Nervosa demais com tudo o que está acontecendo em pouco tempo, resolvo me aventurar em mais uma taça de vinho, sozinha na cozinha. Esperei apenas meu irmão sair para me servir, em seguida vou com a garrafa e a taça cheia para o quarto de Felipe.
Sento em sua cama e observo a parede num tom de branco. Lembro bem quando insisti que seria melhor essa cor do que qualquer coisa papagaida que ele gostaria de colocar. Felipe sempre gostou muito das cores.
Tomo mais um gole da bebida, já me sentindo embriagada tenho a consciência de que talvez devesse parar, entretanto não tenho vontade.
Esse é apenas o início não é? Terei de ceder várias de minhas vontades. Não poderei viver apenas para mim, mas para o outro. Como é isso? Jamais gostei dessa ideia de ser responsável por algo além de mim.
Não me chame de egoísta, por favor. Mas não posso ser responsável pela vida de outra pessoa. Se precisarem de minha ajuda, poderei ajudar. Mas me responsabilizar? É demais.
Tomo outro gole me sentindo ainda mais desesperada.
Não poderei sair por muitas noites. Terei de pensar em uma alimentação que favoreça o bebê. No final, meu neném ainda não nasceu, mas já sei que a maternidade é uma fardo.
Terei que ceder até mesmo minhas noites de sono. Por Deus, o que estou dizendo? Estou cedendo meu corpo?
Bem, bebezinha, vamos nos embriagar juntas!
Aproveitar esse momento, em que somos, ainda, uma só.
Vai ser um saco quando você descobrir que não é uma parte de mim, que não está mais dentro de mim e que meu coração não está mais bombeando para você também. É aí, pequena criança, que você vai descobrir que ser responsável é um saco!
Eu posso até ficar preocupada se o seu coração não bater direito, mas nao serei responsável por isso, não é? Você entendi? Não, não vai entender.
Eu não entendo.
Será que você terá uma boa mãe? Se não tiver, a culpa não será minha, sou nova nisso também. Igual você será nova na vida, e eu na maternidade. Além do mais, você quem me escolheu. Não reclame.
Levanto da cama me sentindo tonta e paro em frente Ao espelho. Levanto meu vestido e olho a barriga levemente inchada. Não me parece uma gravidez, apenas gases. Será que isso deve ser porque a neném é pequena?
Que estranho não é? Outras mulheres já teriam barriga para mostrar. No entanto, só pareço estar um pouquinho mais gorda e com gases.
Ouço a porta se abrir, olho em direção a ela e vejo Felipe entrando sorrindo.
- O que esta fazendo sozinha aqui? Eu sabia que você tinha fugido para cá. - comenta chegando perto. - Você nao muda não é? Qual foi, a festa está te entediando? - alfineta.
Não respondo Felipe, na certa ele já deve saber que não estou bem. O sorriso do homem desaparece quando ele olha para a garrafa de vinho ao pé de sua cama e a taça em cima de sua escravininha.
- É, você nao muda mesmo. - conclui começando a ficar irritado. - Sua diversão é bebidas, drogas e putaria não é?
Me olho no espelho novamente. Sentindo a leveza que o vinho me traz contrapondo a ira crescente em mim.
- Sim. - respondo tranquilamente. Melhor dizendo, cinicamente. - A sua também. Não venha fazer cena.
- Eu não estou grávida.
- Sorte a sua. - ajeito meu vestido e saio da frente do espelho, pegando minha taça novamente.
- Você está odiando tudo isso não é? Porra, eu tô me esforçando para te agradar, para amenizar as coisas para você, para criar lembranças felizes e fazer você deixar essa ideia de que isso é ruim e aceitar como é bom o que nós está acontecendo, mas nada adianta.

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Me Espera
Literatura KobiecaO meu maior sonho, com certeza é, ter a vida digna que mereço e para isso sempre corri atrás, achava que qualquer preço poderia pagar, mas não é bem assim. Como no mercado, há sempre aquele produto que você não pode levar, na loja sempre tem aquela...