo de pensarem em ter filhos são amigas. É uma amizade muito bonita, principalmente por ser tão duradoura.

- Ele ja ta se recuperando. Ta meio amoado, mas muito porque é mimado. - Suzana informa ainda concentrada na unha da cliente. - Ele quer ir ver o pai, ficar com ele, mas Bianca não quer deixar. E você sabe como sua amiga é, nao tem paciência com o menino e ultimamente anda muito estressada. Eu acho que é o emprego.

Me EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora