O choro estridente de Agnes me acorda, a pego no colo e tiro de dentro do quarto ao perceber que Felipe estava dormindo ao lado, na certa acordará também se já não estiver e fingir que está dormindo. Mesmo assim, tiro a criança do quarto a levando para a cozinha. Sento na cadeira e a coloco para mamar no peito, como boa esfomeada ela começa a mamar e para de chorar.
Depois sigo com a rotina dela pela manhã, coisa simples como a trocar e dar a ela algum brinquedo para a distrair. A deixo no chão da sala com uns brinquedos que ela tem aqui nessa casa. Felipe comprou uns dois mordedores e dois chocalhos para filha. Enquanto ela estava distraída no sofá em volta dos brinquedos, comecei a arrumar minhas coisas decidida a ir embora, já farta dessa situação. De viver isso. Eu tenho que mudar, não posso passar minha vida assim.
Não posso me fechar para a vida, para o mundo e as possibilidades esperando por Felipe. Isso não, se ele não me quer, tudo bem! Não permitiria que alguém que escolheu viveu sem mim me impressa de viver.
Quando termino de arrumar minhas coisas, pronta para pegar Agnes e ir embora, sinto Felipe tocar em mim, me segurando pelo braço. Olho para ele, seu rosto. Estava extremamente cansado, com sono, os olhos um tanto marejados, ombros caídos. Via ali um homem destruído.
- Não vai. - sua voz sai muito baixa e o fedor da cachaça dá para sentir de longe.
- E ficar para cá? Se quando o assunto é sobre como ficaremos, saímos magoados? Me deixe ir. Quero descansar.
- Por favor! - ele me puxa para si, ficando assim pouco centímetros dele. - Por favor, Maria!
- Me deixe Felipe. - peço me sentindo tonta e fadigada. - Se voce não me quer, me deixa.
- Eu não posso. - ele confessa, mas eu queria muito mais. Queria que ele me dissesse com todas as palavras que eu estava errado, que ele me quer. Mas saber apenas que ele não quer que eu vá, não é garantia nenhuma de seus sentimentos.
Na verdade digo mais, de seus sentimentos tenho certeza, mas o que não tenho é sobre suas decisões. Quero sentir segurança de suas decisões. Quero saber se ele vai me escolher e ficar.
Amor apenas não basta.
Podemos amar e partir. Tal como farei agora, eu vou querendo ficar.
Eu vou mesmo sabendo o que é amar.
Eu vou o amando.
- Eu também não posso ficar! Não posso parar. Tenho uma vida para viver e uma filha para criar. Acho que não tenho como te esperar mais, Felipe.
Para minha completa e total decepção ele apenas solta meu braço me deixando livre.
- Escolhe. - determina. - Porque eu também estive esperando.
- Hoje, por hoje estou indo embora, preciso descansar. - olho para Agnes no sofá já começando a ficar irritada por ter ficado mais tempo do que gostaria deitada. - Eu tenho uma filha para cuidar agora. Não tenho mais expediente para joguinhos e inseguranças.
- Fica comigo só um pouquinho, apenas mais um pouquinho. Por favor! - ele saí da minha frente e pega Agnes que começa a melhorar seu humor. - Tá vendo? Agnes quer ficar com o pai. Vem, vamos ficar nós três.
Ele simplesmente volta para o quarto com a filha ao lado. Me jogo no sofá e começo a chorar enquanto escuto as gargalhadas de minha filha vindo de outro cômodo. Mal começo com meu luxo de chorar meu celular já toca, era Bianca.
- Oi. - atendo sem conseguir disfarçar o fato de que estou chorando.
- O que aconteceu? Porque tá chorando? - ela já questiona preocupada.
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Me Espera
Literatura FemininaO meu maior sonho, com certeza é, ter a vida digna que mereço e para isso sempre corri atrás, achava que qualquer preço poderia pagar, mas não é bem assim. Como no mercado, há sempre aquele produto que você não pode levar, na loja sempre tem aquela...