Sou acordada pela campainha tocando incessantemente. Devo ter dormindo no máximo uns trinta minutos antes de ser incomodada.

Inferno.

Meu celular também começa a tocar sem parar, era mamãe. Sem muitas escolhas, sou obrigada a levantar e abrir a merda da porta.

Como o esperado, minha mãe entra seguida de Haroldo, Raul, Thales, Elise e surpreendentemente, meu pai.

Eles ficam em pé na sala vazia. Mamãe parecia estar furiosa, seu namorado perdido, Thales entristecido e Raul puto. Papai como sempre, parecia alheio.

As vezes me pergunto se papai é normal ou se todos os pais são assim mesmo. Não parecem amar seus filhos, apenas gostar e gostar é gostar. Eu gosto de sorvete. Talvez as mães amam seus filhos por se dedicar a mais a eles, então por ter perdido tanto tempo, tem um apego, um cuidado e um carinho a mais.

Talvez essa coisa de amor não exista.

Mas existe cachorro e cachorros te amam, mesmo que você não faça nada por eles.

- O que esta fazendo? Bianca e Felipe fizeram um chá revelação lindo para você e é assim que agradece? Brigando com Felipe e indo embora da festa.

Esfrego os olhos com sono e uma imensa vontade de fazer xixi. Parece que a cada dia que passa, sou a maior Maria mijona do mundo.

- Não começa. Eu não pedi nada!

- Você é tao ingrata minha filha. O que faltou para você? Eu trabalhei tanto para criar vocês, dei amor, meu tempo, atenção, carinho...

- Deu porque quis, mamãe. Papai não quis, não deu. Para de encher o saco! - vejo Papai encolher. Talvez envergonhado ou chateado. Papai é o tipo de pessoa que parece estar bem, mas se você o enxergar por mais de um minuto, verá que está no fundo do poço. - Eu não tenho culpa pelas frustrações alheias. As pessoas fazem o que elas querem, e tudo bem. Mas não é porque você fez X que eu tenho que reagir Y. Eu posso ser uma letra do alfabeto que não faça parte de uma equação matemática. Tipo, eu posso ser K. Me deixa ser a porra de um K e reagir como um K reage.

- Como um K reage? - Thales pergunta curioso. Elise tentando esconder um sorrisinho. Ela sempre adorou uma treta, desde que não esteja envolvida e não a culpa, eu também gosto de circo. É por isso que minha vida é um.

- Eu não sei Thales, eu não posso ser um K. Tá errado ser um K. Tenho de ser o Y ou no máximo um Z, até ser um número. E que seja um número, um resultado, positivo, porque quem é que gosta do negativo? - questiono, mas todos ficam quietos. - Pse. Ninguém!

- Você está magoando a nossa mãe, Maria. - Raul intervém. - Você poderia ter dado o seu show em outra hora e apreciar o momento em família, entre os amigos e celebrarmos juntos a vida, uma nova vida. Mas você complica tudo, sempre. Você é assim toda doida, porque minha irmã? O que passa? - Raul muito embora enérgico parecia preocupado comigo. Eu sempre tive um carinho muito grande por ele e gratidão também. Raul merece o mundo.

Papai se põe a frente. Antes atrás de todos, meio escondido. Ele se aproxima de mim. O olhar piedoso e de compreensão, em uma das suas ondas doidas e palavras filosóficas, talvez o grande problema de Papai seja saber e sentir demais.

- Vá descansar, minha filha. Você nao esta bem! Mas descobra uma forma de não enlouquecer. Você pode ser K ou Y ou o alfabeto todo, nunca estará bom. - ele diz frustrado.

- O que merda está dizendo? - mamãe pergunta.

- Maura, pare de drama. Você passa sua vida manipulando os outros com esses dramas baratos. - Papai pedi impaciente. - Maria está com a razão. Ninguém perguntou com ela esta, não de verdade. Estão mais preocupados em apontar o dedo do que ter a delicadeza de acolher.

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