As vezes parece que gosto apenas de brincar dessa coisa, de perder ou não. De colocar a prova o meu controle sobre o outro.

As vezes eu ame justamente isso, o controle.

Eu gosto de mandar Felipe ir para ve-lo voltar, mas quando o vejo com alguém meu mundo desmorona.

É como se eu também gostasse de me machucar.

O quanto a vida do outro pode me afetar? O quanto Felipe pode me afetar? O quanto de controle temos sob um ao outro?

Eu sempre quero provar.

Eu sempre quero sangrar.

- Oi. - respondo encarando Penélope. Ao lado dela um menino de uns quatro anos. O menino está quieto, tímido, olhando assim dá pra se pensar que se trata de uma criança comportada e  tranquila. Entretanto, estamos falando de criança. - O que fazem aqui?

- Eu vim ver como você esta e se está precisando de algo. - ele respira fundo e faz uma cara fofa como quem está sentindo o melhor dos cheiros. - Uau, você fez escondidinho de mandioca. - ele olha para travessa com os olhos até brilhando. - Pepi, a comida da Maria é uma delícia.

Então Felipe simplesmente termina de entrar na minha cozinha deixando Penélope perdida na sala olhando o homem abrir minha geladeira e fiscalizar todos os potes.

- O que é isso, Maria? - ele abre um pote e cheira. - Tá bom, Luisa. Joga isso fora. - ele simplesmente joga o resto do meu risoto fora e pega outro pote. - Hmmm, doce de leite. Me dá um pouco. Você quer Davi?

Ele oferece para o menino e vejo Penélope morrer de vergonha ali mesmo.

- Aí,  Pepi. - falo o apelido com desdém. - Não se acanhe, vamos entra. Senta na cadeira ali e se o menino quiser o doce, não tem problema.

- Não obrigada.

- Tudo bem se você não quer. Davi deve querer.

- Não, ele também não quer. - ela se apressa a dizer.

Felipe que estava com a cara na minha geladeira olha estático para mulher. Davi continua amoado grudado na mãe, estava claramente assustado.

- Você nao pode falar se ele quer ou não. Ele tem boca. - eu respondo impaciente. Francamente, já basta essa mulher ter vindo na minha casa e agora não deixa o menino comer. - O que foi? Tá achando que vou envenenar uma criança?

- Não é isso. É que...

- Qual foi hein!? Você veio fazer o que na minha casa? Veio ofender as coisas que tem na minha geladeira? - pergunto ja alterada. - Por acaso a comida da minha casa não é digna para seu filho que ele não pode comer um doce??

Sinto o toque de Felipe em meu braço. Ele está atrás de mim. Só a simples aproximação e o toque me faz derreter.

- Calma, Malu! Eu passei aqui rapidinho para ver como as coisas estão e pedi para Pepi entrar comigo.- ele explica me virando para ele. - Penélope só está sem jeito, não queria entrar.

- E porque ela não queria entrar? Minha casa não é digna dela também?

- É porque eu não fui convidada e você é assim. - ela resolve responder impaciente com a situação.

- Exatamente, não foi convidada e tá aqui porque? Pra desfazer da minha casa? Do meu doce de leite?

Eu não sei explicar por quais motivos, mas simplesmente me senti atacada por Penélope e sua timidez.
Já não basta a mulher vir na minha casa sem ser convidada, vai proibir o filho de comer aqui?

Me EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora