Me Espera

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Observo minha imagem no espelho. Vestia um vestido azul claro, sempre gostei dessa cor. As alcinhas me davam uma liberdade para ter acesso aos meus seios de forma fácil e rápida. O decote ficou bonito.

Observo meus seios maiores, cheios de leite. Me intriga essa história de eu produzir alimento a alguém.

A vida e a sobrevivência de alguém por um longo período.

É estressante.

A barriga já havia desinchado desde o parto há cerca de 4 meses atrás. Estava bonita, mas não é como antes. Talvez, outra pessoa ache que está igual, mas sinto que não. Eu não estou igual.

Por vezes, me sinto perdida. Muito mais do que antes. É como se algo em mim tivesse morrido para dar espaço para um outro eu, esse que não sei se queria que tivesse surgido.

- Está linda, minha filha! - mamãe me elogia entrando em meu quarto. - Seu cabelo está maravilhoso.

Ela sorria contente. Gostava da ideia de eu sair com Felipe e Agnes, como em uma família.

Nunca me imaginei tendo uma família. Sempre me vi sozinha...

Me dando conta disso somente agora, sempre reclamei de estar só. Mas talvez eu esteja plantando essa solidão há anos.

Ainda me estranho, talvez esteja caminhando para um lugar que sempre almejei, mas tenho medo.

A voz de papai recua em meus ouvidos

"Quem tem medo não vive"

Mas ainda é estranho. Esse caminho é longo, mas por vezes me parece curto. Talvez eu não saiba como andar.

É tudo tão perto, mas tão longe...

Sempre me escorrega pelas mãos e por minha própria culpa.

Dou um longo suspiro.

- Estou bonita, mãe?

- Maravilhosa e você sabe como a mãe não mente. - ela sorri. Vestia também um vestido, só que longo. Amarelo, nos braços um bracelete dourado. O cabelo alisado estava perfeito, parece que mamãe nasceu para ser lisa, não cacheada e nem crespa. - Não se esqueça, amanhã você e Felipe vão almoçar comigo, para eu anunciar meu noivado. - ela sorri contente. Em seu olhar pudia ver a ansiedade brincando ali.

- Eu vou estar lá, mama. Não perderia por nada.

- Eu estou tão feliz.

- Eu também. - dou um sorriso sincero para minha mãe. Ela sempre sonhou com um amor e agora está vivendo um.

É lógico que nem tudo é perfeito. Mas ela está feliz e é o que importa.

Ela sai do meu quarto e vai atrás de Agnes no quartinho dela. Minha mãe vem aqui só para paparicar a neta, mas ultimamente ela está competindo com seu Eugênio. Segundo eles, quando eu voltar a trabalhar terão pouco tempo para vir ver a neta deles.

Termino de me arrumar, passo meu perfume e depois vou atrás de minha mãe. Mas antes mesmo de chegar no quarto da minha filha, a campainha toca. Era Felipe.

Mamãe vem para a sala já com Agnes. Reparo que ela colocou em minha filha o vestido rosa que ela havia comprado e nos pés uma sandalinha branca.

Me questiono até hoje porque bebês tem sapatos se eles não andam? Não faz o menor sentido.

- Felipe, que bom te ver. - mamãe o cumprimenta assim que o vê. - Amanhã você vai no meu noivado não é?

- Claro que vou, Maura. Não perderia por nada. - ele sorri. O sorriso mais perfeito. - Que horas é?