Ao chegar na casa da mamãe confiro as horas no celular, são 17h30. Passei o dia inteiro na rua. Abro a porta com a chave que tenho, ao entrar em casa vejo Elisa sentada no sofá mexendo no celular enquanto a TV está ligada, assistindo ela.

- Oi gatinha. - cumprimento. Ela se levanta e me cumprimenta também - Como você esta? - perguntando analisando as tranças no cabelo dela, a raiz já está um pouco alta. Logo teremos de trocar novamente.

- Estou bem e você? Soube que está grávida. - ela se senta novamente e eu faço o mesmo.

- Sim, descobri esses dias. Acho que estou com 20 semanas ou 12, eu não lembro bem e não faço ideia do que são isso em meses. Terei de contar.

Elise ri. - Sua mãe está possessa porque você não contou pra ela.

- Minha mãe sempre se irrita com algo quando se trata dos filhos desajustados. Espero não pagar pelos meus pecados com esse bebê.

- Você não me parece muito animada.

Chego mais próxima da preta para lhe questionar num tom de voz mais baixo, pois não sei se tem alguém em casa.

- Será que ainda dá tempo de tirar e dizer que perdi devido a queda da escada? - Elise rir. - Estou falando sério. Estou muito nova para a maternidade e tem tanta coisa pela frente, eu vou morrer Elise.

- Calma, não é para tanto

- Porque não é com você. - me levanto disposta a ir na cozinha vê se tem algo para comer. - E meu irmão? Como está? Está mais calmo?

- Cada dia mais estressado. Acho que ele tem ciúmes da sua mãe com o namorado dela.

Chego a cozinha e abro a porta me deparando com água e mais água. Nenhum docinho, nenhum empadão e nem coxinha. Nada. Nem um pedaço de carne.

- Thales sempre foi ciumento. Ele ainda quer sair de casa?

- Sim, esta comprando as coisas aos poucos. O fogão já temos!

- Podem ir lá pra casa por enquanto. Mamae quando começa a namorar fica um pouco sufocante mesmo. Ela faz de tudo pra dar certo, mas ela ainda não entendeu que não adianta. Não é ela o defeito, esses homens que são todos folgados e pensam só neles. Tomara que ela tenha acertado a boa agora. - volto para a cozinha um tanto decepcionada pela falta de coisas gostosas nessa casa. - Olha, o que aconteceu com as porqueiras que sempre tinha na geladeira?

- Sua mãe proibiu de comprar ou fazer. Segundo ela, só dieta agora. Ovo, filé de peito de frango e saladas. Farinha de aveia, nada de açúcar e muita fruta. Ela quer emagrecer, pois segundo ela quer ser mais saudável. - explica a menina.

Me jogo no sofá ao lado dela. - Alguém chamou ela de gorda. - constato. - Minha mãe tem mó corpao. Num é dessas que pesa 56 ou 58 kilos, é dessas que pesa 70/78 mesmo e tá tudo bem. Isso não é ser gorda porque ela é alta. Só não é o corpo considerado padrão para os dias de hoje. Tipo ela tem gordura na barriga, bundao, seios fartos. Agora a moda é vestir 36/38.

- É verdade.

- Você não viu o pessoal xingando aquela blogueira lá de gorda só porque ela tem um bundao. Porque ela não tinha nenhuma gordura na barriga. Esse povo tá cada dia mais doido. - Rio e espicho minha perna no sofá. De repente aliso minha barriga. - Eu nem acredito que arrumei barriga. Ela nem cresceu né!?

- É, não muito. Tá parecendo que você tá com pum preso. - Elise zoa nos fazendo rir. Depois volto para seu celular e eu me ponho a prestar atenção na novela que passava na TV.

Com certeza essa é uma condição nova para mim. Eu disse que minha mae faz de tudo para ser aceita, mas essa também não é uma realidade longe da minha. Eu também faço de tudo para ser aceita. Minha vaidade é um pouco excessiva, eu acho. Sempre quero estar com o corpo em dia, bem vestida, penteada, sempre bem bonita apenas para ser aceita.

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