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"gostaria que minha poesia fosse passatempo gostaria que minhas crises fossem como vento que passassem sem perceber
gostaria que as almas impossíveis entendessem o que é viver sem causar o desespero no meu ser
gostaria que meus sentimentos voltassem na hora que eu mais preciso mas quando eu percebo, nada mais eu sinto
gostaria de ficar sozinha nessa chuva de raiva que cai sobre mim pelo menos eu poderia refletir, até assim
gostaria de um propósito gostaria de algo pelo o que morrer e não pelo o que viver
gostaria de conseguir chorar na frente dos que ousam me controlar gostaria de poder mostrar quem está por trás da suposta alma má."
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SUSPIRO ABORRECIDA ENQUANTO Rafael passa um pano com gelo no meu rosto. Viemos pra casa dele e discutimos bastante no caminho. Já consigo sentir o efeito do álcool — e da ressaca — na minha cabeça.
— Que foi? — pergunto ao vê-lo dar um pequeno sorriso e olhar pra baixo.
— Só tô lembrando daquela vez que você foi no meu quarto e me viu passar isso na cara. — ele diz, sua voz suave. — Acho que foi o abraço mais aconchegante que já recebi. Por mais que eu tivesse bravo na hora. Enfim, é besteira. — ele conclui ao notar meu silêncio. — Você levou uma pancada e tanto, ferinha raivosa.
Eu devia pedir desculpas?
— É. — isso é tudo o que sai da minha boca.
— Já tá meio tarde...Você sabe que horas a Rayane dorme? — ele olha o horário no celular.
— Não sei. — dou de ombros.
— Melhor você dormir aqui, ou ela vai ficar preocupada. Vou mandar uma mensagem avisando. — ele digita algo rapidamente e deixa o aparelho de lado em seguida, depois volta à me olhar.
O loiro respira fundo, com uma expressão ansiosa.
— Não tô com sono. — viro a cara, não quero que ele saiba o que estou pensando.
— É, mas tá fedendo. Bastante. — ele brinca. — Vem, vamo tomar um banho. — Rafael estende sua mão e eu hesito um pouco. — Ou você toma sozinha e eu te espero. — ele modifica a frase.
Ele põe uma toalha limpa pra mim no banheiro e um tempinho depois eu vou até lá. Ligo a água quente e tomo um banho consideravelmente rápido. Me enrolo na toalha e abro a porta. Paro no meio do corredor e vejo ele sair do quarto.
— Onde eu me visto? — pergunto num tom sério.
— No meu quarto. Eu deixei uma roupa minha na cama porque a sua tá suja. Vai ficar folgada, mas se você quiser te dou outra. — ele explica e eu afirmo com a cabeça que por mim tudo bem.
Entro no quarto e fecho a porta. Me aproximo da cama e vejo uma blusa azul de manga comprida e uma calça de moletom cinza. Abro o armário dele e passo um de seus desodorantes. Depois de vestida, me olho no espelho e desfaço meu coque, vendo meu cabelo cair nos ombros todo embolado.
Vou até a sala e paro ao ver ele sentado no sofá. Quando ele me vê, levanta e vem até mim.
— Pode me dar. — ele pega delicadamente a toalha da minha mão.
Me sento no sofá e me encolho, esperando ele. A televisão tá ligada e passa um programa tosco. Em pouco tempo ele volta com um pente e se senta do meu lado.
— Vai me deixar pentear seu cabelo ou não? — ele diz, me provocando mas de um jeito protetor.
— Eu tenho mão, Rafael. — respondo.
— Eu também. — ele franze a testa. — Vai, Cíntia, não seja rabugenta.
Isso me fez lembrar do que ele disse mais cedo, sobre eu estar parecendo minha mãe. Sinto uma dor no coração mas deixo ele me pentear. Ele se aproxima e desembaraça meus nós com delicadeza, fazendo pequenas cócegas e me deixando um pouco relaxada, à ponto de fechar os olhos.
Depois disso ele coloca o pente no móvel da sala e volta à se sentar. Olho pra sua sacada de cara fechada e ouço a respiração dele.
— Você me odeia, né açaí? — ele pergunta a última coisa que eu imaginei que me perguntaria na vida.
— Não. — respondo em desespero, olhando nos seus olhos. — Meu problema é comigo mesma.
— Esse seu silêncio tá me matando. Juro. Por que você não fala mais com ninguém? — ele se aproxima me encarando cada vez mais profundamente.
— Eu...não sei. — algo me bloqueia, impedindo que eu diga a verdade, que nem eu mesma sei direito qual é. — Mas eu não quero que você se afaste, Rafa. Isso seria o fim pra mim. Eu perderia tudo.
— Eu não vou me afastar. Nunca mais. — ele encosta nossos narizes e faz carinho no meu rosto.
— Mas você já fez isso antes. Ficamos anos sem nos falar. Você só voltou por causa da doença da minha mãe.
— Não, Cíntia. Nesse tempo que passamos longe, eu pensei em você todo dia. Tentei me envolver com outras pessoas, tentei aceitar a realidade, mas não dava. Você é a única que eu amei, e provavelmente a única que vou amar. — seus olhos azuis brilham.
— Me desculpa. Desculpa por tudo. Eu não devia ter terminado com você. Me perdoa, por favor. — não resisto à minha vontade de tê-lo comigo e ponho minhas mãos em seu rosto.
— Você fez o que achou certo na hora. Mas agora eu tô aqui. Nós estamos. E eu vou cuidar de você. — ele beija o canto do meu rosto e eu o abraço.
Passamos longos minutos agarrados, sem dizer nada. Quando nossos corpos se separam, eu faço questão de juntar nossas bocas num beijo quente e lento. Ele põe a mão na minha nuca e me puxa contra ele.