Ok, eu sei que devia uma conversa com Felipe, mas venho enrolando isso há um tempo e evitando o homem a todo custo, o que está lhe causando uma leve irritação.
Apesar de eu ter um bebê na barriga dele, coisa que ele não pôde comprovar, visto que neguei sua paternidade, o corpo ainda é meu. Apenas o informei de estar tomando os remédios corretamente e indo ao médico quando necessários, os dias dos exames e consultas lá. Para ele basta saber que o bebê está bem.
Eu não quero Felipe por perto, não agora. Ainda estou magoada por ele ter defendido Sofia por um tempo. Esse sentimento de ser a segunda opção, terceira opção ou sei lá o que não sai da minha cabeça e quando uma pessoa que você te gere esse tipo de sentimento, dói mais ainda.
Ele preferiu aquela magrela seca à vida do próprio filho, depois vem questionar dizendo precisar conversar sobre a criança que nem nasceu ainda. Poupe-me.
Se a vida quis me castigar ela está de parabéns, castigo concluído com sucesso.
Saio do meu quarto dando de cara com Elise fazendo um misto quente para ela na cozinha. Abro a geladeira e pego um iogurte natural, morando, kiwi e depois no armário lego uma farinha de aveia.
- Bom dia, boneca. - a cumprimento. Ela e meu irmão está aqui em casa há umas duas semanas já. Colocaram o armário e o fogão já adquirido na minha sala vazia. E no quarto os móveis dele.
Fico feliz em ver meu irmão, tão novo, crescendo assim. Ok que não sou tao mais velha, mas mesmo assim.
- Bom dia. - cumprimenta feliz. - Como está hoje? E o pé?
- Já nem dói, menina. Está tudo uma maravilha! - sento a mesa depois de fazer a mistura e colocar a primeira colher do meu café da manhã na boca. Meu estômago embrulha, mas tento ignorar. - Hm, esses enjoos nunca passa. E eu amo iogurte assim com um pouco de fruta e farinha de aveia. Tá um saco isso. - reclamo.
- Acho tudo essa sua alimentação saudável. Como adquiriu?
- Ah, minha mãe. - dou de ombros. - Ela fez todo o trabalho. Pode reparar que até o Thales come umas comida meio saudável assim.
- É de fato, ele não é de comer besteiras. - responde se sentando a minha frente. - Vocês tem várias manias da sua mãe, não é! - ela afirma com um olhar meio triste.
Elise sentia falta de ter uma mãe de verdade. De ter esse carinho, esse cuidado, esse afeto. Ela se sente muito sozinha, como se o mundo tivesse desabando e ela tendo de segurar, é visível. Apesar de estar morando comigo, poder comer bem e dormir de forma segura, a menina ainda continua triste. E como poderia? Como ela poderia sorrir de orelha a orelha com a mãe drogada, em qualquer lugar da cidade.
Como ela poderia sorrir de verdade, até os olhos, se ela nunca recebeu um elogio de sua mãe. Há coisas que nao vão embora assim, há coisas que nos consume. Há monstros que nos engole.
- Minha mãe saiu de casa. Deixou tudo aberto e abandonado. Pensei em pegar alguns cacos de coisa que tem lá antes que ela termine de vender. Poderá ajudar Thales.
- Você quem sabe. Se for importante para você, vá em frente.
- Eu estou tão cansada. - ela suspira. - Acho melhor deixar seu irmão em paz. Minha mãe sempre vai ser um fardo, sabe? Agora ela foi embora, mas depois ela volta. Eu já estou acostumada, sabe!? Quando ela voltar não vou conseguir deixar ela desamparada, acho que Thales não está preparado para isso. Eu mesma nunca estive.
Sinto meu peito pesar. A tristeza carregada na voz, no olhar, no arquétipo dessa garota é de quebrar o coração. Muito embora agora as unhas estejam lindas com um alongamento, mesmo que o cabelo esteja bonito com uma outra trança box com jumbo, as sobrancelhas maravilhosas, a pele bem cuidada e bem vestida, ainda assim é notável.
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Me Espera
ChickLitO meu maior sonho, com certeza é, ter a vida digna que mereço e para isso sempre corri atrás, achava que qualquer preço poderia pagar, mas não é bem assim. Como no mercado, há sempre aquele produto que você não pode levar, na loja sempre tem aquela...