Me Espera

8

Observo Felipe concentrado em seu computador antes de entrar no quarto. O homem também trabalhava com redes sociais, algo muito importante e que lhe ajuda durante o processo seletivo na qual esta participando.

- Toc toc. - bato na porta.

Ele olha para mim como se Deus tivesse me enviado nesse exato momento para sua casa. Ele chega ate mesmo respirar aliviado. 

- Malu, me ajuda! Como faço para aumentar meu alcance? - ele me puxa pela mão e me mostra o computador, muda de página e me mostra os resultados do seu reels. - Olha só isso, Malu. Vi no site da Enji Tecnologia que preciso de mais visualizações, mais seguidores, quanto mais melhor para mim. 

- Vou montar uma estratégia para você, mas nao vim aqui conversar sobre isso. 

Ele me olha com expressão cansada. Sabia o que eu queria, então ele puxa o ar e parece se preparar para uma guerra.

De fato esse é um assunto delicado. Nos machuca tanto, mas não posso deixar Felipe sair da minha vida. Eu errei, sabia que estava errando e talvez eu esteja sendo egoísta, mas eu não sei viver sem Felipe.

- Bianca já me explicou tudo.

- O que ela disse? Não sabe de nada. - sento em sua cama de casal  macia. - Olha, eu conheci Carlos pouco tempo depois de ter entrado na faculdade. Na época as coisas la em casa não iam bem, deviamos ate para o seu pai e ate nossa casa estavamos prestes a perder. Os juros do banco estavam altos demais e lutamos muito para não tomarem nossa casa antes. Carlos me surpreendeu quando começou a me dar dinheiro, de primeira fiquei ofendida, não queria o dinheiro dele.

- Claro. - ele dá uma risada estranha, contém muito deboche. Ele passa a mão nos cachos embolados no cabelo, está nervoso. 

- Mas ele insistiu, aceitei. Minha vida começou a mudar Felipe, algumas das dividas que mamãe tinha paguei, as dividas de casa paguei, o financiamento e os juros do banco paguei tambem. Paguei seu pai, a faculdade, meu material escolar, cursos extracurriculares, melhorei meu conteudo nas redes sociais... Felipe saímos daquela pitimba. 

- Mas demorou cinco anos?

- Quase isso. 

- Ah, Malu para. Todo mundo aqui falava sobre a vida de vocês terem mudado muito rápido! Até as roupas que você usava em pouco tempo mudou, não levou cinco anos. Você continuou com ele, mesmo estando comigo ou por puro interesse ou porque gostava dele e te conhecendo, sei que gostava dele sim, nem que fosse um pouco. 

- Felipe me entenda...

- E mesmo Malu que se fosse apenas por interesse, você nunca precisou disso. Se vender desse jeito! - ele levanta da cadeira preta de rodinhas próximo ao computador e fecha a porta de seu quarto. Volta impaciente. 

- Nunca Felipe? Você nao sabe o que é passar por necessidades, o que é ouvir sua mãe chorar de madrugada triste, preocupada. Quantas vezes eu vi ela e Raul deixarem de comer para que eu e Thales comessemos? Quantas vezes eu vi mamãe dormir sem janta? É triste, Lipe. Muito triste. Você não sabe como é isso. Meu pai foi um canalha, fudeu com todos nós e eu me arrependo muito da epoca em que fiquei brava com mamãe por ele ter ido embora. Houve bons momentos sim na minha infância e adolescência, mas tudo sempre foi muito sofrido. Eu vou dar uma vida digna para mamae. Hoje em dia eu pago as contas de casa para ela poder pagar e aprimorar o salão tranquila. Ver ela sorrindo, colocando uma mesa posta como sempre sonhou é tudo para mim. 

- Você teria conseguido isso tudo sem precisar de um homem.

- Talvez, mas daqui uns dez anos talvez? Eu não queria esperar chegar ate os 30 para conseguir algo. Aos 30 vou estar em outro patamar.