Acabo acordando tarde ficando atrasada para o trabalho. Me arrumo correndo, nem mesmo tomo café da manhã e vou para a Kish preparada, pois o dia será cheio.

Ao chegar lá dou de cara com Sofia comprando algumas roupas de criança enquanto reclamava com uma funcionária. Ela estava falando muito alto, chegava a humilhar a pobre da funcionária.

Passo reto não querendo me meter no conflito e vou direto procurar pela Michele, quem vai me ajudar com o trabalho de hoje.

Eu não gostaria de ser nenhuma ingrata ou cuspir no prato que comi, mas estou cansada de trabalhar nessa loja, não na loja, nesse cargo. Gostaria tanto de trabalhar em uma empresa publicitária grande.

Suspiro em frustração. Esse não é o momento de buscar outro emprego, apenas me especializar ainda mais onde estou e crescer. Preciso de estabilidade e não me arriscar mais.

Quem sabe quando Agnes tiver lá pelos três anos e o Felipe mais estabilidade eu ouso a me aventurar no que tanto quero. Bebês gastam muito com fralda não é!? Fora que terei de cuidar muito da minha aparência depois do nascimento dessa criança.

- Oi, linda! Te vi na praia e estava maravilhosa. - Rosa, quem eu estava procurando comenta me puxando para sentar ao seu lado na salinha do estoque da loja. - Eu tô perdida aqui. A madame que te empurrou da escada está dando chiliques. Quer o que não tem!

Rosa bufa e ajeita os óculos em seus olhos. A saia estava um pouco amassada, os tênis brancos um pouco sujos.

- Eu tô acabada, cansada e tudo o que menos precisava era de uma chiliquenta. Acredita que o chefe obrigou a gente atender ela? Affs. - ela vasculha pelo estoque até achar um macacão amarelo, com um desenho simples de borboleta e em um balão que indica diálogo, escrito Bebê da Dinda. - Ela quer essa porcaria. E eu não tinha mais desse modelo lá em baixo.

Pego a peça e analiso. - Alguém é louco de deixar essa mulher ser madrinha do filho?

- Nem me fale. Ela esta lá dizendo que o namorado dela vai deixar ela ser madrinha do bebê dele.

- Um sem noção. - rimos juntas. - Vai lá, vou arrumar as coisas aqui para gente. Cadê a caixa com as roupas novas?

- Aquelas ali. - ela aponta para a caixa a esquerda e depois sai com uma postura de derrotada as 10h da manhã.

Vou correndo arrumar as roupas da coleção nova para começar o trabalho quanto antes.

Algumas roupinhas estavam lindas, outras um show de horror. Deus me livre. Entretanto todas de marcas boas.

No almoço vou correndo ate uma outra loja para coletar material e fazer um outro trabalho para me gerar uma renda extra e na hora da janta, cedo ao convite de Carlos e vou encontra-lo em um restaurante.

Estaciono meu carro próximo ao Bistro. Só Deus sabe como detesto que Carlos me traga nesses lugares fuleiros. Um cara rico como ele me traz para jantar num local de classe media, desse povo pobre que pensa que é rico. O prato mais caro desse lugar é 196 reais, pelo menos a comida é boa.

Passo sentindo a olhada das pobretona querendo me olhar de cima. Como pode uma pessoa que recebe 5/8 mil se achar a última cocada do deserto. Quando eles souberem o que é bom... Onde gente rica e fina vai. Se eu não tivesse me envolvido com Carlos, também me acharia a última coca do deserto por ganhar relativamente bem para a classe pobre.

Pois eu tenho uma renda boa perto de quem recebe um salário mínimo, o que é a metade da população. Mas isso não quer dizer que não sou pobre. Sou pobre até demais!

Sento na cadeira reservada para mim. Carlos estava atrasado! Chamo o garçom e peço a ele uma água.

- Hey, meu bem. Me perdoe o atraso! - Carlos pede já se sentando a minha frente. - Tive que voltar a trabalhar na empresa. Clara anda fazendo uma bagunça, está histérica.

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